Clara estava deitada em sua cama, os pensamentos rondavam a sua mente, deixando-a ansiosa.
Havia três anos tinha terminado o ensino médio, mas permanecera no sítio dos pais, ajudando-os nas plantações de verduras e legumes, o ganha pão deles. Sua irmã mais velha também trabalhava no negócio da família. Era tão nítido a alegria de Juliana em fazer parte daquilo, não era como se Clara fosse infeliz, mas sentia a necessidade de sair, de ir para a cidade, de aprender coisas novas. Também não era como se os pais a tivessem obrigando a ficar. Mas havia tanta insegurança nela. Primeiro, não sabia qual curso deveria fazer. Em seguida disse que esperaria para fazer faculdade até ter dinheiro o suficiente para se manter os primeiros meses na cidade, mesmo os pais dizendo que a ajudariam. Depois, Juliana começou a fazer um curso online que tomava grande parte do seu tempo, e ela se recusou a deixar os pais trabalharem sozinhos. E assim ela sempre encontrava desculpas para não sair. Por outro lado, ela acreditava também que havia um tempo certo para cada coisa, e o tempo que parecia perdido na verdade estava a preparando.
Naquele momento, olhando para o teto branco do quarto, ela pensava no e-mail que havia recebido alguns dias atrás, havia passado em um vestibular para o curso de administração. O que a deixava ansiosa era o fato de que teria de achar um lugar para morar, e teria de arrumar um trabalho também. A maioria dos amigos que tinha estavam em outras cidades, e uns poucos eram das fazendas vizinhas.
Ah meu Deus me ajuda. Ela disse se sentando na cama. Pegou o celular para ver se sua melhor amiga havia respondido o áudio quase que surtado que ela havia mandado fazia alguns minutos. Mas ela sabia que antes das seis da tarde era provável que ela não respondesse.
De repente ouviu os cachorros começarem a latir e alguém bater palmas em frente de sua casa. Então ela ouviu a mãe atender. Pelos risos ela soube que devia se tratar de alguma amiga de sua mãe. Curiosa saiu de sua cama, calçou os chinelos, e foi dar uma espiada. Da porta do quarto pode ver dona Suzana já dentro de casa. Como sempre, ela trazia um pote enorme de doce de leite e um queijo nas mãos. Clara via poucas vezes a vizinha, mas gostava muito dela, era uma senhora alegre e falante, sempre preocupada no bem-estar das pessoas à sua volta.
Clara saiu do quarto e caminhou até a sala, onde agora sua mãe e a vizinha estavam sentadas. Ela cumprimentou a senhora que se levantou e deu-lhe um abraço caloroso e afetuoso.
— Tudo bem, querida? Faz tanto tempo que não te vejo. — Suzana disse soltando Clara para vê-la melhor.
— Pois é, faz algum tempo. Estou bem e a senhora?
— Estou bem, graças a Deus. — Suzana se sentou novamente. Olhando para a Rita, a mãe de Clara, disse: — Me sinto tão velha quando essas mocinhas me chamam de senhora.
Rita fez um sinal com a mão, quase como se dizendo um deixa para lá, então disse:
— Já estou me acostumando.
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Uma dose de clichê
ContoQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.