Pelos corredores amplos e bem iluminados, uma garota corria apressadamente. Seus longos cabelos brancos batiam-lhe nas costas como uma cascata alva e brilhante, enquanto seus olhos azuis procuravam, com receio, algum sinal de seu mestre. A noite tinha ido embora e os primeiros raios de luz já banham o horizonte com uma luz vermelho-alaranjada.
Parou bruscamente em uma curva, tentando não ser denunciada pelos próprios passos. Lentamente, pé ante pé, passou em frente aos aposentos de seu mestre, segurando a respiração. O assoalho de madeira fora consertado fazia pouco tempo, evitando que qualquer rangido fosse emitido. Finalmente, estava à porta do próprio quarto. Respirou fundo, aliviada, e abriu as portas do aposento.
— Não me recordo de ter lhe dado permissão para sair ontem! — Escutou.
O homem, trajando um manto verde com desenhos de lótus e os cabelos longos presos no topo da cabeça, encarava-lhe de dentro do quarto, a observava com uma expressão fria.
— Mestre! — Disse, dando dois passos para trás.
O mestre da jovem, cujo nome era Asher, ficou de pé e pôs as mãos atrás das costas. Andou até ficar frente a frente com sua discípula e fez um sinal com o queixo, indicando o caminho até o salão de ensino. Ela sentia-se exausta de uma noite em vigília e, sabendo que agora não teria nenhum tipo de desculpa, apenas acenou com a cabeça e seguiu seu tutor.
O caminho era feito de cascalho e seixos, com altas cerejeiras e pés de Lanterna, uma árvore cuja flor assemelhava-se à uma lanterna de papel. Os jardins eram verdes, cheios de plantas exóticas e ornamentais, além de conterem inúmeros lagos pequenos, onde existia uma flora e fauna aquática inexplicáveis.
Chegaram até a entrada do salão continha uma placa de madeira, indicando o nome do local e pesadas portas de ébano branco. A pequena garota não deu um pio até o mestre dela empurrar o portão. A menina, cujo nome era Aylla, estremeceu ao encarar a montanha de livros dentro do cômodo e recuou em dois passos.
— Não podemos expiar meus erros de outra maneira, mestre? Os livros são… uma forma muito lenta e agonizante de punição! — Disse, cruzando os dedos para a resposta de Asher. Este, entretanto, apenas encarou a menina com um olhar lateral e estalou os dedos.
Aylla ficou de joelhos involuntariamente, fazendo bico e choramingando, pois a magia de seu tutor superava a dela em proporções gigantescas. Agora, ajoelhada contra a vontade e sem poder se levantar quando quisesse, a pequena aprendiz só tinha que esperar que a raiva de Asher se acalmasse e ele sentisse pena dela.
— Vá meditar o livro do grande general Hourt e, ao final, cite para mim cada frase final dos capítulos. — Ele pegou um livro sobre a mesa e entregou para Aylla, que pegou-o a contragosto.
— Mas… — A jovem tentou intervir, mas sua boca se fechou sozinha, impedindo-a de falar ou reclamar. Asher saiu dos aposentos, limitando a visão da aprendiz apenas ao livro em suas mãos.
Aylla proferia todo tipo de reclamação em sua mente, enquanto abria o caderno e se esforçava para ler aquelas palavras cheias de simbologias. Enquanto isso, seu mestre voltou para o quarto, sentando-se e abrindo uma pequena gaveta e pegando um pergaminho negro e amarrado com uma fita vermelha e bem no meio, o carimbo do Primeiro Mestre.
— Rhidian! — Chamou, em voz baixa. Seu guarda pessoal apareceu quase imediatamente e fez uma reverência ao seu senhor — Você verificou onde ela foi ontem à noite?
Rhidian ergueu a cabeça e pegou um outro pergaminho, desta vez branco e de qualidade mais baixa.
— A Primeira Discípula foi até a fonte Dau, e permaneceu lá até o momento de seu retorno! — Contou o rapaz. Ele tinha em torno de vinte e um anos, sendo um dos poucos guardas privilegiados a trabalhar com o grandioso Terceiro Mestre da Guarda Lendária de Rasij. Rhidian tinha cabelos pretos e ondulados, que ele frequentemente prendia em um coque e tinha olhos castanhos quase negros. Foi adotado pela Guarda Raij aos seus sete anos de idade e tinha total devoção pelo Mestre Asher.
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O Reino da Loba
FantasyEsta é uma história diferente de todas as que você irá ler. Não é uma lenda comum como as outras, ela carrega consigo um significado especial. Pois, somente a humildade pode elevar os corações e as almas a conquistarem tudo que almejam. Aqui contare...