Com uma prancheta em mãos, Gabriela, ou Gabi como normalmente era chamada, entrou no quarto branco, idêntico aos quatro anteriores que havia entrado. Aquele era o último paciente antes de ela ir para casa. Estava exausta, porém não deixou de sorrir simpática para a mulher deitada no leito.
Após uma breve conversa com a paciente, checar os sinais vitais dela, e conferir a medicação intravenosa, Gabi saiu do quarto. Caminhou pelo hospital até a sala dos enfermeiros. Passou todas as informações a respeito dos pacientes para a enfermeira que seguiria o plantão naquela noite.
Quase quarenta minutos depois, Gabi finalmente estava deixando o hospital. Ela amava o que fazia, mas não podia negar que havia dias em que o trabalho a levava à exaustão. Enquanto caminhava para seu apartamento, que ficava perto dali, listava as tarefas que precisavam ser feitas assim que chegasse. Limpar, lavar, cozinhar e estudar. Antes precisaria passar no mercado para comprar algumas coisas que faltam em sua dispensa, e lhe seriam necessárias para fazer suas marmitas e de seu irmão.
Distraída, ela não notou o rapaz de estatura alta se aproximando dela, de tal modo que ela deu um pulo de susto quando ele lhe cumprimentou, já caminhando ao lado dela.
— Quer me matar do coração, Luís? — Ela disse levando a mão ao peito, sentindo a pulsação rápida de seu coração.
— Me desculpe, Gabi. — Ele pediu sincero, porém segurando o riso em seus lábios. — Você não deve andar tão distraída por aí, é perigoso.
— Eu sei. — Ela confessou, soltando um suspiro. — Ah, Luís, tenho tantas coisas para fazer.
— Marta, Marta. — Ele disse, e ela entendeu a referência. — Você pode descansar às vezes, sabia?
— Sim, mas sempre encontro um bilhão de coisas que precisam ser feitas, e não consigo não as fazer.
Luís balançou a cabeça em negativo, repreendendo-a. Conhecia Gabi desde quando ele estava no quinto ano e ela no oitavo. Um dos melhores amigos de Luís era irmão dela, e apesar da diferença de idade não foi difícil se tornarem amigos também.
Gabi era uma mulher dedicada a tudo o que fazia, mas às vezes queria abraçar o mundo todo com os braços, extrapolava os próprios limites, se cobrava, se frustrava quando algo dava errado, ou quando não atingia o seu padrão de perfeição. De fato, com o passar dos anos ela foi melhorando, mas não era raro se encontrar novamente nessas situações.
Gabi olhou para Luís dando o seu melhor sorriso, a fim de não levar mais sermões dele, quem era a mais velha afinal? Ela sabia que todas as broncas que ele lhe dava eram para seu bem. E como era grata pela amizade dele, muitos dos amigos da época de escola haviam se afastado pelas necessidades da vida, mas ele foi um dos que permaneceu, e cuidava dela sempre que podia. Ele vivia na fazenda dos pais, pouco ia para a cidade, mas sempre que aparecia passava para ver como ela estava, e enquanto estava longe a enchia de mensagens.
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Uma dose de clichê
ContoQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.