11. Fechamento de ciclo

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Eu, Shanks e meu irmão estávamos sentados no escritório do capitão. O diário da Laura estava pousado na mesa de madeira entre nós. Os três encaravam aqueles pedaços de papel sem muita certeza do que dizer.

- Eu não posso dizer que estou surpresa... mas estou um pouco chocada, sim - murmurei enquanto encarava aquele caderno que eu tinha lido e relido um milhão de vezes nos últimos dias. - não imaginei que ela fosse tão importante. Achei que fosse uma mulher normal, só meio psicopata, mas não que trabalharia pros dragões celestiais.

- Muito menos que teria uns brutamontes como seguranças - Pedro respondeu - se bem que demos conta deles rápido.

- Vocês foram ótimos. - Shanks disse com serenidade.

Eu estreitei os olhos.

- Você nem estava lá, como pode afirmar isso?

Ele fez uma cara de desentendido.

- ...pode ser que eu tenha ficado do lado de fora observando.

- Shanks!

- O que? Eu tava preocupado com você! Claro que eu sei que você sabe se cuidar, mas não quero ficar aqui ansioso pensando se você tá bem. - ele revirou os olhos e eu revirei em seguida.

- Ele tem razão - Pedro disse.

- Claro que tenho. Enfim... - Shanks inclinou-se para a frente - descobrimos alguns segredos obscuros nesse diário. Ficou evidente que Laura estava envolvida no tráfico de pessoas. Mas o que me intrigou foi o fato dela ter poupado vocês dois. Vocês eram mercadoria certa pra ela.

Eu olhei para o diário e franzi as sobrancelhas.

- Com certeza não foi porque ela é boazinha. Alguma coisa deve ter acontecido. 

Pedro cruzou os braços. 

- Não é por nada, mas não vejo o menor sentido. - ele acrescentou - eu escuto até um quilômetro de distância e a S/n tem um poder de literalmente controlar as flores. A gente era meio valioso.

- Concordo. Mas não vamos tirar conclusões precipitadas - Shanks acenou com a cabeça - ela deve ter tido razões pra manter vocês fora disso. E sejam quais forem essas razões, podem ainda ser relevantes hoje em dia.

Eu respirei fundo.

- Temos que confrontar ela. Já temos provas suficientes. Não podemos deixar ela escapar. Chegamos até aqui, não podemos recuar.

- Eu concordo com você, mas a gente tem que ter cuidado. Ela é perigosa, e ela se sentir encurralada, pode ser ainda mais imprevisível - meu irmão respondeu.

- O Pedro tem razão. Vamos seguir o plano. - o ruivo ordenou.

- Sim. A casa dela, esta noite. E você vem junto, capitão. - sorri.

(...)

A lua pairava baixa no céu noturno, lançando sombras na mansão isolada de Laura. 

Eu toquei a campainha.

- A porta está aberta. - ouvi a voz feminina de dentro da casa.

Estremeci. Olhei de relance para Shanks, para me assegurar de que estávamos seguros. Ele assentiu.

Quando girei a maçaneta, imediatamente a vi. Sentada no meio da sala, fumando um cigarro, calma e tranquila, como se nada tivesse acontecido.

Eu estava carregada de raiva. Paralisei por alguns instantes, o sangue fervendo, minha vontade era de enforcá-la com as minhas próprias mãos. Senti a mão de Shanks apertando meu ombro.

- Finalmente vocês estão aqui. Já faz um tempo... - ela sorriu maliciosamente - vocês acham que eu seria idiota o suficiente de planejar alguma coisa contra um yonkou? - seu olhar frio e calculista nos encarou.

Eu cerrei os punhos, minha raiva misturada com uma dor profunda que nunca se apagaria. Pedro estava calado. Percebi que ele queria que eu mesma lidasse com a situação.

- Você tirou tudo de mim - eu falei com a voz trêmula de raiva e mágoa - eu sei de tudo o que você fez. Não posso dizer que estou surpresa.

Olhei para Pedro e suas mãos tremiam. Ele estava tentando se conter.

A risada de Laura ecoou, enviando arrepios pela minha espinha.

- Crianças... vocês sempre foram tão ingênuos. - ela me encarou - você não têm ideia do que é preciso para sobreviver neste mundo. O mundo é cruel.

- O mundo é cruel? É assim que você justifica matar nossos pais e vender gente para dragões celestiais? - gritei - você é a pior pessoa que existe. Eu juro que podia te matar agora. Mas eu não sou como você. Ainda tenho escrúpulos.

- Você acha que é muito melhor que eu, mas virou pirata. Logo abriu as perninhas pra pegar um yonkou, né? Não esperava menos de você. Inteligente. Eu teria feito o mesmo. 

Eu andei e dei o maior soco que pude na cara dela. Ela caiu no chão. Shanks me segurou.

- Eu sei. - tranquilizei ele sobre o plano - só me deixa fazer isso.

O rosto dela sangrava. Eu cuspi em cima dela. 

- Espero que você morra na prisão.

O homem, ou garoto, de cabelos cor de rosa e óculos fundo de garrafa entrou pela porta dos fundos.

- Vocês me disseram que ela seria entregue intacta. - ele murmurou enquanto agachava para colocar as algemas em seus pulsos.

- Seja compreensivo, capitão. - Shanks pediu numa voz baixa - ela tem seus motivos.

- Estou deixando claro que não estou prendendo essa mulher em nome da marinha. Estou fazendo isso em nome da Sword. Ninguém pode saber - o garoto disse - nem que me encontrei com você. Só estou fazendo isso por causa do Luffy-san.

- Um dia pagarei o favor de volta. - Shanks respondeu.

Eu segurei a mão de Pedro enquanto a via sendo carregada para fora.

- Peraí, vocês não querem saber o porquê de eu não ter vendido vocês dois? - ela gritou.

- Não. - Pedro respondeu, sucinto.

Acho que nem eu queria saber. Não precisava viver com isso.

(...)

Após entregarmos Laura ao capitão Koby e eu e Pedro encerrarmos aquele capítulo sombrio das nossas vidas, nós voltamos ao navio. O clima a bordo era um misto de alívio e tensão. A ilha agora estava para trás. E com isso toda minha bagagem de dor e sofrimento.

Eu estava na proa do navio, olhando o horizonte e o mar enquanto o vento brincava com meus cabelos. Senti o ruivo se aproximando lentamente, seus passos hesitantes.

Me virei para ele, dando um sorriso leve.

- Obrigada.

- Já disse que você não precisa ficar me agradecendo.

- Preciso, sim. Não era problema seu. 

- Se é problema seu, é problema meu.

Eu sorri. Ele se acomodou ao meu lado.

- Sabe, você sabe que a vida de pirata é uma aventura constante. Ainda mais pra mim. - ele riu - mas ultimamente as coisas estão mais... agitadas. Acho que isso é culpa sua.

- Sério?

- Não acho, tenho certeza.

Eu dei um risinho.

- Está me chamando de causadora de problemas?

- Não. 

Revirei os olhos. Ficamos em silêncio por alguns instantes.

- O que você acha de casar comigo? - ele perguntou sério e meu coração disparou.

- Para de brincar com meu coração - sorri.

Aí ele tirou uma caixinha do bolso. Um anel com um diamante gigantesco, que com certeza valia mais que minha casa, apareceu bem diante dos meus olhos.

- Estou falando sério. Case comigo.

Les tulipes | Shanks x S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora