Sangue e Gelo - 14

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   Sob os céus em chamas, o monarca arfa completamente ofegante no meio de uma crise de raiva. Seus olhos azuis faíscam de irritação e arrogância.

   Seu corpo está ainda mais cortado e desmantelado que antes, apresentando fissões e rupturas muito aparentes ao longo do corpo. Resultados de um rápido duelo de espadas realizado durante o espetáculo explosivo acima destes.

   - Vocês se acham especiais, não é...?! - ele questiona em baixo tom, quase num sussurro. - Acha que pode me vencer, porque tem meus olhos e pode me ferir... Petulantes, insolentes! Serena, não... Como se chama, mulher?

   Ela o encara séria, tranquila.

   - Pouco importa à você! - A garota declara sem se perturbar.

   - EU - ele grita logo em seguida - SOU ANNU!! O CONQUISTADOR!!! A ABSTRAÇÃO MULTIVERSAL DO FIM!!! POVOS E NAÇÕES INTEIRAS SE AJOELHARAM DIANTE DE MIM!!! HERÓIS E... - ele se atrapalha - H-HOMENS, MULHERES DO MUNDO INTEIRO... ME ADORARAM!! ME ADORAM!!! S-SABE QUANTOS MUNDOS EU DERRUBEI?!?!? SABE QUANTOS EU MATEI?!?!?! EU SOU A ENCARNAÇÃO DO MEDO!!! - respira - EU SOU A MORTE!!!

   Ela muda levemente sua expressão, contorcendo o rosto em uma careta enojada.

   - Você é mesmo, um verme. - ela diz, mais para si mesma.

   - VOCÊS são vermes!! - o Monarca interrompe - Seres inferiores que não compreendem nada!! Eu sou mais, eu sou maior do que tudo isso!!!

   - Você diz muito sobre si. - A mulher o responde - Como se sua própria imagem não gritasse exatamente o tipo de ser que é...

   - EXATAMENTE!! - Ele concorda, se exatando novamente - Minha imagem já diz!! Eu não preciso ficar me explicando! Mas parece que mesmo estando óbvio, vocês, criaturas irritantes, não compreendem o significado da própria existência!! Não vêem o destino, a verdade, na sua frente!

   Ela estreita os olhos, curiosa.

   - Destino? Verdade...? - questiona - Eu vejo um homem muito triste e frio, na minha frente. Uma criatura fraca e indefesa. Que se sente ameaçada, e por isso ataca qualquer um e qualquer coisa. É patético! Sequer chego a ter raiva, de você. Nesse exato momento, minha maior irritação é puramente pessoal: Não gosto de você! E isso é tudo. Minha lâmina... - ela estende a espada rubro-negra à frente, apontando para o Rei - é absolutamente mais fria e mais estável do que você...!

   O déspota a encara em silêncio, estranhamente indiferente.

   Passados alguns segundos, para a surpresa da mesma, ele se pronuncia, mais controlado:

   - Então me mate! Acabe com isso!!

   Ela bufa, insatisfeita.

   - É isso que nos difere, Annu. E te difere de Adriãn! Eu quero matá-lo! Mas tenho a escolha de não o fazer. Também quero evitar fazê-lo... Não é assim que sou... Por isso... Entendo agora que deixar as coisas seguirem como estão e continuar com essa dança insalubre só vai nos machucar mais e mais. Você não pode me matar. É inútil... E mesmo que eu te mate, você voltará... De novo e de novo... A morte não é a melhor saída para isso.

   O Monarca solta um som gutural, como se engasgasse com o próprio riso.

   - Não. Você não entendeu... - ele comenta, cínico - Você pode destruir meu corpo, demônio. Mas não pode me matar! A morte não é mesmo a resposta. E não se trata de me matar, se quer saber. E quero que saiba! Se trata de me vencer. De mitigar a ideia que represento. Eu viverei na boca de todos aqueles que ainda se lembrarem de mim... De todos que temerem meu nome, ou o gelo, ou o frio... Ou as chamas, ou a guerra, ou a morte... Eu vivo enquanto temerem o mundo, enquanto viverem do Medo!!!

Coroas Malditas: Crônicas Da Guerra e Da PazOnde histórias criam vida. Descubra agora