Paixão & Café

10. Passado

Lia

13:07.

Faz mais de uma hora que ela visualizou a última mensagem, mas ainda não me respondeu.

Será que eu falei demais?!

Ou... ela pode só ter voltado pra aula. Afinal, não quero ser um empecilho nos estudos dela. Qual é! Juro que estou tentando ser a good girl que pode motivá-la e deixar as coisas fluírem no ritmo dela. Não quero estragar tudo...

Bem, talvez eu precise me distrair. E eu certamente estou no melhor lugar pra isso: o shopping. Se eu não conseguir me livrar desses pensamentos aqui, então não há lugar onde eu possa fazer isso.

Levanto devagar da mesa onde acabei de dar a mordida final em um Big Mac com tanta alface que por um momento me senti vegana. É, sem dúvida, sou do time carne - e, se algum dia isso mudar, quer dizer que minha alma me deixou.

Tiro um Trident de hortelã do bolso do jeans e caminho no corredor de lojas de roupa, para ver se encontro algo do meu interesse - uma peça tão emo quanto meu 'eu' de dois anos atrás. Não exatamente emo, mas, sabe... trapos, que é só o que eu uso todos os dias.

Passo em frente à GAP, e olhando aqui, aquela jaqueta verde-musgo e cinza me parece favorável. Bem, não que eu tenha dinheiro pra isso hoje, mas... não custa sonhar.

E a próxima vitrine a me atrair é a Dior: um conjunto de moletom branco com faixas azul-marinho nas mangas. Sempre que vejo roupas assim, não consigo deixar de me imaginar jogando golfe aos domingos com um grupo de idosos ricos em um gramado cheio de Golden Retrievers correndo por aí.

Rio com o pensamento.

Ah, claro. A grandiosa Victoria's Secret, tão graciosa quanto uma família de unicórnios. Só... não faz meu tipo. Quer dizer, é claro que eu investiria nessa camisola salmão com um laço lilás no peito, se... fosse um presente para alguém. Alguém com... curvas bem definidas, pele macia, cabelos castanhos ondulados e um sorriso desajeitado. Alguém como...

"Lia?", uma voz feminina chama de dentro da loja, dispersando-me da nuvem de pensamentos intensos.

Volto meu olhar para a porta e...

"Addison?", meus olhos se expandem, perplexos.

"Achei que nunca mais nos veríamos."

Addison, minha ex-namorada dois anos mais velha que conseguiu virar minha vida de ponta-cabeça em sete meses. Era a última pessoa que eu gostaria de encontrar hoje, ainda mais no meu momento de tentar andar pelo shopping sem pensar tanto em Anna.

"Também achei.", coloco as mãos no bolso e desvio o olhar para o lado.

Ela se aproxima devagar, o barulho dos saltos ecoando nos meus ouvidos.

"Você está sozinha?", ela diminui o volume da voz, passando suas unhas pretas pela minha bochecha e segurando meu queixo.

Com um suspiro impaciente, eu tiro sua mão: "Não é da sua conta."

"Hum... por que essa grosseria? Esqueceu de quanta diversão eu já trouxe pra sua vida?", ela me olha de cima a baixo com um sorriso malicioso, jogando seu cabelo loiro para o outro lado.

"Addison, a única que está esquecendo alguma coisa aqui é você. As únicas coisas que você trouxe pra minha vida foram problemas. Ouviu? Problemas."

"Por que você sempre banca a durona, hein? Eu errei, tudo bem, eu confesso. Mas isso não é motivo pra me anular da sua vida. Olha quanta coisa a gente já construiu! Sua casa, seu carro...", ela lambe o canto da boca, "sua virgindade..."