Anna
[ My Stupid Heart - Walk off the Earth • Spotify ]
Não existe outra música se não essa para representar o meu momento: 'meu coração idiota'. Meu coração idiota! Idiota!
Não acredito que, mesmo com tudo o que aconteceu, eu ainda fui até lá e deixei o presente pra ela. Por que eu sou assim? Mas, pensando por outro lado, eu não tinha o que fazer com aquelas fotos aqui comigo, de qualquer forma. Eu ainda quero que sejamos um casal, que vivenciemos coisas que jamais pensamos em vivenciar. Juntas.
O mundo é tão fútil, que me parece que o amor é a única coisa que realmente vale a pena. As pessoas são tão superficiais, que quando olho para a transparência da pessoa que Lia é, é como se eu estivesse vendo um milagre. De todas as coisas mais perigosamente brandas e lindas, Lia é a que mais faz sentido na minha jovem existência. Não posso negar que eu a amo.
Paro para prestar atenção na letra da música:
"Eu deveria saber que não havia nada sobre nós que eu pudesse mudar;
[...] Mas então eu tento me lembrar
De toda a dor que tivemos de suportar."
É como dançar à beira de um barranco: movem-se livre os pés dançantes, mas há sempre um medo eminente de cair em meio ao nada. Quero dançar com ela ao som das nossas próprias músicas, mas receio acabarmos sendo atingidas pela dor das diferenças.
Se ela não consegue compartilhar seu passado comigo, honestamente não sei como entendê-la no presente.
Meus pensamentos são interrompidos pelo som do rádio, que começou a tocar uma música do Elton John. Ah! Conheço a melodia, mas não lembro o nome. Odeio quando isso acontece.
Estou sentada à mesa da cozinha com uma xícara de café e um prato de torradas, entretida em mexer nas dobrinhas da toalha de mesa. Meu pai marca presença com o barulho de panelas batendo, o que é meio irritante, mas eu não o culpo, já que o armário é de fato pequeno demais para guardá-las. Ele parece irritado com a falta de espaço.
"Está arrumando o armário de novo?", pergunto antes de beber um gole de café.
"Precisa.", ele diz, impaciente, "Isso aqui está um horror. Que inferno! É quase como se tivesse um convite dizendo: 'Venham, aranhas! Venham morar nas panelas do Adam!' "
Solto uma risada.
"Não precisa se estressar, pai. Vem, toma um café, depois eu te ajudo a fazer isso."
"Não! Eu vou terminar isso hoje. Preciso comprar um espanador para... Ah! Sai!"
Ele pisa bruscamente em uma aranha que sai do armário.
Ela saiu do armário, penso. E coloco a mão na boca para segurar o riso. Meu Deus, como eu sou infantil.
"Tá, amanhã eu posso passar na lojinha da esquina pra comprar um espanador, ok?", eu me levanto e apoio a mão nas costas dele para conduzi-lo a sentar à mesa, "Agora vem tomar café."
"Certo...", ele suspira e se senta, "E o Nicholas? Ele vai à formatura hoje?"
"É claro que ele vai", respondo antes de morder uma torrada, "Ele sabe que, se não fosse, eu iria até a casa dele e puxaria ele pelos cabelos, enrolado no cobertor e tudo."
"Você já pensou em lutar Muay Thai? Acho que seria um jeito legal de descarregar esse demônio de agressividade crônica dentro de você.", Nick surge na cozinha com uma sacola de mercado, "E, sim, a porta do quintal estava aberta."
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Paixão & Café
RomanceSan Francisco é quase tão grande quanto o dom de Anna para esbarrar nas pessoas. Em uma cidade tão ampla e populosa, um encontro ao acaso é quase impossível de se repetir. Bem, isso quando a outra pessoa não tem o dom natural de atrair desastres, co...