CAPÍTULO 9

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L E T Í C I A

Fico paradinha fingindo que ainda estou dormindo. Parece tão infantil e louco, mas o cheiro dele é tão bom, que causa uma sensação estranha no meu peito. Ele é um tubarão, e deveria me fazer fugir em pânico, porém, algo empurra na minha mente, dizendo que Shark jamais me machucaria.

Eu tive tantos sonhos estranhos, que passei a me sentir ansiosa para voltar a dormir, ao mesmo tempo que também me sinto assustada e receosa, quase como se estivesse traindo minha história, e me recusei a voltar a sonhar, mas é impossível não desejar mais das sensações. Nos sonhos, ele me leva as mais diversas e incríveis praias, o sonho de qualquer sufista, e o grande predador é protetor e doce, e sempre me rodeia com diversão, roçando sua barbatana em mim, em uma carícia.

Eu não controlo minhas ações nos sonhos, as vezes acho que sou apenas uma coadjuvante, mas as sensações. As sensações são incríveis e libertadoras, me faz se sentir estranhamente confortável e querida. As vezes ele é bobo, e me oferece sempre comida enquanto assusta e debocha dos outros seres marítimos, como se fosse o rei do mar. Ele me mostrou recifes que mais parecia um mundo diferente, e juro que ele conseguia falar na minha mente, enviando sensações de alegria e satisfação.

— Saber que está feliz estando assim junto de mim, me causa alívio. – A voz baixa dele faz o meu coração acelerar, e suspiro profundamente antes de olha-lo.

No início, quando ainda estava tentando assimilar que existia essa espécie, não fazia ideia do porque me sentia estranha próxima ao Shark. – Seu nome ainda é um pouco incomodo, mas, treinamento na minha mente, já não causa tanto temor. – Somos companheiros. Tenho certeza disso, apesar de ainda não saber a dimensão que isso representa. Não foi difícil interpretar, depois da sua explicação e pelo fato da Maria e todos os outros não saberem muito disfarçar na forma que se referem a mim, quase como se pertencesse a ele, e ele a mim.

Quando interpretei isso, tive muito medo e me recusei a dormir e sonhar com o tubarão, porque esses sonhos me fazem olhar diferente para o Shark, porém, o desejo de sempre está aqui do lado dele e saber como está é inquietante. Eu tentei sair da clínica após a transfusão, mas, foi uma sensação tão ruim, como se eu estivesse abandonando uma vida indefesa e retornei, e simplesmente ninguém admirou ou questionou.

— Somos companheiros, não é? – pergunto querendo ouvir dos seus lábios, e não minhas suposições de alguém que acabou de conhecer a espécie.

— somos. – admitiu acariciando meu rosto com delicadeza, que me faz praticamente se derreter contra ele.

Eu nunca nem mesmo fui de chamego. Cresci em um lar onde minha mãe estava mais preocupada com minha dieta e as sessões de fotos entre as competições, do que mesmo com o fato de que as vezes eu queria um carinho. Acho que foi esses um dos motivos que me fez se apaixonar pelas crianças, porque elas são tão espontâneas, que me davam o tão sonhado carinho que desejava, e me sinto mais uma vez indo para em busca desse carinho. Tenho receio que não seja exatamente como ele disse, um amor desinteressado e cheio de sentimentos bons, mas, ao mesmo tempo essa é a melhor coisa que me foi oferecida na vida.

— O que preocupa você? – pergunta sorrindo, seu dedo passando por minha sobrancelha.

— É realmente real o que me falou com relação de como é o companheirismo? – busco, porque o que me disse ainda está muito vivo e acho perfeito demais para ser verdade.

— Os espíritos são perfeitos um para o outro, eles já se amam desde que suas essências foram criadas, e o amor entre os humanos que carregam seus espíritos destinados, tem tudo para serem felizes juntos, porém, depende apenas deles, e do quanto serão verdadeiros em demonstrar seus sentimentos. – explica e sinto meu corpo ser puxado por seu braço, e ficar quase sobre seu abdômen. — Estou disposto a construir com você, algo tão bom quanto você admirou no Lion e na Manu.

A COMPANHEIRA DO SHARKOnde histórias criam vida. Descubra agora