Capítulo 7

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O Sol nunca pareceu tão frio quanto naquela manhã. Seus raios de luz não pareciam iluminar nada. Faziam exatamente dois dias que Aylla havia sido transferida para a caverna Kinyui. Asher ignorou completamente o local onde mandou que Rhidian fosse colocado até suas feridas cicatrizarem. 

— Como ele está hoje? — Perguntou à um dos médicos.

O homem, já velho e com anos de experiência nas costas, fez uma reverência e respondeu:

— O rapaz está praticamente recuperado. Por sorte, as chibatadas não acertaram seus pontos de poder ou ele não poderia mais lutar! 

Asher sentiu um alívio ao ouvir aquilo. Era de seu conhecimento que Rhidian não desculparia facilmente o que ele fizera a Aylla, mas não o desobedeceria mais tão cedo.

Fez um gesto e dispensou o médico. Agora, sua maior tarefa seria trazer Aylla de volta, já que ela provavelmente estava consciente. Desde aquele dia, a frase de Antares não saía de sua cabeça. 

" Você acredita que pode mudar o que já foi escrito antes mesmo de estivesse vivo! A sua teimosia vai tirar Aylla de você mais rápido do que pensa. "

E se isso já tivesse acontecido? E se sua discípula deixou-se levar pela sua verdadeira natureza? 

— Senhor! — Ouviu a voz de um dos seus subalternos do lado de fora — Houve uma perturbação na caverna Kinyui. 

Asher deixou o pincel que segurava caísse no chão. Seu corpo recusava-se a mover-se e sua boca não tinha movimentos nem mesmo para responder.

Então, Yulir apareceu rapidamente e sem avisos, agarrou o braço do Terceiro Mestre e teletransportou-se para a caverna, sem mais nem menos.

O Primeiro Mestre não explicou-se e apenas abriu passagem para que Asher adentrasse a caverna. Aylla poderia estar em perigo. Ou ela poderia ser o perigo.

O general usou seus poderes para encontrá-la, praticamente no mesmo lugar onde a deixou. A menina estava encolhida sobre si mesma, os cabelos brancos estavam bagunçados e as mãos tremiam. Não havia mais ninguém na caverna e o silêncio profundo apenas deixava que os soluços da menina ecoassem por todo o lugar. Sobre aquele firmamento de pedra, nem mesmo um raio de sol ousava exibir sua luz.

Asher arrependeu-se tarde demais. 

— Aylla! — Chamou e a jovem ergueu a cabeça. O rosto estava marcado por lágrimas e os azul de suas íris contrastavam com vermelho da sua tristeza. Entretanto, ao ver seu mestre ali parado, sua reação, a tão esperada reação, não poderia ter sido tão diferente. 

— Sua nova discípula não apareceu? — Ela perguntou, afastando-se. Seu olhar não era decifrável, um misto de medo e raiva, talvez.

— Eu não tenho outra discípula além de você, Aylla! Acredite, por favor!

— ENTÃO POR QUÊ ME MANDOU PARA ESTE LUGAR? — Aqui você poderia ficar longe da fúria de Yanian! Aylla, você sabe o que fez com ele?! — Asher perguntou, querendo tirar aquela ideia da cabeça de sua aprendiz. 

A jovem parou de chorar e encarou bem o rosto de seu mestre. Não lembrava-se do que tinha feito e, tampouco, se era algo tão errado assim. Até onde sabia, o príncipe herdeiro tentou matar ela, Rhidian e Antares…

— O que eu fiz, mestre? 

O Terceiro Mestre abaixou-se ao lado dela e deu um suspiro alto.

— Você usou um feitiço mortal em Yanian e está matando ele aos poucos! Não existe mais cura para isso! — Contou. Aylla sentiu o chão desmoronar sob seus pés. Precisou se apoiar no chão para não tombar. Ela estava matando Yanian? Nem em seus sonhos ela ousaria fazer algo assim. Mas, agora que estava feito e não existia cura, teria de carregar o peso do arrependimento sobre seus ombros.

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