O Czar e o Conquistador - 12

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   A poeira levantada pelo impacto e pela onda de choque se dispersa pelo ar em partículas brilhantes, em virtude da luz da atmosfera e do calor atenuante, impossibilitando uma visão clara. Um único ponto de luz se destaca no céu, mantendo a luminescência branca incompreensível, que esclarece a tonalidade avermelhada com sua potência estarrecedora. Como se o próprio sol tivesse aberto um buraco na atmosfera, cansado e irritado, violentamente tocando a Terra com seus raios solares.

   Os dois seres permanecem de pé sem se distanciarem um único centímetro do ponto original, ante o evento surpresa ameaçador. Eles lutam para se acostumar com as densas partículas luminescentes, procurando enxergar algo inteligível.

   O Rei levanta seus olhos para o clarão incomparável no céu, observando, como pode, a luz com os olhos semicerrados e a mão sobre o rosto. Uma visão mais clara denuncia a situação em que se encontra: Sua mão, acima de sua cabeça, está em carne viva, pingando sangue em tom carmesim sobre sua testa. Mas ele não sente o sangue tocá-lo. Não sente nada. Seu braço direito está inteiramente queimado, em uma mistura deformada de carne, tecido, metal e algum material artificial.

   Ele admira, surpreso, totalmente perplexo, o estado de seu corpo. Ao ensaiar uma expressão de desgosto e terror, sente também os músculos de sua face rasgando, fisgando uma sensação de desconforto e leve dor no lado direito, como se sua pele estivesse colada e fizesse força para movê-la. Sua mandíbula também está paralisada. Ele força uma abertura na boca, sentindo uma dor lacerante que culmina em um gemido gutural e agoniante.

   Ele fecha a boca novamente, cerrando os dentes e voltando o olhar novamente ao céu. Em específico ao novo sol na Terra.

   - A Estrela Vermelha do Norte... - ele dispara com raiva, se contendo para não deixar escapar um gemido durante a fala. Volta também o rosto para a garota, que está novamente visível à frente, ainda encarando o céu - Que porra de dupla formidável!!! - ele declara, animadamente irritado.

   O clarão instantaneamente aumenta consideravelmente sobre seu lado direito, queimado, cegando momentaneamente a visão do Conquistador. Mas ele não se guia pela visão.
Rapidamente, considerando o evento, seus olhos brilham conflitantes em azul, desafiando a luz branca que os encobre. Ele se movimenta com tranquilidade, dando um pulo para trás em câmera lenta. Seu corpo segue a inércia, atravessando o ar pressurizado quase em estado líquido, se afastando como se não houvesse gravidade.

   A luz se desloca à sua frente, seguindo da direita pela esquerda em questão de microssegundos, preenchendo totalmente o espaço onde estava ainda agora há pouco. A velocidade gera mobilidade nos átomos do ar, empurrando as partículas presentes no gás como se fosse sólido, acertando o Rei com um impacto absurdo, que facilmente limpa a região em um raio de dezenas de metros para todas as direções. Mas o Conquistador nem se move, mais uma vez.

   O Rei fita o adversário com raiva, inconstante e desafiador, com um sorriso debochado no rosto. Ele toma uma postura de luta focando totalmente na luz à frente e ignorando totalmente a posição antiga da garota, seguro de que logo ela apareceria independente de como a considerasse.

   E não tardou para que se provasse certo. Convicto da sagacidade da moça, ele prevê rapidamente o lance de espada que é lançado sobre sua garganta por suas costas. O Rei desvia com ainda mais facilidade, se movendo para o lado e procurando tomar distância para um contra-ataque. Mas, ainda durante a movimentação, ele observa a luz, que agora perde potência luminescente e toma um formato mais concentrado, tomando a forma de uma mão que aponta para si com dois dedos.

   O Conquistador encara o ataque, ofegante. Mesmo com sua velocidade e previsão, ele só tem tempo para se defender enquanto um raio de energia concentrada é disparado pelos dedos da criatura, acertando diretamente seu rosto pelo lado esquerdo. O Rei é lançado com força, caindo no chão, rolando e sendo empurrado há metros de distância pela força do feixe de calor constante. Mas logo, recupera suas forças e se levanta, controlando a situação, defendendo o rosto com um braço enquanto seus olhos brilham com voracidade na tonalidade azul, consumindo o calor do disparo e consequentemente diminuindo sua potência.

Coroas Malditas: Crônicas Da Guerra e Da PazOnde histórias criam vida. Descubra agora