Anna
Fala sério.
Ela realmente achou que eu fosse universitária?
A atendente entrega o pedido de Lia e eu aproveito o fluxo da conversa:
"E você?"
Ela pega dois guardanapos do balcão:
"Eu o quê?"
"Engraçadinha. Você está em que nível escolar?"
"Terminei a escola no ano passado. Estou fazendo um curso técnico de fotografia."
"Humm, então não é bem uma universitária também, não é?"
Ela desembrulha o canudo vermelho e joga o plástico na lixeira.
"Não". Ela sorri e toma um gole do cappuccino. "Por quê? Estraguei suas expectativas?"
"Por que estragaria?"
"Não sei. Você curte as universitárias?"
Aham. Tipo... quem não curte uma universitária vintage com uma voz irritantemente sexy?
Ah... ela é dessas? Estrelinha? Se for, faço questão de dificultar as coisas. Mas, por enquanto, o território parece seguro.
"E você não?", lanço.
"Não vale responder perguntas com perguntas."
"Não mesmo?"
"Tá bom...", ela revira os olhos e se aproxima de mim lentamente, "Se você quer jogar, então vamos jogar. Está vendo essa tatuagem?", ela me mostra o desenho de um tigre rodeado por flores em seu antebraço.
Ah. Além de tudo, é tatuada.
"Uhum. O que tem?"
"Eu posso ainda não estar dentro de uma universidade quebrando a cabeça em projetos de cálculos absurdos, mas acho que posso me passar por uma bad girl, de certa forma."
Sinto um arrepio descer pela espinha, enquanto meus olhos acompanham os movimentos sutis da boca rosada de Lia.
Engulo em seco. Preciso satirizar isso tudo antes que eu fique maluca.
"Bad girl?", lanço uma risada breve e acalorada. "Imagino que você deveria estar consumindo um copo de vodka em um bar qualquer nessa tarde de terça-feira, e não um copo de cappuccino com caramelo, senhorita garota má."
Ela desaba sobre uma cadeira e pega minha mão:
"Claro. Aceita me acompanhar nesse brinde de bebidas nada adultas nessa cafeteria tão infantil quanto cursar o terceiro ano do ensino médio?"
"Humm... adiantaria se eu dissesse não?"
Ela sorri: "Provavelmente não."
Eu me acomodo na cadeira e coloco minha bolsa de lado.
Lia se debruça sobre a mesa de mármore e se aproxima gradualmente.
"Você é linda, Anna", ela diz em voz baixa no meu ouvido. "Sabia que você está parecendo uma pimentinha agora?"
Merda, estou corada.
Abro um sorriso nervoso:
"Foi na parte da 'pimentinha'..."
Ela se afasta com um olhar penetrante:
"Não minta pra mim. Eu tenho visão de Raio-X e sei que o elogio fez seu pescoço coçar um pouco."
"Não fez, não."
"Então por que você está passando as unhas aí?".
Quando me dou conta, vejo que estou coçando a lateral do pescoço.
"Hum... talvez um pouco."
Qual é, Anna.
"Não precisa dificultar as coisas.", diz Lia, "Se eu me enganei, basta estalar os dedos."
Perplexa, arregalo os olhos, mordendo o lábio inferior.
"Você me deixa confusa", ela conclui, levantando-se da mesa prestes a caminhar até a porta.
Eu puxo a ponta da sua jaqueta, fazendo-a virar.
"Olha, não sei estalar os dedos. E, mesmo que soubesse, preferiria trocar elogios toscos com você aqui nessa mesa pelo resto da noite, e arrisco dizer que por mais dias além desse."
Ela ri: "Não era mais fácil só me chamar pra sair?"
"Humm, eu sou meio complicada".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paixão & Café
RomanceSan Francisco é quase tão grande quanto o dom de Anna para esbarrar nas pessoas. Em uma cidade tão ampla e populosa, um encontro ao acaso é quase impossível de se repetir. Bem, isso quando a outra pessoa não tem o dom natural de atrair desastres, co...