#𝟎𝟐𝟐 𝐓𝐀𝐊𝐄 𝐌𝐘 𝐓𝐈𝐌𝐄

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  Há algo de errado...li o mesmo trecho do meu texto por três vezes consecutivas e ainda assim, há algo errado. Ao menos controlo quando bufo, ouvindo a voz rouca do meu lado na cama.

─ Não é assim que as coisas funcionam para os escritores. Você precisa dar tempo para sua mente colaborar. ─  Louis diz com o rosto meio enfiado no travesseiro.

─ Bom dia para você também, amor. ─ digo irônico e ele sorri com os olhos preguiçosos. ─ Minha mente de escritor não quer colaborar e tenho certeza que os escritores não tenho o prazo péssimo que eu tenho.

─ Eu aposto que você consegue, amor. ─ ele me deixa um beijo na bochecha e se levanta, indo para o banheiro escovar os dentes.

    Quando ele entra no chuveiro, a água batendo no chão é a trilha sonora perfeita para os meus pensamentos. Todos os acontecimentos de ontem tiveram tanta emoção envolvida que mal pude decidir os meus próximos passos, mas sinto que não tem muito do que fazer agora a não ser dar tempo ao tempo.

      Louis sai do banho depois de um tempo, e me encara como se soubesse o quão pensativo estive.

─ O que foi? ─ ele diz e eu bato na cama para que ele sente ao meu lado.

─ Eu sei que resolvemos tudo sobre nós ontem, mas... não resolvi nada sobre mim ainda. Querendo ou não, o tempo que minha vida ficou parada tirou muito de mim e sei que não vai ser saudável se eu fizer as coisas na pressa. Eu queria pedir por um tempo, só para... não sei, organizar minha vida. ─ ele fica em silêncio e eu quero pegar minhas palavras de volta.

─ Harry, eu vou-

─ Embora?

─ Nunca. ─ Louis me deixa um beijo no canto da boca e pega minhas mãos com as suas. ─ Eu vou te esperar o quanto for necessário. Eu entendo o que quer dizer e você merece isso. Vamos dar tempo ao tempo, ele já foi tão bom conosco. Além do mais, você já me tem. O tempo não me tira de ti nem se quiser. ─ ele beija meus dedos e eu sorrio encantado.

─ Vou voltar inteirinho pra ti. Quero te amar curado.

─ Você não vai estar sozinho no processo de cura, saiba disso.

    Mesmo que isso vá fazer tudo mais difícil, eu agarro sua nuca e o puxo até que ele esteja me beijando. Sua mão sobe pela minha coxa e eu não retraio. Meu corpo só responde positivamente aos seus toques.

─ Está tentando me convencer a ir embora? Não está funcionando.

─ Antes de você ir...uma última vez não faz mal, não é? ─ é o que penso antes de cair de joelhos na sua frente.

     Afinal, merecemos uma despedida digna.

─ Muito obrigada por compartilhar conosco o seu relato, Ashton. Eu tenho certeza que o diálogo pode resolver a sua situação com a sua namorada. Nenhuma das ações dela parecem dizer que ela não te ama, falo honestamente.

─ Esqueça isso. Se poder fugir do amor, fuja. ─ um cara na roda de terapia fala. Já sei que o nome dele é Rocky, já que sempre se apresenta como alguém bem...comunicativo, nas terapias.

─ Rocky, o amor é lindo. Não diga isso. ─ a mulher loira com um corte de cabelo irritante diz. A medida que ela se tornou menos irritante e pude ouvi-la, consegui decifrar que seu nome é Lindsay e é ela quem comanda as terapias.

─ Na verdade, ele está certo. ─ penso alto e quando todos os olhos se viram para mim eu limpo a garganta, completamente constrangido. Eu nunca falei aqui antes, sempre fui um observador e apesar de Lindsay ser bem persistente, Gústan sempre se certificou que eu ficasse confortável.

─ Harry, eu acho que-

─ Não. Deixe ele falar, Lindsay, não é por isso que estamos aqui? ─ Gústan a corta e ela se cala. Encurralado por olhares como estou, não me restam outras alternativas se não continuar falando.

─ Eu acho que ele está certo porque... é assim que o amor funciona. Se conseguir fugir, fuja o mais rápido que poder; Se conseguir evitar, evite com tudo que pode; Mas se não conseguir... então que não o reste dúvidas, é amor.

   Um silêncio cortante paira sobre a sala. Até que Ashton, o amante desolado suspira e fala:

─ O amor me testou, e se continuo falando dele aqui é porque já estou cercado dele. Não há pra onde fugir.

─ Você já tem a sua resposta, então. ─ o dou um sorriso fechado, mas simpático.

─ Harry, você gostaria de compartilhar algum relato hoje.

    Gústan me olha e levanta as sobrancelhas, me encorajando.

─ Não, estou bem.

    A conversa continua, mas bastaa terapia acabar que me sento no banco do passeio e tiro meu diario da bolsa.

    Se eu pudesse, falaria que comecei a amar alguém. Ninguém aprende a andar em bicicletas sem rodinhas sem o auxílio dos pais, mas eu amei por conta própria.

    Ninguém nunca me ensinou a como conquistar alguém, como se deixar ser conquistado sem o medo de se machucar. Não tive alguém pra me ensinar a se entregar sem relutância no peito. Ninguém me ensinou que as borboletas no estômago não eram uma sensação alarmante de que devo me afastar de quem me faz sentir isso.

     Cresci rodeado dos piores relacionamentos, e por conta própria me desvincilhiei deles para ressignificar o amor para mim.

       Ou talvez... tenha encontrado alguém que se arriscou a estourar a bolha de bloqueio emocional que construí ao longo dos anos e me mostrou que mereço ser amado sem o peso do relacionamento instável dos meus pais nas minhas costas.

         Louis fez isso. E agora meu amor é dele. Meu amor é ele.

𝐀𝐅𝐄𝐓𝐑𝐎𝐏𝐈𝐀 ── larry stylinson.Onde histórias criam vida. Descubra agora