O paraíso é...rosa?

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Pov. Adrien

Honestamente, achei que morrer era pior.

Achava que, quando morremos, íamos para um breu escuro onde ficávamos o resto da suposta eternidade a olhar para o nada num lugar desconhecido. Um lugar onde tudo não passa de uma dormência bizarra e onde nós temos de nos habituar a não entender mais nada.

E estou a sentir mais ou menos isso agora.

Só que a sensação de dormência...pois, essa faltou. E sinto-me um pouco desapontado em conseguir sentir tudo ainda. A leve dor que me percorre o corpo como o sangue percorre as veias, o calor reconfortante e macio que me cobre. A única coisa minimamente dormente que sinto é o meu braço esquerdo mas tenho quase total certeza de que morri deitado sobre ele.

Estou em paz, há silêncio. Pela primeira vez em semanas há silêncio.

E não me lembrava de isso ser tão bom. Sem berros, sem desespero, sem...nada. Nem coisas boas, nem coisas más.

É um bom balanço no pós-vida.

E, céus... há quanto tempo é que o meu coração não batia assim tão calmamente? E há quanto...

Espera lá, eu consigo sentir o coração a bater-me no peito. E há ar limpo a entrar pelas minhas narinas e a encher-me os pulmões...

Oh...ok?

Eu estou vivo.

De repente, é como se os meus sentidos acordassem finalmente. Não estou em completo silêncio, há um som de chuva lá fora. E sinto um cheiro espalhado por toda a parte, um cheiro muito parecido àquele perfume para o qual fiz publicidade há uns anos. Há um sabor de areia na minha boca de tão seca que ela está. E sim, o meu braço está dormente mas eu ainda estou deitado em cima dele.

Raios, eu estou mesmo vivo.

Mas tenho de fazer demasiada força para obrigar as minhas pálpebras pegajosas a abrirem e demoro o meu tempo a focar a vista e perceber que...

O paraíso é...rosa?

Não, não estou no paraíso.

Não estou num paraíso porque não morri, e porque...eu conheço este lugar.

Estou num quarto, um quarto rosa e familiar. Está ali a cadeira onde me sentei quando cá vim e está ali a outra cadeira onde ela...

De repente, já não gosto de como o meu coração bate acelerado. Não gosto do suor que transborda dos meus poros, não gosto de como o ar se perde no meio do trajeto até aos meus pulmões.

Esta continua a ser a vida real. Eu ainda tenho a capacidade de pensar e de me perguntar:

Porque é que estou aqui? Como é que vim parar aqui?

Apoio as mãos no colchão da coisa macia onde estou deitado e faço esforço para me sentar. As minhas costas doem e eu mordo o lábio inferior para engolir o som que tenta subir pela minha garganta.

Assim que estou sentado, reparo que, em primeiro lugar, sim, estou no quarto da Marinette. E estou sentado no divã dela.

E, em segundo lugar...estou sem camisa. O que não faz grande diferença porque o meu peito está coberto por ligaduras brancas, há apenas uma mancha quase inexistente de vermelho em cima do lugar onde fiz o corte com a pedra. E há mais ligaduras e pensos espalhados pelos meus braços e pelas minhas pernas, por baixo das calças cinzentas que usei esta manhã, e sinto mais um penso pequeno colado no canto do meu olho.

Alguém cuidou de mim, cuidou muito bem de mim. E tirou-me o meu miraculous, que é uma das minhas menores preocupações neste momento.

Mas porque é que raios me deixou deitado no divã do quarto da Marinette?

O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora