15. Tacos

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Anna

Ao fechar a porta da sala de estar, não penso em absolutamente nada durante o intervalo entre trancar a porta e me atirar no sofá.

Olho o celular:

Sexta-feira, 15:30

Sorrio com o pensamento de que, daqui a uma hora e meia, estarei diante de Lia. Na verdade, não me parece tão concreto, uma vez que esse dia parece ter demorado séculos a chegar (imagino que vocês, leitores e leitoras, tenham pensado o mesmo) - nunca achei que uma quarta-feira poderia render seis capítulos. Meu senso cronológico faz parecer que se passaram dois meses. Devo admitir que esses foram os dois dias mais longos da minha vida.

Tomando coragem, me levanto do sofá e subo correndo para o meu quarto. Largo minha mochila no chão ao lado da escrivaninha, tiro a roupa e abro a porta do guarda-roupa. Vestindo só uma lingerie lilás, me olho no espelho e tento desvendar qual é provavelmente a roupa perfeita para hoje. Meus olhos percorrem os cabides: camisetões pretos e cinzas, croppeds em tons pastéis, vestidos tubinho, jaquetas cheias de bolsos e um blazer preto com botões dourados que usei uma única vez numa feira de profissões da escola. Do outro lado, as prateleiras: em pilhas irregulares - umas mais altas e outras mais baixas -, vejo camisas polo, calças bailarina e camisetas baby look em tons de marrom e bege.

Caramba. E agora? São muitas roupas para apenas uma hora e meia.

Só então, puxando mais um pouco a porta, encontro o que, na literatura de Jane Austen, seria considerado um 'palpite feliz'. Muito feliz, nesse caso, já que meus olhos brilham diante do conjunto rosa choque de mini saia e cropped bordados com lantejoula da mesma cor nas extremidades - ganhei no meu aniversário de dezesseis anos, mas até hoje, nunca usei. Sinto um rubor nas minhas bochechas ao me imaginar revestida em uma roupa tão ousada - logo eu, que ponho uma meia de cada cor quando estou com pressa - com esse decote que, sobreposto aos meus seios proporcionalmente grandes, é capaz de mostrar até um pedaço da minha alma.

Ok, é esse mesmo.

Tomo banho, espalho um creme hidratante de ameixa por todo o corpo e visto o look mais inesperado para o tipo de garota que sou. Não significa que estou fazendo algo contra minha vontade para impressionar, e sim que hoje é minha oportunidade de descobrir uma nova versão de mim - uma Anna que nem eu mesma alguma vez já vim a conhecer. Faço uma pose na frente do espelho e não consigo conter o riso ao ter em mente a comparação entre a Anna Geek e a Anna Barbie Girl. Coloco a mão na cintura para completar a piada.

Com as faces saturadas pelo blush cor-de-rosa e os cílios alongados pelo rímel transparente, prendo o cabelo em uma trança larga que contorna meu pescoço e percorre meu braço até a altura do umbigo. Só agora noto o quão comprido meu cabelo é, e arregalo os olhos para o meu reflexo. Para o toque final, calço meu All Star branco de cano alto e coloco duas presilhas tic-tac brancas no cabelo, que contrastam com as minhas mechas escuras e seguram minha franja cortininha. Pego uma jaqueta puffer branca e a carrego por baixo do braço.

Desço as escadas e encontro papai no sofá, com o notebook no colo.

"Anny!", ele diz, tirando os óculos quadrados; seus olhos verdes-esmeralda brilhando sob a lâmpada fluorescente da sala, "Você está..."

"Inacreditável?", completo, rindo.

"Inacreditável!", ele levanta do sofá e me conduz escada abaixo segurando minha mão, "Você está sempre linda. E esse look está fascinante!"

"Bem... é bom mudar de vez em quando."

"Deixa eu adivinhar... a garota da cafeteria."

"Pai!", tento esconder um sorriso, "Vou com ela hoje no Taco Bell, mas o fato de eu estar 'irreconhecível' tem mais a ver com descobrir um novo lado meu..."

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