Talvez em outra vida

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A dor de um coração partido é muito pior do que dizem nas canções. Estou em um restaurante, esperando Maria chegar e já sei o que ela vai dizer.

Como eu esperava, ela disse que ela e Alan estão juntos de novo, eu já sabia disso, mas ouvir ela dizer me causa um tipo de dor que nunca havia sentido antes, a dor de ter o coração partido me causa dores físicas, estou com dor de cabeça, enjoado, me sentindo sem rumo na vida, normalmente não sou assim, o que eu me tornei?

Nunca senti nada parecido com amor antes dela, e agora que nunca vou tê-la é como se ela levasse embora toda a esperança que tenho sobre todas as coisas.

Quando a conheci fiquei muito interessado nela logo de cara, mas não disse nada a princípio. Não sabia nada sobre ela, o que ela tinha a ver com o sequestro da minha irmã, Hannah, como ela foi parar no meio disso tudo. Ao passar do tempo fiquei fascinado por ela, como ela conseguia descobrir as coisas e tirar segredos dos outros tão facilmente, inclusive de mim.

Ela me perguntava coisas sobre mim e eu respondia sem nem perceber, gostava muito do jeito como ela fazia as coisas, gostava de como me sentia quando falava com ela, gostava de falar com ela, gostava dela.

Comecei a me sentir estranho em relação a ela, queria estar com ela, queria falar com ela o tempo todo, pensava nela em todos os momentos, e não suportava quando falavam com grosseria com ela. Ela me confessou depois que era meio duro com ela, mas isso era somente porque queria criar uma barreira entra ela e eu, porque nunca senti essas coisas por ninguém antes e com a vida que levava não queria que ela se prejudicasse de alguma forma.

Naquela noite, em Duskwood, eu saí da mina por uma entrada que eu não sabia que tinha, estava totalmente perdido, buscava ar porque tudo o que tinha respirado era fumaça, pareceram horas, mas foram poucos minutos.  Saí da mina e caí no chão, ouvi um grito, meu nome, me arrastava tentando achá-la, mas estava indo na direção contrária até que desmaiei.

Acordei algumas horas depois no meio da floresta, desidratado, zonzo, não sabia onde estava e nem se ia conseguir sair de lá, só pensava em encontrá-la. Eu estava andando tentando achar uma saída da floresta e comecei a pensar nela, ia mandar uma mensagem para ela, mas então eu decidi tomar uma das piores decisões da minha vida.

Peguei meu celular e estava ofegante, tremendo, ouvi barulho de carros e estava perto da estrada, então vi que tinha sinal, me sentei encostado em um tronco de árvore, abri a conversa com ela,  mas não consegui enviar nada. Poucos minutos depois vi as mensagens e ligações de umas pessoas que me ameaçavam e decidi a proteger, ninguém sabia onde eu estava então, abri meu notebook no meio daquela floresta, invadi o sistema de Duskwood, vi que os bombeiros acharam o Richy e então coloquei que eu também estava lá. E uma parte de mim realmente morreu nesse dia.

Sempre estive de olho nela, sempre soube se estava bem, onde estava, com quem, e o que estava fazendo. Dessa forma, me sentia parte de sua vida, sei que parece obsessão, sempre me senti um stalker, mas não podia deixá-la sozinha, até perceber que ela não estava.

Ela manteve contato com algumas pessoas de Duskwood, uma delas foi Alan Bloomgate, o detetive. Eu quis intervir, quis fazer alguma coisa, mandar mensagem para ela, mas não podia deixar que ela corresse riscos, então deixei que as coisas acontecessem, ela estava feliz, nem sei se ela se lembrava de mim.

Naquele dia, eu não sei o que aconteceu, fui impulsivo, quando se trata dela não consigo pensar racionalmente, quando dei por mim já tinha batido em sua porta, e foi quando tudo deu errado para mim.

Vi um misto de alegria, tristeza e raiva em seus olhos, aqueles lindos olhos castanhos que estava vendo pela primeira vez, não me arrependo de ter voltado para sua vida, me arrependo de ter ido embora. Não que isso me levaria a estar com ela agora, mas ela sofreu muita coisa por minha causa, e nunca vou me perdoar por isso.

A dor da aceitação de que algo simplesmente não era para ser não melhora em nada o sentimento de rejeição, perda, tristeza. Eu não sei como seguir em frente nessa questão, minha vida profissional sempre foi bem resolvida e pra falar a verdade eu nunca tive uma vida pessoal, amigos ou namorada, até conhecer Maria, ela me fez sentir incluído em um grupo, ela foi minha namorada por um curto período de tempo que foi mais deprimente do que alegre, porque eu sentia a sua raiva por ter mentido sobre minha morte, sentia que tinha que compensar ela por tudo e então a enchia de presentes, eu nunca tinha namorado ninguém antes, não sabia o quê casais faziam para fazer as pazes, mas sabia que ela não ligava para essas coisas. Nós dois não estávamos certos, e mesmo que eu quisesse implorar para ela ficar comigo, que eu mudaria por ela, faria o que fosse para ficar com ela, era tarde demais, não ia dar certo, não era pra ser.

Pareço calmo enquanto conversamos, tento ser gentil, tento aceitar o nosso fim permanente, mas sinto vontade de chorar, estou com um nó na garganta que me dificulta de engolir.

Ela era tudo pra mim, a única pessoa que eu tinha, que me amava, era minha amiga, meu amor, minha parceira, ela era a chave, era a resposta. Tudo.

Talvez em outra vida...

Vida solitária de Hacker - Spin Off Sempre foi você - Duskwood Onde histórias criam vida. Descubra agora