Capítulo 23

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Roseanne Park

Quando cheguei em casa, já era noite. Kina já havia ido embora e Lisa, provavelmente estava dormindo.

Estava tudo tão silencioso e escuro, um escuro excessivo. Não sei porque a decoração, tem me perturbado tanto ultimamente. Era a parte que eu mais amava, e agora, me causava repulsa.

Demorei cerca de uns 10 minutos para tirar tudo do carro, mal me coube dentro dele no caminho até aqui. Estava cheio até o teto.

Espero que Lisa fique feliz. É o mínimo que posso esperar.

Fiz uma pequena oração e suspirei cansada antes de subir as escadas. Eu precisava de todas as forças do mundo para entrar nesse quarto e pedir desculpas.

Eu só preciso de um minuto. Um minuto para tomar coragem suficiente para conseguir entrar.

Passei cerca de 2 horas sentada no chão, tentando pensar no que fazer e em como pedir desculpas sem deixar meu semblante de dominadora cair. Peguei uma garrafa de vinho e bebi alguns goles rápidos antes. Na verdade, acredito que foi a garrafa toda porque eu só parei quando minha visão foi ficando turva e embaçada.

Foi só aí, que eu tomei coragem e entrei.

A luz estava apagada diferente dos outros dias que ela sempre deixava um abajur acesso, por conta do seu medinho de escuro, e nunca apagava, só pela manhã, quando acordava.

Caminhei devagar em direção a cama dela. Ela estava virada para mim, com a coberta cobrindo até os seus ombros, o rosto calmo e perfeito. Seu nariz vermelhinho indicava que ela havia chorado muito antes de dormir, e eu quis me bater por causa disso. O peito subia e descia bem devagar, com a respiração fraca por conta do estado sonolento.

Me deitei ao seu lado bem devagar, queria observá-la um pouco antes de acordá-la. Acabei sorrindo enquanto a ponta de meus dedos deslizavam por sua face lisa e limpa. Ela era tão perfeita que me surpreende.

Como alguém tão belo assim, existe?

Cada detalhe, cada traço bem definido e bem desenhado. Eu acredito que nunca irei me cansar de sua beleza extraordinária.

Em pensar, que a 24 horas atrás, estávamos aqui, neste mesmo lugar, na cama, no quarto dela, mas em outras circunstâncias e outra situação bem mais emocionante.

Queria poder voltar no tempo, para exatamente naquela momento e mudar tudo que aconteceu depois daquilo. Mudar meu jeito de reagir a maravilhosa notícia que ela me deu, e mudar a forma como tudo acabou. Em choros, e corações partidos.

Suspirei derrotada e me aproximei lentamente de seu rosto, não conseguindo a resistir a tentação de cuidar dela, de mostrar como eu me sinto em relação a ela, em como eu nunca deixei que outro alguém chegasse tão perto assim de mim, e de conhecer meus verdadeiros sentimentos.

Deixei um pequeno selar nos seus belos lábios que eu sinto vontade de ter sobre os meus a todo momento.

Lisa abriu os olhos e me encarou por longos minutos.

Era como se estivesse me batendo com o olhar. Um olhar triste e de decepção. Um olhar que eu não gostava de ver nela e que eu nunca vou me acostumar.

Nós encaramos por um longo minuto. Eu contei, porque não sabia o que fazer, além disso. E quando deram exatos 60 segundos ela se virou de costas para mim e cobriu-se até o pescoço.

Pensei em ir embora e deixar isso de lado, mas eu preciso consertar as coisas.

Com muita rapidez, para que ela não tenha tempo de me impedir, enfiei meus braços embaixo dos seus e juntei minhas mãos no seu peito a puxando para mim. Ela não me afastou, nem me impediu, simplesmente não fez nada.

— Eu sei que eu errei. Eu sei disso. E eu não queria dizer daquela forma. — Encostei a testa na sua costa e comecei a acariciar seu peitoral coberto com os dedos. — Eu estou feliz por você, claro que estou. Você entrou em umas melhores universidades e eu sei que você tem talento, eu vi seus desenhos lembra? Você é muito talentosa e tem muita habilidade, é claro que você entrou lá porque você conseguiu.

Ela não dizia nada, nem se mexia. Continuava da mesma forma, e me perguntava se ao menos ela estava acordada ou se estava me ouvindo.

— Não foi por causa de mim ou por causa dos seus pais que você entrou, meu amor. Foi tudo mérito seu e eu nunca mais vou duvidar disso. — Levantei minha cabeça e subi um pouco meu corpo até ficar atrás de sua nuca, e selai seu pescoço com carinho. — Eu sou estranha Lali, muito estranha. Sou agressiva, impulsiva e vivo irritada. Você é completamente o oposto de mim e isso é o que eu mais gosto em você. Você cuida de mim e não tem medo. Mas eu só fico pisando em você e te fazendo se sentir mal. Me desculpa por isso por favor.

Eu não tenho certeza de quando comecei a chorar. As lágrimas começaram a molhar meu rosto e eu senti a ardência ocular me incomodar.

Lisa continuava imóvel, mas sua respiração aumentou o ritmo e eu tive certeza de que ela estava escutando tudo.

— Eu sinto muito, Lali. Eu não queria magoar você. — Solucei tentando controlar o choro e não parecer uma idiota, mas não estava dando certo. Eu não devia chorar, isso não fazia parte do plano, vai estragar tudo. — Eu não quero te perder...

Sussurrei a última parte tão baixo que eu quase não ouvi minha própria voz, mas tenho certeza que ela ouviu.

Lisa se virou para mim rapidamente, seu rosto estava molhado. Ela chorava assim como eu.

Lentamente, ela me envolveu nos seus braços e beijo o topo da minha cabeça. Eu acabei chorando ainda mais.

Como pode existir alguém assim?

Depois de tudo que eu fiz, ela ainda cuida de mim. Ainda faz com que eu me sinta a melhor pessoa do mundo, mesmo eu sabendo que não sou.

Molhei sua camisa com minhas lágrimas e ela me abraçou mais apertado. Parecia querer me proteger do resto do mundo.

— Você me perdoa? — A olhei nos olhos, tentando mostrar o quanto eu me arrependia de tudo. — Me perdoa?

Ela sorriu e passou o dedão na minha bochecha, limpando minhas lágrimas e me puxou para mais perto, me beijando.

Um beijo calmo, cheio de sentimentos que não são ditos em voz alta.

Um beijo rápido.

— Eu te perdoo, amor.

Yes, mommy | chaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora