Capítulo 3

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Ainda naquele dia a notícia do incêndio na estufa e a perda de exemplares raríssimos chegou aos ouvidos de Asher. Embora quisesse acreditar em outra hipótese, nada tirava-lhe a ideia do príncipe estar por trás de tudo isso. O ódio no olhar daquele garoto era extremamente forte e estava disposto a matar para saciar sua vingança. E Aylla…

No momento em que pensou em sua discípula, sua mente teve mil pensamentos diferentes. A força oculta, a língua afiada e a disposição para lutar surpreenderam o Terceiro Mestre. Talvez, Aylla só estivesse cheia de adrenalina ou…

Ou talvez já esteja na hora de afrouxar as amarras…

Levantou-se e caminhou até a porta, encarando a enorme cerejeira e um pequeno balanço ali pendurado. Muitos anos atrás, quando trouxe sua discípula, pediu que os criados fizessem um pequeno balanço para ela sentir-se mais acomodada. Agora, essas memórias pareciam distantes e vazias. 

— Onde eu errei? — Perguntou-se, apoiando a testa na mão e respirando fundo. Nem percebeu quando Aylla adentrou o cômodo e deixou a bandeja com chá e bolinhos sobre a mesa.

— Não vai comer, Mestre? — Ela perguntou, preocupada. No fundo, ela tinha medo que Asher tivesse descoberto sua saída no dia anterior. Contudo, este nem a olhou e fez um gesto para que ela fosse embora. 

Uma vez do lado de fora, a menina decidiu que iria dar uma volta nos arredores, já que Rhidian não estava na mansão naquela manhã. Um momento de paz, finalmente. Contudo, com Asher ainda no Palácio do Relógio, muita coisa ainda estava em jogo.

Será apenas um momento, nada que prejudique ninguém! , Pensou e correu para mais uma de suas aventuras, se deixando levar pela emoção. Fazia muito tempo que seu mestre a proibiu de ir além dos domínios da mansão. Aylla nunca soube o motivo em si e nunca ousou perguntar. Mas sentia necessidade de ir em busca de outras companhias. Sua alma pedia por isso desde o encontro com os dois discípulos naquela mesma trilha que agora percorria a longas passadas.

Não demorou nem cinco minutos para que a trilha se tornasse um caminho mais amplo e desconhecido. As árvores e bambus estavam mais densos e curvados uns sobre os outros, hastes verdes tão altas quanto qualquer muro. Imersa naquela visão, Aylla não notou que andava na direção errada. Errada demais.

Quando sentiu o metal frio encostar na sua pele, seu coração congelou e as pupilas dilataram-se de medo. Ergueu o olhar e encarou a pessoa que empunhava aquela espada. Não reconhecia aquele rosto, pois havia muito tempo que não saía mais da fortaleza do seu mestre. Quaisquer discípulos com quem brincou na infância, agora eram totalmente desconhecidos.

— Ninguém sem permissão pode passar dessa área! — O rapaz falou, a voz grave e profunda fazendo os pelos da nuca de Aylla ficarem eriçados.

— Eu não vou passar daqui! — Ela respondeu, dando meia volta e indo na direção oposta do garoto. De repente, as pedras do caminho começaram a tremer e flutuar, formando uma parede e impedindo-a de prosseguir. Suspirou e olhou para o rapaz por cima do ombro, com desdém. 

— Eu já ia embora! O que você quer? — Questionou.

Ainda com a espada apontada para ela, o menino apenas fez um gesto, totalmente incompreensível para Aylla, e vários outros discípulos apareceram. Tomada pelo desespero, a garota só pôde ficar parada e esperar o que quer que fossem fazer.

— Não conheço nenhuma discípula da Guarda Rasij como você! O que faz aqui? É uma espiã? — Ele perguntou, aproximando-se mais e mais. 

— Sou uma discípula daqui sim! — Aylla respondeu e mostrou o pulso, onde havia uma marca em forma de fênix, o símbolo oficial da Guarda Rasij. Por um momento, aquele menino ficou perplexo. Em sua mente, todas as discípulas estavam inseridas nos arredores do Palácio das Chamas. Mas, não aquela diante dele.

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