Lia
17:17.
Hoje choveu durante a tarde. E, bem como a chuva, o dia passou muito rápido. Cansei de me entreter no shopping, o que me faz querer voltar pra casa e me preparar pro curso.
Na verdade, isso me leva a refletir sobre o quanto voltar a trabalhar me faria bem. Sabe... voltar a produzir algo. Inclusive porque, após meu encontro com Addison, percebi que, apesar de querer me livrar dos bens que ganhei dela, depois dessa grande mudança na minha vida acabei me acomodando.
Vou procurar emprego.
Andando cinco metros, fico de cara com o Drink Dream. O logotipo vermelho desperta meus sentidos e estimula minhas faculdades mentais a uma grande ideia.
É isso!!! É só entrar e entregar meu currículo.
"Boa tarde", apoio os cotovelos no balcão de atendimento. Um cara de meia idade, barba grisalha e testa franzida se vira na minha direção. "Meu nome é Lia, gostaria de saber se estão precisando de funcionários."
"Funcionários, huh?", ele coloca gelo em um frappuccino, "Já temos muitos, um a mais seria só mais uma perda de gastos."
"Qual é... Anthony", pronuncio, me atentando ao crachá do cara frio à minha frente, "Escuta, tem uma fila de mais ou menos vinte e cinco pessoas lá fora, e além de você só vejo mais duas pessoas colocando chantilly nas bebidas aqui. Não pode estar falando sério sobre não precisarem de mais funcionários."
"Jolie!", ele chama uma cliente, colocando o copo em cima do balcão, "Olha aqui, Lia, o Drink Dream parece um local descontraído onde você senta com um café personalizado na mão e revive os anos 80 ao som de Aerosmith, mas aqui há muito trabalho pra uma garotinha como você. Contratamos apenas a partir dos dezoito."
"O que está insinuando?", disparo, indignada, fuçando meus bolsos até encontrar minha carteira, "Está vendo isso?", seguro meu RG com dois dedos, "Eu tenho mais de dezoito anos. E você não tem o direito de tirar conclusões sobre alguém que nem conhece. Eu preciso desse emprego e ficaria agradecida apenas de poder conversar com o gerente desse inferno."
Ele suspira, "Primeira porta à direita. Diga que é indicação de Anthony Evans."
"Obrigada", sigo caminho até a uma porta de madeira com uma pequena janelinha de vidro: Restrito para Funcionários - Kristopher Clark.
Ok, nada com que se preocupar. Com certeza não tem nada pior do que aquele marmanjo mal educado metido a agricultor de café. Kristopher é um nome pouco temível, o que me leva a reconsiderar que minhas quase escassas habilidades de comunicação formal não sejam motivos de dispensa imediata. Tenho esperanças.
Abaixo a maçaneta devagar, empurro a porta e caminho por um breve corredor com quatro outras portas. E agora? Observo a primeira porta - 'Sanitários'. Não. Faço o mesmo com a segunda e a terceira, até chegar ao fim dos azulejos amarelos - Gerência. Se não for aqui, só pode ser subterrâneo.
Entro gradualmente na sala e me deparo com um rapaz jovem de óculos quadrados, os sapatos sociais marrons apoiados sobre a mesa repleta de papéis, uma das mãos limpando a ponta do cigarro quase no fim e a outra envolta em um livro de capa verde escura... ah, 'Percy Jackson'. É claro, o gerente de uma unidade do Drink Dream tem que ter algum passatempo além de escolher entre investir em pistache ou morango.
"Com licença", prossigo, fechando a porta atrás de mim, "Meu nome é Lia, estou à procura de um trampo...",
Caramba, não!
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Paixão & Café
RomanceSan Francisco é quase tão grande quanto o dom de Anna para esbarrar nas pessoas. Em uma cidade tão ampla e populosa, um encontro ao acaso é quase impossível de se repetir. Bem, isso quando a outra pessoa não tem o dom natural de atrair desastres, co...