Uma cidade imensa, com centenas de milhares de lugares para uma pessoa frequentar e eu precisava encontrar justamente o Gael, ainda mais com o Dani, no mesmo lugar que eu estava com o Vitor.
- Seu irmão fez 18 anos e já quer aproveitar os benefícios da maioridade - Vitor falou.
- Mas como ele veio parar justamente aqui? - perguntei, ainda surpreso com a coincidência.
- Esse é um point bem conhecido na cidade, ainda mais no Domingo, muita gente acaba vindo para cá - Vitor explicou.
- Só pode ser brincadeira, o que ele está fazendo com esse lixo? - estava indignado em vê-lo junto com aquele rapaz que no dia anterior tinha tratado ele de uma forma tão absurda.
Gael se sentou numa mesa e aparentemente não tinha percebido que eu estava no mesmo ambiente que ele.
- O que ocorreu ontem? - Vitor perguntou, curioso.
- Nada, é melhor nem relembrar.
- Você quer ir para outro lugar?
- Pode ser, vamos só esperar os drinks que pedimos chegar e partimos.
Ficamos conversando enquanto aguardávamos a chegada do garçom. Mesmo tentando fingir naturalidade era óbvio que toda minha atenção tinha se voltado para a mesa a alguns metros de distância. Tentava entender o que rolava na mesa de Gael, mas no meio daquela muvuca e do som alto era quase impossível "pescar" qualquer coisa. Ao mesmo tempo, não queria fixar muito meu olhar para eles justamente para não ser notado.
- Pronto, podemos ir - disse Vitor, chamando minha atenção.
- Ótimo, vou no caixa pagar e já vamos.
Por sorte, a mesa que Gael estava não era perto do caixa e nem da saída. Fiz o pagamento das comandas e encontrei Vitor na porta. Seguimos para o apartamento dos pais dele sem conversar tanto. Vitor era esperto e notou que o clima não ficou muito bom depois que vi Gael entrando no bar, porém imaginei que ele não teria entendido o real motivo para essa mudança de humor.
- Pronto, chegamos - falei, quando estacionei o carro na calçada do prédio.
- Você não quer subir? - ele perguntou.
- Acho melhor não, seus pais já devem estar dormindo, não quero incomodar - respondi, tentando não ser mal educado. O encontro tinha sido ótimo, confesso que se não tivesse visto Gael, ainda mais acompanhado do Dani, certamente teria rolado algo mais.
- Sempre soubemos ser discretos, aposto que eles nem iriam notar - ele disse, passando a mão na minha perna.
- Sempre provocador - tentei desviar - Mas é arriscado.
- Ok, mas foi um prazer passar essas horas com você, depois de tantos anos. Espero poder te rever mais vezes.
- Pode deixar, você tem meu contato agora, podemos conversar mais e quando eu retornar para São Paulo, espero vir com mais frequência, combinamos algo. E se for para Nova York, tem onde ficar.
- Vou cobrar essa hospedagem - ele disse, já descendo do carro - Espera aí!
Vitor retornou para dentro do carro e me surpreendeu com um beijo. Fique sem reação a princípio, mas institivamente acabei retribuindo. E que beijo! O tempo só tinha aperfeiçoado algo que, na época da adolescência, eu já adorava. Vitor sabia como beijar.
- Não poderia deixar você ir embora sem pelo menos esse beijo de recordação - ele falou, antes de sair do carro e bater a porta, seguindo em direção a portaria do prédio.
Fiquei ali parado por alguns instantes, tentando processar tudo que tinha acontecido. A paixão e desejo por Gael, nossas transas, o reencontro com Vitor, a forma como ele ainda mexia comigo, nosso encontro no bar, ver Gael com Dani e para finalizar, esse beijo. Era muita informação e tudo isso em menos de uma semana.
Retornei para casa, todos já estavam dormindo e Gael ainda não tinha retornado. Pensei em ligar, mas não queria criar nenhuma situação. Subi para o meu quarto, tomei um banho e fiquei deitado na cama, refletindo sobre os acontecimentos que tinha acontecido em tão pouco tempo.
Lembrei que não tinha comido nada e desci até a cozinha para preparar algo. Estava sentado no balcão quando escutei a porta de entrada abrindo, segui até lá e me deparei com Gael.
- Oi, que bom que chegou - cumprimentei e estranhei ele com uma blusa de capuz.
- Oi, estou cansado, conversamos amanhã - ele tentou desviar, querendo subir para o quarto.
- Calma - segurei ele e tire o capuz que cobria seu rosto e fui surpreendido - O QUE AQUELE DESGRAÇADO FEZ COM VOCÊ?
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AMOR DE IRMÃO
Short StoryDois irmãos, laços de sangue, até onde isso pode definir o que é certo ou errado? Difícil dizer o que é permitido ou não quando nosso coração nos prega uma peça.