A crise silenciosa de choro e ansiedade, na última visita de Alexander à Luna, só serviu para alimentar seus maiores temores e paranóias! O medo de estar sozinho, de não saber o que fazer de si, de não ter mais apoio e o amparo, afinal já que tinha perdido a confiança dos amigos e, mais que tudo, o terror que sentia apenas de cogitar a possibilidade de perder Luna, definitivamente! Percebeu que não conseguia lidar com aqueles sentimentos! Eram maiores e mais fortes que ele naquele momento. Tudo que conseguia, ao tentar enfrentá-los, era um patético estado de paralisia que o impedia de pensar e de fazer até as tarefas mais corriqueiras.
— Não consigo! — disse a Francis em um de seus encontros, logo após àquela visita. — Sempre que tento me vejo inerte, paralisado, como se tivesse parado de funcionar!
— Por quê? — devolveu o terapeuta. — Por que se sente assim?
— Medo? Covardia? — arriscou, baixando a cabeça e escondendo o rosto nas mãos. — Os dois talvez? — suspirando. — Tenho medo de chegar ao hospital, e descobrir que ela não está mais lá! Medo que o telefone toque, a qualquer momento, dizendo que a perdi! Não sei como agiria se acontecesse!
— E nem saberá! — atravessou. — É o tipo de situação que para a qual achamos que podemos nos preparar, mas para a qual nunca estamos prontos!
— É isso. — concluiu em voz baixa. — Não estou pronto! Nem para perder Luna, nem para ficar sozinho, nem para cuidar das crianças... — parando para tomar fôlego e deixando escapar um suspiro. — Nem para viver!
— Alex! Estamos aqui exatamente para isso! — com um meio sorriso. — Estou me esforçando em lhe dar ferramentas emocionais para isso!
— Não quero ser pessimista, nem diminuir seus esforços. — dando um suspiro ainda mais profundo. — Tem sido um alívio vir e poder dividir tudo isso, especialmente, agora. — fazendo uma pausa silenciosa, um pouco mais longa do que pretendia. — Mas não me sinto capaz sequer de ver Luna! De estar no mesmo ambiente que ela!
— Por quê? — com genuína curiosidade.
— Porque ela me ouve, me sente, me pressente! Ela sabe o que eu penso! — respirando acelerado. — Tenho medo de confessar tudo e... — sendo interrompido pelas lágrimas.
— É claro que você não quer compartilhar seus erros e... — interrompendo-se ao perceber que o outro balançava a cabeça.
— Não! Eu quero! Olhando nos olhos dela! Segurando suas mãos e pedindo perdão!
— Mas se você acredita que ela ouve o que diz, pode pedir perdão! — ponderou.
— Posso! E acho que deveria! — inspirando profundamente. — Mas não posso receber seu perdão. — suspirando.
Francis deixou o corpo cair para trás de forma pesada. Era difícil refutar aquele argumento! E havia um agravante: a personalidade de Luna! Nem Alexander, muito menos ele, podiam imaginar qual seria a reação dela à verdade! Por tudo o que sabia, tanto pelo que tinha lido e ouvido, em especial do próprio Alexander, tanto ela podia ter uma crise de riso e ser tão sarcástica e ácida, até fazer com que ele se sentisse o homem mais culpado e miserável da terra! Como também podia, simplesmente, fingir não se importar, apenas para se sentir infeliz e desgraçada, tentando o suicídio, na sequência! Ela era tão imprevisível quanto paradoxal! Imaginou se fosse ela sua paciente e sentiu um breve abatimento.
Houve um momento de silêncio desconfortável. Alexander manteve o olhar no chão, observando as próprias lágrimas pingarem no carpete. Não tinha mais forças, nem para falar, nem para pensar ou ser racional. Era doloroso demais, cansativo. Sentia-se quase incapacitado, por completo, como ser humano! Sabia que não tinha mais como continuar o que estava fazendo, embora não quisesse nenhuma outra coisa para sua vida! Não queria abandonar Luna, mas aquela situação, se arrastando por tanto tempo, estava destruindo sua mente, corpo e espírito! Mas não queria de nenhum modo, ser levado para aquela "nova vida", com aquela mulher estranha, por quem não sentia nada além de um tipo esquisito de piedade.
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Noites Sem Luar - Livro II da Trilogia do Coração
RomanceContinuação de "A Tempestade Perfeita" ❤️ Predestinados! Apaixonados! Dependentes! Viciados! Conheciam e inspiravam o melhor e o pior um do outro. Não tinham um amor convencional! Era um sentimento considerado por alguns obsessivo e tóxico. Nada pod...