O carro sacolejava para lá e pra cá, enquanto Anne dirigia pela estrada de chão, isso piorava a situação em que já se encontrava seu estômago, que em nada se comparava com borboletas voando dentro de si, mais parecia enormes pássaros batendo suas pesadas asas em seu interior.
Era sábado, uma semana havia se passado desde o dia da festa na fazenda, e ela estava dirigindo para lá novamente a fim de devolver o bendito chapéu. Passou a semana toda remoendo a história e até pediu o número do aniversariante para a sua amiga, decidida a mandar mensagem para perguntar a ele se alguém não tinha procurado pelo chapéu. Mas procrastinou até ficar desencorajada. E agora estava indo até o cara, o que era pior ainda.
Quase uma hora depois ela estacionou o carro diante da fazenda e desceu segurando o chapéu nas mãos. Encostada na lataria do carro, ela deu uma boa olhada em volta. De dia a vista era ainda mais linda, tudo tão vivo e vibrante. Os animais andando por todos os lados, seus sons se misturando em uma cacofonia até melódica, se assim pudesse dizer. Ela amava animais, não era à toa que cursava veterinária, e olhando-os encantada para eles, por um momento até esquecera do seu verdadeiro propósito. Até ouvir uma voz atrás de si.
— Bom dia, moça. — A voz era animada e carregada de sotaque caipira.
Virando-se ela deu de cara com um senhor de estatura média, cabelos já grisalhos, e um enorme sorriso no rosto. Ele lhe estendeu a mão.
— Bom dia. — Ela disse, a voz trêmula, enquanto estendia a mão para aquele senhor.
— Que mão gelada. — Ele disse ainda sorrindo enquanto largava a mão dela depois do aperto, Anne sentiu-se envergonhada, ele pareceu perceber, então logo mudou de assunto. — O que te traz aqui?
Ela ergueu o chapéu e ele franziu a testa em desentendimento.
— Um rapaz deixou esse chapéu para trás em uma festa aqui no último domingo, e eu vim procurá-lo para devolvê-lo.
— Que gentileza, minha filha. — Ele disse, sem nunca deixar de sorrir genuinamente. — Mas que cabeça a minha, nem a convidei para entrar e se sentar.
— Oh, não precisa, eu estou com um pouco de pressa. — Ela respondeu. Queria poder entregar o mais rápido possível o objeto e voltar para a sua casa.
— Se você diz. Esse chapéu não me é estranho. — Ele estendeu a mão para pegá-lo. Segurando-o deu uma boa olhada. — Você não se lembra do nome do rapaz?
— Não. — Ela disse, a voz e as mãos apertando uma à outra em nervosismo. Não deu tempo de ele me dizer. Ela completou em seus pensamentos. — Mas os irmãos dele estavam cantando na festa naquele dia. — Por segundos hesitou em dar essa informação, visto que não sabia se era verdadeira ou não. Mas era a única coisa que sabia.
— Por um acaso não é um cabeludo que esqueceu esse belo chapéu? — Os olhos do senhor brilharam por aparentemente saber quem era o dono.
— Sim, os cabelos dele eram na altura do pescoço.
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Uma dose de clichê
Cerita PendekQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.