Conto 1 - Capítulo 1

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O aroma do café inundava a cozinha misturado ao cheiro do orvalho da manhã que entrava pela janela aberta

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O aroma do café inundava a cozinha misturado ao cheiro do orvalho da manhã que entrava pela janela aberta. Do lado de fora ainda estava parcialmente escuro, as nuvens de chuva começando a despachar suas gotas para a terra.

No rádio ligado sobre o micro-ondas gasto, o locutor anunciou que eram cinco e quinze da manhã. Com uma xícara de café nas mãos, Henrique se levantou da cadeira que estava sentado à mesa, caminhou lentamente até a janela, se curvando apoiou os cotovelos sobre o parapeito e deu uma espiada no céu. Em poucos segundos pode concluir que não choveria muito naquele dia. Prever o tempo foi algo que aprendera enquanto crescia na fazenda, e raramente sua previsão falhava.

Ele tomou um gole de café, apreciando o gosto bom que tinha. Deixando a modéstia de lado ele abriu um pequeno sorriso, não havia um dia em que ele não fizesse um bom café, ao menos era o que todos lhe diziam. Porém tinha que confessar, suas habilidades culinárias se restringiam a café e sanduíches, o suficiente para não passar fome.

Henrique sempre fora um homem prático e simples. Trabalhava na fazenda de seu padrasto desde os 15 anos, aprendera amar o campo e não se imaginava vivendo longe. No auge dos seus 28 anos podia afirmar que a cidade nunca o teria mais do que como apenas um visitante.

O vento soprou sobre seu rosto, um ar gelado, fazendo seus cabelos escuros de comprimento médio esvoaçarem para trás. Ele fechou os olhos, apreciando o contato, era quase como se o céu estivesse sussurrando um bom dia para ele. Era isso o que o fazia pensar em permanecer para sempre no campo, o contato com a natureza, sem concreto, vidraças, fumaça e tudo o mais que limitavam o contato do homem urbano com a criação natural.

Logo ele ouviu as portas começarem a abrir no andar de cima, as vozes grossas entoando bom dia pelo corredor, e os passos pesados descendo a escada de madeira. O dia estava começando na fazenda.

Henrique endireitou sua postura e se virou para a porta da cozinha, observando quando seus irmãos entraram um a um. Todos já prontos para mais um dia de trabalho.

- Bom dia. - Disse e então tomou o resto de café de sua xícara e começou a caminhar para a pia.

- Dia. - Seus irmãos responderam em uníssono. Sentaram-se em cadeiras em volta da mesa, minutos antes Henrique havia posto tudo o que costumavam comer no café da manhã, tão logo eles começaram a se servir.

Henrique lavou, enxugou e guardou a xícara que havia usado. Passou pela mesa e pegou seu chapéu velho que estava pendurado no encosto de uma das cadeiras e o pôs na cabeça. Deu uma olhada nos irmãos, comiam feito alguém que passara muitos dias sem comer. Ele se perguntava como eles conseguiam, diferente deles, àquela hora da manhã tudo o que conseguia pôr no estômago era café puro. Não comia nada antes das dez horas da manhã.

Saiu sem dizer nada. Seus irmãos, embora acostumados com a vida na fazenda, não eram do tipo que acordavam de bom humor pela manhã, de modo que se alguém quisesse manter uma conversa com eles precisaria esperar pelo menos até a metade da manhã.

Uma dose de clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora