A garota caminha e caminha. Os apartamentos iluminados se isolam uns dos outros em uma sequência aleatória. Cada edifício possui vários deles, mas não amontoam mais do que dois ou três, um seguido do outro, tendo portando vários apartamentos vazios divisores entre eles.
O foco, entretanto, não são as luzes dos andares acima. Conforme se aproxima, nota finalmente alguns estabelecimentos iluminados e se iluminando no térreo também. Há movimento em alguns bazares e, principalmente, nos prédios. Um dos quais se aproxima.
Observando de perto, várias pessoas se movem em direção à saída do local. Alguns se dirigindo aos restaurantes próximos, que ainda estão sendo abertos, outros somente socializando e conversando em um ajuntamento estranho, no hall de entrada do edifício. São dezenas de pessoas, talvez trinta ou quarenta, dispostas de pé e sentados no chão e nas poltronas. Familiares e amigos, conhecidos e estranhos, todos formando grupinhos em algum lugar. Há mães e crianças, homens e adultos de todos os tipos, pessoas bem e mal vestidas, japoneses e estrangeiros. Todos no mesmo lugar, mas não fazem estardalhaço. Apesar da diversidade social, não parecem convidativos e nem socialmente interessantes. Não parecem realizar uma interação animada.
O ambiente é iluminado friamente pelas lâmpadas do teto em uma cor amarelada, que não esquenta em nada o ambiente. Está esfriando e há um clima pesado no semblante da população. Eles conversam com expressões sérias e preocupadas, por vezes tristes e caídas, o que cria uma sensação sombria de que algo de muito errado estava de fato acontecendo.
Ao entrar, ninguém dá realmente alguma importância para ela. Rostos curiosos fitam a moça estrangeira que adentra o prédio, mas não fazem mais do que olhar, logo voltando para suas rodinhas. Muitos continuam fitando o lado de fora, como se procurassem por algo.
Ao localizar um pequeno grupo próximo, a garota segue em sua direção, logo chamando a atenção de um deles:
- Com licença, posso saber o que está acontecendo?
O homem a encara, desconfiado.
- Como assim? A que se refere?
- Quero saber qual o propósito de tudo isso. E o que aconteceu com o restante da cidade.
- O que quer dizer? - ele cruza os braços. - Está como todas as outras! Por que estaríamos diferente dos outros países? Aquele desgraçado está atacando todos os lugares... Não há lugar seguro por aqui. Lamento se veio procurar abrigo, estrangeira, mas perdeu a viagem... - ele acena com a cabeça na direção da rua - Há comida por perto. Mas não se descuide ou os Soldados vão te pegar também. Torça para eles não encrencarem com você...
A garota cruza os braços também.
- Me desculpe, eu não estou muito bem hoje. Minha memória está um lixo e eu estou realmente muito perdida. Mas estamos falando da mesma pessoa? Quem fez isso, foi Adriãn?
Os colegas atrás soltam uma risada fraca. O japonês arqueia a sombrancelha pra ela, ainda mais desconfiado mas um pouco mais paciente.
- Eu não faço ideia de quem seja Adriãn. Quem atacou a população foram as tropas do Governante, durante o plano de Zero Oposição. O maníaco que se auto intitula o "Conquistador", entendeu?
Não lhe eram nomes estranhos, embora nunca tenha ouvido falar. Se sabia de algo, era de que Adriãn amava títulos megalomaníacos. Suas suspeitas estavam praticamente finalizadas. Resta apenas a calma para avançar tranquilamente e acabar com tudo aquilo, de alguma forma, sem perder a cabeça. De preferência, sem apelar à violência.
Por enquanto, segue o plano de tirar mais informações antes de partir para o fogo cruzado.
Gentilmente, a garota sorri timidamente e pergunta:
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Coroas Malditas: Crônicas Da Guerra e Da Paz
AdventureNo início, era o Vazio. E o Vazio era belo. E o Vazio resolveu ser. E assim se tornou Ser. E sendo algo, se tornou conceito, significado. O Vazio se tornou Medo. E preencheu a Existência. O Vazio se tornou Guerra. E perseguiu o Medo. O Vazio se torn...