Pesadelo

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Pode conter gatilhos!

Crescemos ouvindo que o mundo é cruel, que as pessoas que nele se destacam, elas carregam consigo o preço de sempre serem observadas e muitas das vezes delas são tiradas sua liberdade e felicidade

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Crescemos ouvindo que o mundo é cruel, que as pessoas que nele se destacam, elas carregam consigo o preço de sempre serem observadas e muitas das vezes delas são tiradas sua liberdade e felicidade. Aos meus dezoito anos eu me tornei uma dessas pessoas. Em 1902 eu assisti minha família sendo destruída aos poucos, eu fazia parte de uma família tradicional, perfeita, aos meus dezoito anos minha mãe revelou que estava grávida e com oito meses ela estava em uma cama agonizando de dor, meu pai estava em uma viajem de negócios, longe, naquela noite era só nos duas, lembro-me do desespero de ver sangue e minha mãe gritar e chorar de dor, suas falas imploravam para que a dor parasse e que eu salvasse meu irmão, eu não pude fazer nada, enquanto implorava a qualquer socorro, espiritual ou que alguma alma viva passasse em frente de casa e escutasse os gritos da minha mãe, ingênua, eu acreditava que ali eu poderia fazer algo, salvar, desejava tirar a dor da minha mãe para que então seus olhos agora cobertos de lágrimas, brilhassem em seu verde que eu tanto amava.

Com oito meses de gestação, no dia 13 de novembro de 1902 o meu irmão nasceu, morto. Depois daquele fatídico dia minha mãe se tornou uma sombra da mulher que um dia ela foi, não existia mais brilho em casa, eu mal escutava sua voz, mal me lembrava dos dias que ela passava cantando enquanto cuidava das flores do jardim, flores essas que agora estavam morta, meu pai quase não morava em casa, estava sempre em viagens ou no escritório, muitas das vezes nem vinha para dormir, minha mãe perdeu seu brilho e com isso minha esperança se foi. No cemitério de Londres uma lápide em memorial ao meu irmão foi colocada, com flores brancas e uma única data, seu nascimento e óbito.

No primeiro mês eu ia toda semana visitar seu túmulo, era uma forma de me redimir pela minha insuficiência naquela noite, talvez no fundo eu carregava a culpa de não salvar ou não me esforçar para ajudar enquanto via a morte a minha frente, carreguei a dor de ver meus pais sofrendo e fui me afastando aos poucos da família. Porém tudo se acabou no dia em que resolvi ir ao escritório que meu pai trabalhava para entregar ele que o mesmo esqueceu na mesa da cozinha de casa, sem aviso entrei no escritório e o encontrei com uma mulher e voltei correndo para casa segundos depois de ver o ódio nos olhos de meu pai.

Naquele dia, pela primeira vez, eu fui espancada pelo meu pai, enquanto o mesmo me desferia xingamentos me culpando pelo que eu tinha visto e pela morte de meu irmão, o peso da destruição da minha família foi posto em minhas costas. Durante a noite eu só pude chorar baixo em meu quarto pela dor, física e mental que eu carregava, tive medo do que mais poderia acontecer, e errada eu não estava. Aos poucos, apanhar de meu pai se tornou frequente, todas as vezes que ele chegava bebado, ou irritado, era em mim que ele descontava, eu já tinha cicatrizes na costela, braços e uma na lateral do pescoço, meu corpo tinha manchas escuras roxas, que eu passei a cobrir com roupas fechadas, até os punhos e tornozelos. Minha mãe fingia não ver, ela sempre estava em silêncio, olhando o vazio e sussurrando baixinho.

No Natal, eu tinha um resquício de esperança, quando cheguei em casa animada para conversar com minha mãe sobre a nova composição que fiz no piano, porém quando entrei no seu quarto, a encontrei pendurada em uma corda. Aquela foi a segunda vez que presenciei a morte. Um grito de terror assombrou a casa enquanto lágrimas caíam sem aviso de meu rosto. Ao lado da lápide de meu irmão, agora estava uma lápide com o nome de Antonieta Foster.

Depois de perder minha mãe, meu pai se tornou uma pessoa ainda pior, os espancamentos se tornaram pior, ele não vivia mais sóbrio, e eu tinha a casa para minha responsabilidade, até na pior noite, quando o mesmo chegou e a comida ainda não estava pronta, o cheiro de bebida era evidente e eu mal tinha me recuperado da última vez que o mesmo me bateu. Naquela noite ele me bateu mais uma vez, e enquanto eu chorava em silêncio sentindo os chutes em minha costela, eu me entreguei a escuridão, implorando desesperadamente pela morte.

 Naquela noite ele me bateu mais uma vez, e enquanto eu chorava em silêncio sentindo os chutes em minha costela, eu me entreguei a escuridão, implorando desesperadamente pela morte

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