— Olha, um queijinho desse derretido em sua lasanha, ou naquele pão quentinho da padaria, não sobraria nem o cheiro. — Vinícius disse com um enorme sorriso segurando uma peça de queijo na mão esquerda com certa destreza — Anne estava certa, afinal, com o tempo se tornava mais fácil utilizá-la — enquanto olhava sugestivo para a senhora na sua frente.
— Suzana, arrumou um garoto propaganda? — A senhorinha de cabelos já brancos disse rindo enquanto Suzana se aproximava deles.
— Vê só, este tempo todo eu tinha um feirante dentro de casa e não sabia. — Suzana brincou também rindo, passando a mão pelos cabelos do filho.
Era uma quarta-feira de manhã, e como ainda não era muito útil na fazenda, Vinícius resolveu ir à feira com os pais. Depois que caiu de moto, quase não foi para a cidade, exceto para algumas consultas. Fazia quatro semanas que estava engessado, segundo o médico a recuperação estava indo muito bem, talvez na sexta semana ele já pudesse tirá-lo.
Poucas vezes havia estado na feira, havia se esquecido como era divertido, o que não era divertido para ele, afinal? Ele já havia vendido um tanto de queijo e doce de leite, e se divertido com as senhoras barganhando com ele. Já havia ido de barraca em barraca fuxicar com os demais feirantes e comer pastel.
— Vou ficar com dois. Quanto fica? — A senhora perguntou ajeitando uma bolsa enorme de tecido que estava pendurada em seu ombro, que com toda certeza já estava cheia de hortaliças, legumes e frutas, então abriu a pequena bolsa florida que segurava nas mãos.
— Pela sua simpatia e sorriso bonito darei um desconto. — Ele piscou para ela separando duas peças de queijo dizendo o preço, em seguida recebendo o dinheiro que ela lhe estendia.
— Deixe-me pegar o troco com o meu pai, só um instante. — Ele disse se afastando dela e se aproximando do pai do outro lado da barraca, deixando a senhora ajeitando os queijos na bolsa enquanto conversava com a sua mãe.
Em segundos ele voltou e entregou o troco a ela. Com um aceno e um sorriso ela os deixou.
— Você está melhor que seu pai. — Suzana sussurrou para o filho. — Vou te trazer mais vezes.
— É o meu charme. — Vinícius disse convencido, fazendo a mãe gargalhar e ele a teria imitado se algo não tivesse chamado sua atenção, fazendo-o emudecer.
Fazia tempo que ele não a via. Reparou primeiro nos cabelos loiros soltos caindo sobre o rosto enquanto ela olhava para os potes de doce de leite sobre a bancada da barraca deles. Pouco conseguia ver o rosto, mas observou seus cílios alongados e escuros, as maçãs do rosto coradas. Notou a pulseira com diversos pingentes em seu braço fino e claro; na camiseta preta por baixo do macacão jeans. E por um vislumbre viu a sombra de um sorriso em seus lábios.
Vinícius piscou diversas vezes, não devia estar enxergando direito. Mas então o vento soprou os cabelos dela para trás, permitindo uma melhor visão do rosto dela, e ele viu que realmente se tratava de Helen. Seu primeiro instinto foi cumprimentá-la como sempre fazia.
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Uma dose de clichê
Short StoryQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.