Capítulo 10

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Seu defeito mais pertinente era olhar para alguém e julgar sempre a primeira impressão que teve dele. Ryker não parecia alguém com quem Rael faria amizade. A menina passou o jantar inteiro tentando entender como duas personalidades tão diferentes se entendiam sem brigar.

Talvez, ela não saiba realmente viver em sociedade.

— Seu olhar já está me incomodando! — Ryker falou, encarando Aylla com a mesma intensidade que ela olhava para ele.

— Não tenho motivos para encarar alguém tão arrogante — Respondeu e voltou ao jantar. Antares não estava presente, pois a ordem do Terceiro Mestre foi muito específica. Elas não compartilham nenhum momento de proximidade. Naquele momento, sua amiga talvez estivesse no quarto aguardando sua vez de comer.

— Está pronta para amanhã? — Rael perguntou, depois de pousar os talheres sobre a tigela de macarrão e carne — Ouvi seu mestre comentar que sua habilidade com espadas está acima da média! Adoraria ver isso amanhã!

Aylla sorriu, desconcertada. Rael era a primeira pessoa que elogiava sua capacidade de esgrima fora do Palácio do Relógio. 

— Tudo que sei foi-me ensinado pelo meu mestre. Tenho que fazer jus a fama dele — Respondeu e o garoto assentiu, com um sorriso. 

Ryker olhou de relance para o melhor amigo e depois para Aylla. Haviam discípulos ao redor deles, cochicando sobre aquela cena. Irritado, o príncipe de Weregort abriu o leque de uma vez e encarou todos ali presentes, antes de soltar um suspiro pesado. 

— Apressem-se ou vamos acabar deixando o outro grupo morrer de fome!

Foi o suficiente para que muitos discípulos levantassem com suas tigelas vazias e deixassem o ambiente mais leve. Olhos curiosos sempre traziam consigo uma energia pesada e Ryker odiava isso.

— Aylla, posso saber de qual parte de Uhakay você é? — Perguntou, virando uma garrafa de vinho na boca e mexendo o leque suavemente.

— Eu sou de Hwanj, no interior mais precisamente… — Disse mas, arrependeu-se rapidamente. Estava diante de dois príncipes e ela não tinha nem mesmo parentes na família real. — Nada que queira realmente saber!

— Está enganada — Ryker falou, fechando o leque — Aylla, ninguém fora do reino de Weregort e, sendo mais específico, da linhagem Mikko pode ter nossa herança genética. A minha família é, ou era, a única com descendentes de cabelos brancos, sempre pulando uma geração e abençoando outra. Como você pode ter essa variação e não ser da minha família ou do meu reino?

Aylla simplesmente calou-se. Mikko era a família real de Weregort, assim como Aliweel era de Halazia e Gifray era a família governante de Ybaserh. Aylla não conhecia os príncipes Klinsmann, do reino de Uhakay e nem sabia se ambos dariam-se ao trabalho de vir para a Guarda Rasij.

— Eu não sei te explicar, Ryker — Aylla respondeu — Eu nasci assim!

A menina não queria ter que contar sua infância para um total desconhecido.

— Mas…

— Chega, Ryker! — Rael interveio — Pode pensar com mais calma quando estiver sóbrio!

O príncipe de Ybaserh levantou-se e puxou Aylla junto, indo direto para a varanda. A Lua estava cheia, emanando seu brilho místico por todo lugar. Falar do passado dava arrepios em Aylla, pois viveu poucos anos sob o real castigo ao qual foi sentenciada.

— Ryker é muito… — Rael tentou se explicar mas Aylla deu um sorriso, tirando-lhe a atenção — O que houve?

— Ele foi o único que teve coragem de questionar minhas origens em todos esses anos… Mesmo Rhidian, meu irmão de criação, não sabe de que parte de Uhakay eu sou. Ele nunca perguntou — Contou — Eu acabo por me esquecer que não deveria estar aqui…

O Reino da LobaOnde histórias criam vida. Descubra agora