Capítulo 39

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Miami - Residência Moreira - poucos dias depois

Não tinha um dia em que Aline não comparecia a construção fúnebre erguida em sua memória e a de seus pais. Ouvir histórias sobre os dois de alguma forma a fez sentir mais próxima de quem ela sempre quis ser, mas parecia que não conseguiria. Alguém com identidade e um passado, oque ao pensar que era adotada lhe tirou.

É claro que sua história com os Pereira preencheu parte desse vazio que ela sentia, mas saber de sua origem lhe trouxe um pouco de uma sensação que ela pensava que tinha perdido. Complicado de se explicar, mas para ela se sentar ali perto das lápides e conversar com os dois, acometia uma serenidade à sua alma. Que aos poucos foi lhe confortando e colocando seus pensamentos nos eixos.

Aquele dia era especial pra ela, que enfim se via disposta a ouvir e entender Marília, assim como saber mais sobre esse lado oculto de sua vida. A loira era quem mais sabia sobre seu passado e ela queria encerrar aquele ciclo para poder começar outro. Nada melhor do que colocar todas as cartas na mesa. Por isso ela decidiu que voltaria para Nova York em breve e tentaria ter um conversa civilizada com a irmã mais velha.

Se levantou do chão de mármore preto e espanou o shorts jeans que usava. Deu uma última olhada para as duas lápides, sendo observada por Gustavo, que tinha encontrado ela á alguns minutos e esperou ali no canto enquanto Aline fazia seu adquirido ritual diário.

Os dois não estavam se falando, por conta das ações de Gustavo, que não seriam perdoadas tão cedo pela adolescente. Mas ele insistia em impor sua presença ao redor dela, pois se sentia muito culpado apenas pelo oque lhe causou, oque a afastou dele. Os primeiros dias foram difíceis, mas ela já permitia a aproximação dele, mesmo que não houvesse diálogo. Por enquanto.

- Oque você quer? - ela pergunta sem emoção na voz, quando o viu se levantar a sua menção de deixar o local.

- Nada, é que vovô disse que vai tirar a sua lápide amanhã. Achei que você gostaria de saber... - ele levou as mãos pra trás de si.

- Não. Eu quero que ela fique aonde está.

Disse categórica, deixando o lugar e começando a andar pela grama daquela parte da propriedade. Gustavo se endireitou pelo tom empregado pela irmã, que sempre foi tão "doce" consigo. Mesmo assim, tentando acompanhar seus passos de modo apressado, ele a seguiu.

- Mas... ele só mandou fazer ela porque pensou que tinha te perdido para o incêndio. E além do mais, é um pouco deprimente ficar olhando pra aquilo sabendo que você está viva, não acha? - ela o olhou por cima do ombro o calando e fazendo ele se encolher e se arrepender de ter dito - desculpa...

- Essa sepultura tem um significado diferente pra mim.... - falou voltando a olhar pra frente - eu posso não estar enterrada ali embaixo, mas o passado que eu poderia ter tido com minha família de verdade está ali.

- Você ainda tem a gente, Ali... - Gustavo alcançou os passos dela e andou ao seu lado, olhando o seu perfil ao falar - Marília, vovô, vovó, eu... Mira e as garotas. Nós estamos aqui e somos sua família pra sempre. Nada pode mudar isso.

- Toda a vez que eu olho para aquela pedra Gustavo, eu penso no sacrifício que eles fizeram por nós três. E de alguma forma eu sinto nossos pais ao meu lado.

Aline não falou mais nada, continuou a andar e foi bem na frente, enquanto seu irmão ia atrás queimando os neurônios tentando pensar em alguma forma de reverter aquela situação dos dois. A verdade era que ele podia demonstrar que não se importava com a opinião de ninguém, que fazia aquilo que lhe desse na telha. Mas descobriu que sua hesitação aparecia somente com duas pessoas na sua vida.

Firebird -  Fogo que Cura - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora