Capítulo 21 - Na Teia da Aranha

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As semanas que se seguiram pareciam um sequência de repetições cansativas e desestimulantes. Tudo só fez com que Alexander se aproximasse cada vez mais de Miranda! Não era alguém próximo o suficiente para compartilhar suas dores, mas não distante o suficiente para não ser solidária. Parecia a pessoa ideal com quem podia desabafar e conversar sobre todo tipo de coisa! Embora seu principal assunto fosse Luna, seus filhos e toda a situação que estava vivendo, bem como seus pensamentos cada vez mais confusos. Nunca passara por sua mente que aquela pessoa tivesse se aproximado por outro motivo que não fosse simpatia ou apenas coincidência. Embora, algo de sua intuição, pouco desenvolvida, repetisse que Luna e ele mesmo não acreditavam em acaso!

As consultas com o terapeuta se tornaram parte de sua rotina. No fundo, não acreditava que aquilo fosse capaz de amenizar suas dores e dúvidas, mas era consciente que, de algum modo, aquelas conversas sem reservas, aliviavam uma parte de sua culpa e desespero. Mas o tempo continuava empurrando-o na direção do medo, culpa e terror.

Sua rotina com Luna não tinha mudado em quase nada. Quando a mãe dela não trazia novas margaridas para colocar junto a cabeceira dela, ele sempre o fazia! Jamais deixava de conversar com ela, contar sobre o que estava acontecendo com os filhos, as meninas, os Whispers, o tratamento que estava recebendo e tudo o mais! Nunca deixava de cantar suas músicas, as delas, e as composições novas que, às vezes, lhe chegavam. Continuava dedicado, amoroso, gentil e se esforçando ao máximo em esconder seu sofrimento!

Vez ou outra, era impossível! Tinha dias que chorava, contando a ela sobre seus sentimentos e temores. O que só aumentava seu sofrimento. Não tinha a resposta impaciente e irritada que esperava! Não podia ouvir a voz dela dizendo que tudo ficaria bem e que suas preocupações eram em vão! Era apenas sua voz ressoando e ecoando no silêncio do quarto vazio. Seu coração apenas se comprimia mais e mais.

Cuidar dos filhos era uma atividade agridoce! A personalidade de Junior se tornava cada dia mais semelhante a da mãe. Desde o modo autoritário como falava, mesmo sem dar por isso, até como ele contestava o que lhe diziam quando não concordava ou simplesmente não acreditava! Ele tinha os mesmos trejeitos, a mesma maneira manipuladora de agir, tentando controlar tudo em seu redor. Era impossível não ver nele uma miniatura da mãe, não só na personalidade! Ele realmente estava se tornando fisicamente parecida com ela! Era um prazer doloroso, difícil de explicar.

Lilly era diferente. Uma dor diferente! Ela estava crescendo sem a mãe por perto para guia-la! E sendo honesto consigo mesmo, não se sentia apto a dar os primeiros ensinamentos a uma garotinha de pouco mais de um ano. Luna tinha perdido os primeiros passos dela! Não estava lá para cantar seu rock em forma de canção de ninar quando ela acordava no meio da noite com pesadelos. O que, aliás, era recorrente! Tudo o que podia era tentar algumas canções tolas e ficar andando com ela no colo pelo quarto, torcendo para que adormecesse novamente. Ironicamente, a primeira palavra dela tinha sido "mama" o que lhe arrancou algumas lágrimas e o fez abraçar a criança até que ela se sentisse incomodada!

É claro que podia contar com a ajudar das garotas nessas horas, especialmente Sally, Evelyn, Aurora e Lety, que embora não tivesse filhos parecia se sair muito bem com os seus! Na verdade, acreditava que a afinidade de Lety com as crianças vinha muito mais do seu grande amor por Luna que qualquer outra coisa! Sempre que se sentia perdido ou assustado em ter que dar conta daquelas duas pequenas criaturas, sempre podia chamar qualquer uma delas! A qualquer hora do dia ou da noite! Aliás, Nick, que era padrinho de Lilly, estava se saindo uma insuspeita excelente babá! Sempre trazia Mia a tiracolo, mas era ele quem se ocupava da menina e de suas pequenas exigências.

Agora, é claro, Miranda também tinha se colocado a disposição, quando ele precisasse de ajuda com as crianças! E ele não via nada naquela oferta, além de gentileza de uma pessoa com experiência e capacidade de lidar com crianças. Podia considerar que ela fosse uma amiga, embora a conhecesse há tão pouco tempo. Mas não havia nada em seu comportamento, atitudes ou palavras que pudessem fazer com que pensasse de outra forma.

Noites Sem Luar - Livro II da Trilogia do Coração Onde histórias criam vida. Descubra agora