— Estou com fome. — Vinícius resmungou. Estava sentado no chão da sala da casa de Renan. Seus olhos estavam vidrados na TV, e seus dedos apertavam com força os botões do controle do videogame, como se assim pudesse vencer a partida de futebol que estava jogando contra Renan.
— E vai continuar, não tem nada na geladeira além de água e leite. — Henrique disse sem olhar para Vinícius, também estava vidrado observando a partida. — Como você sobrevive nesse lugar? — Perguntou só então desviando os olhos para Renan que estava sentado ao seu lado no sofá. Renan deu de ombros, em seguida largou o controle sobre o sofá e lançou um sorriso vitorioso para Vinícius que choramingava por ter pedido.
— Deve pedir lanche todos os dias, olha o tamanho da barriga dele já. — Luís disse tomando o controle de Vinícius para poder jogar.
— Preciso admitir que quase sempre faço isso mesmo. — Renan respondeu, já lançando um olhar desafiador a Luís, antes de dar play em uma nova partida.
— Nossa querida Suzana ia amar ouvir isso. — Vinícius disse, quase soando como uma ameaça, recebendo em troca um peteleco na cabeça, o que o fez rir. — Vou arrumar alguém para cuidar de você.
— Nem vem. — Renan resmungou e Vinícius apenas riu. Não foi rara as vezes em que tentou dar uma de cupido para os irmãos, mas ele era realmente péssimo nessa tarefa, por isso, para o bem de todos, havia desistido.
— Você podia fazer um strogonoff. — Mudando de assunto, Vinícius olhou para Renato que estava quieto sentado sozinho à mesa da cozinha mexendo em algo no celular. Renato o olhou de sobrancelhas arqueadas. — Por favor, Renatinho, o seu Strogonoff é o melhor. — Renato revirou os olhos diante da forma pela qual o irmão o chamou.
— Posso até fazer, — Renato respondeu deixando o celular de lado sobre a mesa. — Mas alguém vai ter que ir ao mercado.
— Eu não vou. — Os outros quatro disseram em uníssono.
Os meninos que estavam jogando pausaram o jogo. Os quatro ficaram se entreolhando quase como suplicando para que um voluntariamente se oferecesse para ir. Parecia até mesmo haver promessas em seus olhares, se você for...
Mas nenhum cedeu. Renato se divertia olhando para os irmãos.
— Dois ou um? — Renan sugeriu mostrando o punho fechado pronto para iniciar o jogo.
— Vocês são tão maduros. — Renato disse observando os quatro marmanjos jogando dois ou um feito crianças.
Henrique foi o primeiro a se livrar, seguido por Luís. Vinícius estava certo de sua vitória sobre Renan, com um sorriso no rosto fechou o punho mais uma vez.
— Par. — Renan falou também sorrindo, um desafiando o outro.
— Impar.
Podia quase se ouvir o som de tambores rufando enquanto eles faziam suspense antes de abrir as mãos. Quando finalmente o fizeram, uma gargalhada explodiu assim que viram o resultado. Seis. Par. Vinícius havia perdido. Ele nunca ganhava.
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Uma dose de clichê
Short StoryQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.