Lâmina e Sangue - 05

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   A Sentinela Verde se debatia violentamente, tentando se livrar do humanoide que a detia. Vendo seu parceiro empalado, ela esticava o braço e gritava, inutilmente, tentando chamar pelo colega, tentando alcança-lo. Ele, se a ouvia, não demonstrava. Estava mais preocupado se atentando à própria morte. E logo, cai por terra, tombando inerte.

   Vendo quão alterada a moça se encontrava, o boneco logo congela seu corpo sobre o carro, prendendo-a sobre uma grossa camada de gelo, restringindo seus movimentos.

   - O Leão... Morto. E o Javali, capturado. - o Oficial murmura, encarando o braço ensanguentado. - Vocês fazem jus às Lendas, Sentinelas greco-niponicos. Sua amiga ficará muito feliz em saber o quão grandes vocês se tornaram, no fim. Amenizará a dor de suas mortes.

   - SEUS FILHOS DA PUTA!!! - ela grita em coreano, em tom choroso e incompreensível para a população local. Mas expressivo o suficiente para os bonecos entenderem - VOCÊS SÃO MONSTROS!! VOCÊS QUE MERECEM MORRER!!!

   O Oficial a encara, dando um passo a frente. Enquanto pensa no que responder, um vulto invade seu campo de visão e voa em alta velocidade sobre seu rosto. Ele perfura o cristal com precisão, rachando o gelo à volta. E antes que possa revidar, o parceiro, que já se movimentava, se põe logo acima do vulto, pronto para agarrá-lo. Percebendo isso a criatura gira, retirando a extensão negra que ainda se prendia no maxilar do boneco, quebrando mais gelo no processo e se abaixando, passando por baixo do Oficial livre.

   A sombra se arrasta pelo chão por um ou dois metros, sofrendo a Inércia do movimento de esquiva, antes de avançar novamente contra os humanoides. Mais preparado, o boneco recém machucado se joga de encontro com o adversário misterioso, preparando um ataque potente com os punhos. Ele carrega o golpe, ainda no ar, e dispara um soco. De alguma forma, os dois seres se desencontram. A figura desvia no último segundo e o boneco passa reto por ele. Ou é o que parece.

   Enquanto derrapa no chão, tentando parar, o Oficial observa seu braço se desprender do próprio corpo, em uma abertura lisa, e cair duro no chão. Ele entende o que aconteceu.

   Do outro lado, o outro humanoide se vê paralizado enquanto também observa o colega perder o membro.

   Entre eles está uma figura escondida em trapos e tecidos soturnos, usando uma capa e um traje encouraçado com detalhes em metal. Um espécie de hijab cobre a parte superior do rosto e esconde das laterais até a nuca, deixando só o nariz e a boca, com marcas de cortes, manchas roxas e cicatrizes, à mostra. Em sua mão, uma espada negra de lâmina rubra se destaca, chamando a atenção, como se roubasse as cores à sua volta. E sobre sua cabeça, outro ítem se dispõe, discreto mas brilhante, mesmo enferrujado. Há uma coroa prateada, anelar, com pequenas inscrições e detalhes figurativos, sobre o qual há também um design adjacente, como uma coroa dupla simulando cheias folhas de louros: um Laurel.

   A criatura se detém momentaneamente, como se desse aos humanoides, perplexos, o luxo da contemplação. Aquele que perdeu o braço se volta totalmente, fitando o Ser encapuzado com repulsa.

   - Como você...!? - ele balbucia, perdido na própria raiva e desentendimento.

   Mas antes de terminar o raciocínio, a lâmina, escura como ébano, faz outro movimento limpo, rápido. Com um giro, avançando como um raio, o boneco só pôde ver um borrão enquanto a escuridão transpassa seu corpo e sua cabeça se curva em um ângulo estranho, caindo no chão logo em seguida. O corpo permaneceu de pé, movendo os pés e as mãos, ainda reagindo ao ataque súbito. Atrás de si, o encapuzado balança novamente a espada, mas não há nada para ser limpo na lâmina. Ela permanece mais escura do que a noite, que toma cada vez mais do céu acima de suas cabeças.

Coroas Malditas: Crônicas Da Guerra e Da PazOnde histórias criam vida. Descubra agora