A melhor coisa que já me aconteceu

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Pov. Marinette

O idiota que inventou que banhos de banheira são relaxantes pode ir para o Inferno.

Aquela idiotice de porcelana estava no canto da casa de banho há anos sem ninguém a usar. E, aparentemente, por algum motivo foi.

Aquela coisa deve estar assombrada, e por um espírito que me deve abominar. E que aprecia ver a minha casa a ser esturricada.

Mas, paciência. Porque estou muito segura e muito chorosa quando me agarro aos meus pais quando eles reaparecem do meio da nuvem de joaninhas mágicas, no centro da nossa sala. Sinto-me como uma criança novamente quando encomendamos pizza e sentamo-nos para ver algum filme na televisão, a nostalgia toma conta de mim por um momento mas apanho-me a rir várias vezes ao longo do fim da tarde.

Sim, de vez em quando, sinto um arrepio percorrer a minha espinha e amortecer o meu alívio de os ter de volta com as memórias do que passei hoje. E do que todos os envolvidos nesta luta passaram. Desde o momento em que recebi a chamada de Chat até aos soluços da Lila quando ela se agarrou a mim com pânico, gratidão e necessidade.

Mas acho que os bons momentos falam mais alto, mesmo que um novo arrepio me percorra quando beijo a bochecha da minha mãe e a testa do meu pai quando eles vão dormir. Porque...bem, digamos que o ditado 'cada momento pode ser o último' ganhou um novo significado para mim, talvez.

Aproveito para roubar um macaron de uma taça no balcão da cozinha para dar à Tikki quando a porta do seu quarto se fecha, e não vou mentir, sinto-me grogue e mole, um pouco dorida ao subir as escadas para o meu. Mas já me senti pior. Mesmo muito, muito pio...

- Não...- oiço de repente.

A voz é fina, quase como um vácuo que ficou preso na garganta de alguém. A princípio, tenho dificuldade para perceber se é uma voz feminina ou masculina, tanto porque tenho a porta fechada a bloquear o som e pela voz estar trêmula, impossivelmente trêmula. E a voz rapidamente desvanece em sons arrepiantes do que quase parecem choros que tentam ser contidos, mas que falham miseravelmente. Sons que me parecem familiares mas que, ao mesmo tempo, não consigo reconhecer de onde.

Paro, como que paralisada. Com a Tikki ao meu lado, interrompida no meio de uma mordida enquanto olha para mim com os olhos azuis arregalados.

- Tikki...- sussurro, apontando a cabeça em direção à portinhola acima de nós num pedido silencioso- Por favor?

Ela acena antes de esvoaçar até à superfície de madeira, deixando-se atravessar a matéria até ao meu quarto. É cautelosa, age devagar mas, eventualmente, regressa.

Esperava tudo dela, menos que voltasse a pairar à minha frente a tremer. Como se estivesse genuinamente assustada com o que viu ao ponto de deixar o seu macaron escorregar das suas patas até cair no chão com um bater suave.

Os seus olhos estão ainda mais arregalados quando ela engole em seco e abana a cabeça, a sua voz quase como um aviso:

- Marinette...

Paro, olho para cima. As minhas mãos têm um leve tremor quando as ergo para empurrar a porta, como se algo no meu corpo me avisasse de que isto pode correr mal. De que o que está do outro lado da porta, dentro do meu quarto pudesse ser...

O Adrien. Deitado no chão, enrolado numa bola de tremores e choros engasgados. Ao seu lado, flutua Plagg que tenta acalmá-lo, enterrando-se no seu cabelo loiro. Mas nada parece consolá-lo.

Nada.

E não sei quando nem como, mas dou por mim a ajoelhar-me ao seu lado. E encontro o seu olhar a erguer-se para o meu por um milésimo de segundo antes de se atirar à minha volta com um choro quase que demasiado alto para estas horas da noite. Espero alguns segundos, a ver se os meus pais chamam do andar debaixo, invento uma desculpa esfarrapada em alguns segundos. E, quando começo a suspirar por não ter acordado ninguém, o Adrien solta o primeiro berro choroso contra o meu peito. Palavras incoerentes, altas.

O Monstro e a Joaninha | [MIRACULOUS AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora