Juliana acordou muito antes de o despertador tocar, como em todos os outros dias, era como se seu corpo soubesse exatamente a hora que ela deveria levantar. Completamente desperta, ela levantou da cama, abriu as cortinas e por alguns segundos ficou observando o céu em tons de lilás e rosa se preparando para a chegada do sol. Ela nunca se cansaria dessa cena. Ela sussurrou uma oração em agradecimento a Deus pelas misericórdias Dele estarem se renovando mais uma vez sobre a terra. Em seguida ela arrumou a cama e escolheu sua roupa de trabalho, na verdade pegou a primeira peça da pilha de roupas em uma das prateleiras do guarda-roupa onde só havia roupas para trabalhar. Uma calça jeans, camiseta confortável e uma camisa de manga longa para se proteger do sol.
Depois de se arrumar, ela seguiu para a cozinha, sua mãe havia deixado uma chaleira de água esquentando sobre o fogão a lenha para que ela pudesse preparar um chá. A mesa estava posta e ela sabia que não demoraria para seu pai se levantar e para sua mãe voltar de sua caminhada matinal, ela parecia estar levando a sério a recomendação que o médico havia feito, muito embora tenha murmurado contra ele durante uma semana.
Juliana preparou seu chá e o colocou em uma garrafa térmica, onde sabia que até a noite estaria vazia. Terminou ao mesmo tempo em que seu pai apareceu e se sentou à mesa cumprimentando-a com a voz chiada, resultado de anos fumando cigarros sem parar, mas graças a Deus ele havia deixado o vício.
Ambos começaram a se servir enquanto conversavam sobre os planos para o trabalho daquele dia, quantos maços de cheiro verde deveriam preparar, os repolhos estavam prontos para serem colhidos, o pedaço de terra que haviam preparado há três dias estava pronta para receber as sementes de couve, e os locais que deveriam fazer entregas naquele dia. Dona Rita chegou minutos depois, toda esbaforida, a face vermelha e suada, e uma garrafinha de água vazia em uma das mãos, que ela deixou sobre a mesa assim que se deixou cair sentada em uma das cadeiras, quando Juliana lhe ofereceu uma xícara de café ela negou veemente, expressando o quanto estava abismada pelo tempo estar tão quente logo cedo.
— Encontrei a Suzana arrumando o jardim dela. — Rita falou aceitando o copo de água que Juliana havia se levantado para pegar. — Se você tiver um tempinho passe lá para ajudá-la mais tarde. Luís está a ajudando com o serviço pesado, mas segundo ela, ele não tem senso algum de paisagismo. E ela amou como você usou aqueles pneus velhos em nosso jardim.
— Vou passar lá depois do almoço, à tarde as coisas vão estar mais tranquilas por aqui. — Juliana disse olhando para o pai que assentiu.
Assim que terminaram o café, pai e filha se prepararam para saírem para mais um dia de trabalho. Juliana amarrou seu cabelo longo e escuro em um rabo de cavalo e ajeitou o boné preto e gasto na cabeça, calçou suas galochas também pretas, e seguiu seu pai. Gostava de trabalhar e ao mesmo tempo aprender com ele, às vezes se irritava com a teimosia dele, mas procurava agir com paciência, se não conseguia o deixava sozinho e voltava só depois de sentir sua irritação se esvair. Apesar disso, a opinião e aprovação dele era importante para ela diante a decisões que ela deveria tomar, fosse nos negócios ou na vida pessoal.
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Uma dose de clichê
ContoQuem não ama o bom e velho clichê? Ou quem há de negar que nunca ficou de ressaca literária após ler um clichê? Uma dose de clichê reúne os maiores clichês já contados e recontados no mundo literário. Porque uma dose de clichê nunca é demais.