Pov. Adrien
Na tarde da sexta-feira passada, depois das aulas, foi a primeira vez que consegui disfarçar uma ordem do meu pai. Resistir à dor que percorre o meu corpo de cada vez que eu tento enfrentá-lo, à sensação dos meus nervos a colidirem e a rebentarem por debaixo da minha pele e apagar da minha cabeça todas as alucinações ameaçadoras que me deixam delirante.
Conseguir focar-me no presente, ignorar todas as vozes que me diziam para aniquilá-la. E o que vi...
A cara dela, coberta por lágrimas e sangue dos pequenos cortes gerados pelos cacos de vidros da janela quebrada para onde eu a atirei, influenciado por uma das visões do meu pai. Mas, ainda assim, não devia ter reagido daquela maneira quando caí em mim. Devia ter ido com mais calma, não prender-lhe as pernas e o pulso como um lunático, devia ter aproveitado aquele meu pique de coragem e bom senso para aí sim explicar tudo.
Mas não, deixei a oportunidade passar mais uma vez. E, honestamente, acho que ela não estava apta para me ouvir, pela forma assustada como me encarava.
Causei-lhe imenso pânico naquele dia, não causei? Arrependo-me disso, profundamente, acreditem ou não. Arrependo-me de tudo o que tenho feito nas últimas três semanas, quase quatro.
Quase um mês deste "trabalho" miserável. Céus...
E nem preciso dizer o quão fulo o meu pai ficou quando voltei para casa naquela noite.
Idiota! Inútil! Fracassado! Desobediente! Monstro! Assassino!
Empurrou-me e fez-me cair um par de vezes, agarrou-me a gola da camisola e abanou-me mais algumas e, quando saí do banho esta manhã, reparei no hematoma que desenha o meu joelho há quatro dias por causa de uma das quedas.
Nada de novo sob o sol, de qualquer forma.
Apesar de tudo, sinto um sorriso repuxar os meus lábios quando encontro a Marinette, a Alya e o Nino na porta da escola à minha espera.
Nestes últimos dias, nós formámos uma espécie de grupo que se resume em eu e a Marinette fazermos de vela porque a Alya está sempre a flertar e a provocar o Nino para ver se ele finalmente avança e pergunta se ela quer ir com ele ao cinema, algo que eu já lhe disse um milhão de vezes para fazer mas até agora nada.
- Se gostas assim tanto dela, pergunta-lhe e eu garanto que ela não vai recusar- disse-lhe eu uma vez e ele fez uma lista de motivos sobre os porquês de ser melhor não.
Então, todos os dias, eu e a Marinette ficamos expectantes para ver se algo acontece enquanto o Nino cora de cada vez que a Alya olha para ele.
Não estou a reclamar. Na verdade, estou a agradecer por ter estes pequenos momentos com eles. Adoro-os imenso.
Tenho medo que quanto mais tarde lhes contar a verdade, mais eles me odeiem depois.
- Então, mano- o Nino diz e dá-me um soco leve no braço.
Eu sorrio e puxo-o para um abraço apertado, com direito a algumas palminhas nas costas e depois faço o mesmo com a Alya.
- Bom dia, Alya- digo quando nos separamos e depois passo os meus braços pelos ombros da Marinette que abraça a minha cintura pela nossa diferença de alturas.
- Estás bem?- ela pergunta contra o meu ombro e eu sorrio contra o cabelo dela.
Desde o dia em que lhe dei o meu número de telefone, todas as manhãs, sem exceção, pergunta-me como estou, quer seja por mensagem ou pessoalmente.
Detesto causar-lhe preocupação mas adoro como me sinto seguro e bem perto dela.
Perto de todos, na verdade. Mas especialmente perto dela.
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O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]
FanficEle cometeu um erro. Um grande, GRANDE erro. E ela estava perdida. Confusa. Sem rumo. Ele era um monstro. Ela era uma joaninha. E os dois estavam desfeitos por dentro. (AU - Universo Alternativo) ⚠️⚠️⚠️ Esta história contém cenas de violência e abor...