S H A R K, dia anterior.
Ver o quanto a minha fêmea foi machucada, me faz praticamente enlouquecer, e saber que devido a esse motivo ela teme a minha aproximação, me tem em um limite que é impossível superar. Ela parecia tão perdida, que não consigo imaginar como Leticia reagiria ao saber o que sou, e de quem sou descendente. Não quero nunca mais ver o pânico em seu olhar, porque foi a coisa mais desolador que já enfrentei.
— que porra! – reclamo sentindo as ondas mentais de um grupo de golfinhos.
Eu me obrigo a parar, e continuar despercebido. Não quero esses idiotas pervertidos atormentando minha mente, e não é como se fossem o melhor encontro marítimo. Me mantenho liberando o mínimo da minha essência, para não chamar atenção, me camuflando como posso no fundo.
Sinto a aproximação de um motor de barco, e sei que não pescadores seguindo a rota dos golfinhos. Tenho que manter um pouco mais aqui, porque apesar da minha sensibilidade a sentir ondas e cheiro, minha visão não é nas melhores em águas profundas ou turvas. Por isso prefiro a costa e os recifes, de preferência próximo a desembocaduras de rios, que tem baixa salinidade. Minha espécie se adapta a água doce e a salgada, e somos os predadores de qualquer coisa com vida que tenha o nosso tamanho ou seja menor. Porém, os golfinhos trabalham em bandos, e encurralam cardumes de peixes para se alimentarem ou se defender, e estou entre as duas opções para o grupo acima.
Não estou muito longe da costa de Fernando de Noronha, e minhas últimas atualizações é que a fêmea-tubarão com meu rastro genético está mais profundo no Atlântico. Eu vejo os pescadores lançarem as redes, e um golfinho desesperado se enganchar nela, e consigo sentir cheiro de sangue.
É proibido pescar onde existe concentração de golfinhos selvagens, e muitas vezes ajudo ou atrapalho os pescadores, dependendo do quão justo eles estão sendo, e esses estão longe de serem justos. Absorvi um pouco mais do sangue, e meu animal comemora uma presa fácil, que ele não vai ter acesso.
"— meu bebê!" – Me apresso a se aproximar, ouvindo a fêmea desesperada.
Ela está parindo, atrelada a rede. Agora entendo o motivo dela está separada do grupo que já se foi a tempos. Não entendo o que os pescadores estão fazendo nesse lugar, sendo que os peixes já se dissiparam com o ataque dos golfinhos, e mais ainda o que diabos essa fêmea maluca está tendo o bebê em forma animal, se ela é obviamente um shifters, já que conseguiu ser bem clara na sua mensagem, e os golfinhos normalmente só se comunica entre eles, apesar de ser quase os mais evoluídos marítimos.
"— vou ajudá-la" – envio ondas mentais, mas ela não parece interpretar, ainda mais quando a rede começa a ser puxada. "— porra!" — Assumo minha forma humana, e me aproximo o máximo da fêmea em pânico.
Solto o mais rápido que posso, desalinhando do seu rabo e tentando ignorar o fato que o bebê dela está parcialmente para fora. Quando ela já parou de debater e se enrolar mais, consigo me transformar novamente e destruir tudo o que posso da malha de pesca. A fêmea saiu rápido e segundos depois, ela já estava com seu filhote ao seu lado, completamente empolgado em ter seu primeiro nado.
"— a ilha rata fica próximo." – ela indicou e por algum motivo resolvi seguir em direção a ilha, não sendo mais que seis quilômetros de distância, enquanto ela amamenta o bebê diversas vezes, me deixando um pouco atônito, devido ao fato que não é tão fácil ver esse tipo de cena.
Chegamos ao arquipélago de Fernando de Noronha, em uma área desértica da ilha rata, a mais distante no Atlântico, e vejo a fêmea assumir seu corpo humano na borda, seu bebê se esfregando em suas pernas em seu corpo animal. Ela é baixinha e não parece em seus melhores dias, devido ao parto e também ao desgaste que deve ser carregar um filhote desse tamanho mesmo em seu animal.
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A COMPANHEIRA DO SHARK
Fantasylivro 4 Letícia Meus olhos estão cheios de lágrimas mau contidas. E tomo seguidos suspiros cortados, tentando instabilizar meu descontrole com a cena a minha frente. Minha perna - ou o lugar onde deveria existir -, é apenas a memória do que já este...