A impermeabilidade das escamas dos peixes-papagaio e mensagens de boa noite

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Pov. Adrien

Tenho uma nódoa negra no estômago e ainda tenho um pouco de sangue seco no lábio quando o sol nasce no dia seguinte. E a minha cabeça ainda anda à roda depois do discurso idiota que o meu pai fez assim que eu pisei em casa ontem à noite, depois do meu encontro com a Ladybug.

Chamou-me fraco. E inútil.

Berrou comigo, disse que eu sou uma aberração fracassada, e, assim que ele saiu, ponderei voltar para o telhado e dormir mais um pouco, apesar do frio que está lá fora. Talvez esperar para o caso de a Ladybug voltar e deixar-me falar com ela sem desabar como medricas choramingas.

Ladybug...

Não sei o que me deu quando a apertei e tentei arrancar-lhe os brincos. Aliás (para que é que eu estou a mentir?), sei bem o que se passou.

Gabriel Agreste, Hawk Moth ou seja lá como ele gosta de ser chamado. Foi isso que se passou.

Mais uma vez ele criou um universo novo na minha cabeça e convenceu-me que eu sou uma máquina que deve trabalhar para ele, magoar para ele. E eu acreditei nele outra vez.

Estraguei tudo. Tive a minha oportunidade de explicar tudo à Ladybug mas atirei-a ao lixo. E agora ela deve ter a certeza de que eu não passo de um monstro.

E não sei mais o que fazer. Não faço a menor ideia.

Ainda assim, vou para a escola no dia seguinte, a demanda do meu pai, que faz questão de deixar claro que só me deixa sair para não levantar suspeitas sobre a sua identidade secreta.

Honestamente não me importo muito em ir para a escola, gosto de estar com os outros, mais do que esperava gostar, mas não suporto mentir-lhes sobre absolutamente tudo e as caras infelizes deles causadas por um erro que eu cometi. E sei que se lhes tentar contar alguma coisa, como tentei fazer com a Ladybug, o meu pai trata disso, "trata" de mim.

Estou tramado. Resumidamente.

E não fico nem um pouco afetado quando chego atrasado à escola, num estado completamente vergonhoso, e a tal professora Mandeleiev faz um monólogo de cinco minutos inteiros sobre como o meu atraso vai afetar o meu futuro.

A cabeça já está cheia o suficiente. E nem sei se vou ter um futuro digno de se arruinar.

- Peço desculpa- digo baixinho e vou para o meu lugar ao lado do Nino. Falámos um pouco ontem e demo-nos bastante bem e acho que ele não se incomoda em me ter ao seu lado, até me oferece pacotes de bolachas por debaixo da mesa de vez em quando.

Algo que ele faz agora mesmo e eu aceito. Parto um canto de uma das bolachas e enfio o pedaço na boca, tentando fazer o mínimo de barulho ao mastigar (em minha defesa, sei que não o devia estar a fazer mas não tomei o pequeno-almoço) e guardo o resto na minha mochila para o intervalo.

Depois tento prestar atenção no que a Mandeleiev diz, algo relacionado a "física" e à "impermeabilidade das escamas dos peixes-papagaio" ou algo assim. Mas ela é interrompida pela porta a abrir e pela Marinette a entrar pela sala adentro a correr, até que ela cai mesmo à frente dos pés da mulher, gerando um arquejo surpreso que se espalha por toda a sala.

Levanto-me e ajudo a Marinette a levantar e a arrumar as coisas que caíram da sua mochila com a queda. Ela pega numa caneta e atira-a para o fundo da mochila e aí reparo que está a tremer.

Algo não está certo...

- Raios, desculpa, desculpe... Oh, não- diz ela várias vezes, alternando o olhar entre mim e a professora. Perece estar nervosa além de envergonhada e tem olheiras escuras debaixo dos olhos- Desculpa...

O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora