— Coma mais um pedaço de bolo. — Suzana insistiu olhando de forma autoritária para Renan, ele balançou a cabeça negando. — Você não comeu quase nada, coma uma fatia de pão, fiz hoje cedo. — Ela insistiu mais uma vez.
Renan deu risada, já havia comido dois pedaços de bolo, uma fatia de queijo e estava no segundo copo de suco de laranja, ele sabia que se dependesse de sua mãe, ele comeria de tudo o que ela havia posto na mesa, mas era impossível.
— Você está muito magro, precisa comer mais. — Ela advertiu e se levantou da cadeira que estava sentada, no lado oposto da mesa onde Renan estava. — Vou arrumar algumas coisas para você levar.
Ele ficou observando-a separar quatro potes pequenos e colocar pedaços de bolo dentro de cada um. Depois ela pegou algumas sacolas e foi colocando frutas, litros de leite, queijo e doce de leite. Em um primeiro momento Renan ficou se perguntando se tudo aquilo era apenas para ele, e quando abriu a boca para dizer que era muito para ele sozinho, sua mãe começou a murmurar consigo mesma.
— Clara não gosta muito de bananas, ela prefere laranjas, Helen prefere o doce de leite tradicional, e Anne ama o queijo não muito curado.
Ela continuou murmurando, enquanto ia preparando as sacolas. Renan a olhava com um sorriso no rosto, queria implicar com ela, pois pelo visto a sacola dele seria a última a ser preparada, mas apenas continuou a observando.
Renan podia se lembrar de quando seu pai disse que iria se casar novamente, e do dia em que Suzana foi morar na fazenda. Mesmo antes de conhecê-la ele havia prometido a si mesmo que não iria gostar dela, que nunca deixaria com que ela substituísse o lugar de sua mãe. Quando se viram pela primeira vez, ele apenas a cumprimentou de longe. Sempre se sentava o mais longe possível dela nas refeições, não a abraçava antes de dormir, como Luís sempre fazia, e achava o irmão um traidor por abraçá-la, mesmo Vinícius que havia concordado com ele em não serem amigos dela, havia feito o contrário, e vivia contando piadas para ela, e Renato que não havia concordado com nada a ajudava a cuidar dos canteiros de verduras e temperos que era da mãe deles. Renan tinha onze anos naquela época, sua mãe havia morrido dois anos antes, e as lembranças dela ainda estavam muito vivas em suas memórias, de tal modo que ele não queria que Suzana viesse para apagá-las, como ele pensava que ela estava fazendo com seus pais e irmãos.
Ele não se lembrava bem quando isso mudou, mas talvez tenha sido de forma gradual, conforme via o esforço de Suzana em cuidar da família, o quanto era desafiador para ela lidar com seis homens dentro de casa, e que tudo o que fazia não era para substituir o lugar da mãe dele, mas porque ela também os amava, assim como a mãe deles. Ele se arrependia de ter sido tão duro com ela no início.
Renan se levantou da cadeira e caminhou até ela, então a abraçou, pegando-a de surpresa.
— Que susto menino. — Ela disse, mas retribuiu o abraço, apertando Renan em seus braços. — O que você tem?
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Uma dose de clichê
Short StoryQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.