Capítulo 21

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Não ligava mais para as trapaças que sua própria mente criava, iria tentar uma chance de ser feliz... mais uma vez.

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Alguns alunos olhavam confusos, afinal, Toji havia ido embora (ou não?).

Você permaneceu congelada, cada vez queimando mais sob o olhar dele.

— Por favor.- Sua voz era carregada por uma súplica inexplicável.

Não era do tipo de pessoa que gostava de discutir em público, então levantou e foi até a porta, sentindo os olhares curiosos atrás de si.

Assim que passou por ele, sentiu o cheiro do perfume amadeirado que tanto sentiu falta estes dias.

Cruzou os braços e começou a andar em direção ao refeitório, visto que estaria vazio a essa hora.

Escutava os passos que a seguia.

Quando chegou no local, sentou-se na mesa mais afastada, próxima a uma janela.

— Por que voltou?- Foi a primeira coisa que perguntou.

Ele se sentou a sua frente.

Pôde o notar sem jeito como nunca viu.

Aquele homem imponente e soberbo, agora não estava presente.

Seria mais um disfarce?

Ele engoliu em seco, antes de finalmente fitar seus olhos.

— Porque senti sua falta.- Saiu sincero, assim como as palavras proferidas antes de ser deixada.

Deu um riso sem humor, tombando a cabeça para trás.

— Fala sério! Você some por quase uma semana, eu descubro que você sempre teve o mesmo joguinho, e agora você volta dizendo que sentiu falta?- Indagou, seu rosto era puro rancor.

Ele sorriu triste.

Aquilo ainda te magoava, mesmo que contra vontade.

— Acho que não vou ter como te contar sem ser do início.- Ele estendeu a mão esquerda, tentando pegar a sua.

Você a puxou.

Ele olhou para a janela, começando a falar.

— Eu nasci numa família pequena. Composta por meus pais, um tio e meus avós.- Ele entrelaçou os dedos, ainda sem coragem de olhar em seus olhos.

Você respirou fundo. O que cacetadas a família dele tinha haver?!

— Aos quatro anos, meu pai morreu em um acidente de trânsito. Eu estava com ele no momento, e eu juro que lembro de tudo, mesmo sendo extremamente novo na época.- Ele finalmente olhou para você.

Você continuou sem expressão.

— Quando a notícia chegou para a minha mãe, ela ficou transtornada, jogou a culpa em mim. Dizia que meu pai nunca teria morrido se eu não estivesse com ele. E sendo bem sincero, só agora eu percebi que isso não fazia sentido. Passaram-se poucos anos, a minha mãe permanecia me tratando mal, foi quando minha avó percebeu que as coisas estavam passando dos limites, e retirou a guarda da minha mãe.

Você entreabriu a boca, ainda confusa do porque de isso ser relevante para um contexto ao todo.

— Eu morei pouco tempo com meus avós, porque eles faleceram dois anos depois de me adotarem, com diferença de óbito de poucos meses. Eu fiquei mal, e acabei achando que a morte deles, assim como a do meu pai, também havia sido culpa minha.- Ele novamente voltou a olhar a janela.- Meus tios foram chamados e questionados se poderiam ficar comigo, acho que tiveram medo de rejeitar perante a justiça e aceitaram.- A expressão triste se formou em algo rancoroso.- Eu vivi um inferno por cinco anos. Eles me maltratavam e negavam coisas básicas para a sobrevivência de qualquer pessoa. Até que um dia, quando eu tinha 14 anos, eu acordei e encontrei uma casa vazia. Sem móveis, sem energia, sem ninguém.- Ele riu sem humor.- Eu acho que eles devem ter me drogado para não acordar aquela noite, porque não é possível que eu não tenha escutado uma mudança!

Anatomia - Toji Fushiguro (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora