Cereais e marshmallows de unicórnio

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Pov. Adrien

Acordo com algo macio a cobrir-me o nariz, algo que faz um pouquinho de comichão mas não me importo muito. Até gosto, acho eu.

Mexo-me um pouco para a frente, tentado perceber o que isto é e uma reclamação baixinha murmura à minha frente.

O som faz-me abrir os olhos mas tudo o que vejo são fios negros azulados, por isso afasto um pouco a cara, apenas o suficiente para perceber o que se passa à minha volta. Pelas janelas, vejo que o céus está nublado mas o sol que brilha por trás das nuvens denuncia que já são altas horas da manhã. Pisco os olhos mais um par de vezes e volto a olhar em frente, um sorriso idiota forma-se no meu rosto.

Quer dizer, sendo bem honesto, receio ter dormido com esse sorriso.

Lembro-me de sentir a Marinette mexer-se bastante durante a noite mas não me lembrava de ela se ter virado de costas para mim, muito menos de eu ter esticado o braço para o deixar pousado preguiçosamente sobre as costelas dela, quase pendurado na dobra entre as duas pontas do sofá. O que significa que estamos numa posição estranha que devia ser desconfortável, e eu devia estar com o braço dorido mas...pois, não.

E a Marinette continua a dormir profundamente, com a respiração calma e profunda, um pouco sonora. Mas eu já estou acordado o suficiente para saber que não vou conseguir adormecer outra vez, pelo menos não com facilidade e não quero arriscar acordá-la, especialmente depois de ontem.

O meu sorriso desvanece e um arrepio forte desce pela minha espinha quando penso nisso.

Ela a chorar, a dizer todas as coisas horríveis que disse. Depois a pedir desculpa porque não queria dizer aquilo, e eu sei que não queria.

Nós vamos derrotar o Hawk Moth. E...eu prometo que ele nunca mais te vai magoar...

Ela está tão preocupada. Tão cuidadosa comigo e...

Eu devia contar-lhe tudo o que sei. Devia dizer-lhe que o Hawk Moth é o meu pai mas...

Não consigo. Porque ainda tenho medo dele.

Tenho medo de voltar a casa, da reação dele ao ver-me depois de tudo. E sei que, se lhe contar, podemos fazer alguma coisa. Eu posso evitar essa volta a casa, posso ser finalmente livre. A Marinette pode ter o seu descanso.

Mas e depois?

E, quando ele for derrotado, para onde é que eu vou? Para onde vai a Nathalie, o meu motorista? Como vai reagir a mídia? O que vai acontecer à Marinette?

Entendo que, mais cedo ou mais tarde, eu vou ter de contar à Marinette ou ela vai descobrir sozinha, e sei que é inteligente mais do que o suficiente para isso. Mas, até lá, eu preciso de criar um plano na minha cabeça para o futuro.

É claro que perdi mil preocupações quando enfrentei o meu pai ontem na Torre Eiffel, mas com isso, mais mil preocupações surgiram.

Tudo o que aconteceu ontem à noite...não devia ter acontecido. Foi uma situação gerada a partir do meu desespero. Não que eu me arrependa de ter me libertado do akuma, obviamente, mas...as coisas também não estão mais fáceis agora.

Suspiro contra a nuca dela e tiro o braço de cima das suas costelas, o que faz com que ela estremeça com um arrepio e se envolva mais com o cobertor, apesar de este estar praticamente a cair do sofá.

Caminho na ponta dos pés até à cozinha, mesmo com o corpo levemente dorido, e passo a próxima meia hora inteira à procura de coisas para fazer o pequeno-almoço.

Uma caixa de cereais em forma de anéis coloridos com marshmallows de unicórnio foi o melhor que arranjei, isso e duas tigelas decoradas com padrões chineses pintados a azul e leite de amêndoas.

O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora