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— Eu consegui entregar o manuscrito hoje cedo.

Você disse com a voz baixa enquanto jogava o corpo contra o acolchoado da cama de casal grande demais para você sozinha, segurou mais forte o celular o apertando contra sua orelha ao o que escutou a risada soprada de Nobara do outro lado.

Viu eu disse que sua falta de inspiração era só uma boa transa.

A mulher disse elevando a voz do outro lado da linha, você fechou s olhos com força sentindo suas bochechas queimarem de vergonha, soltou uma risada suave, abriu os olhos devagar fitando o teto extremamente branco acima de si, ficou daquele modo por uma fração de segundos antes de entreabrir os lábios devagar.

— Eu gostei.

Você sussurrou mais para si mesma do que para a sua melhor amiga que naquele momento se encontrava em outro continente.

Chame ele de novo então.

— O que? Claro que não, eu já terminei o manuscrito, o próximo que tenho que entregar é daqui só um mês.

Você conseguiu escutar Nobara bufar do outro da linha, quase como se ela quisesse viajar da Itália até o Japão e dar um soco forte em seu nariz.

E daí, (Nome), qual o problema de você se divertir de vez em quando? Não é nenhum pecado até onde eu sei.

— Mesmo assim, Nobara, eu não sei se é certo eu fazer esse tipo de coisa, aquilo foi mais uma questão de necessidade.

Nobara suspirou pesadamente, você conseguiu escutar o som de alguns carros ao fundo, ela provavelmente estava na rua naquele momento, prensou os lábios, apertou os dedos dos pés de modo ansioso, não conseguia se lembrar ao certo de como era a sensação de colocar os pés para fora de casa, dos carros, da multidão de pessoas e dos ventos gelados que parecia arranhar a pele de suas bochechas, às vezes sentia falta de toda aquela confusão mas tinha a plena certeza de que no momento em que colocasse um pé sequer para fora de seu apartamento caíria no chão sem conseguir respirar.

— (Nome), você sabe muito bem que não pode viver nesse luto para sempre, estou dizendo isso como sua melhor amiga, você precisa seguir com a sua vida, sei que foi horrível tudo o que passou — ela disse com a voz baixa, o som dos carros ao fundo continuando de forma insistente —, mas você realmente quer que o sacrifício do Nanami por você tenha sido em vão? Você praticamente não vive mais, sei que é uma verdade dura de viver mas você precisa seguir com a sua vida.

Ela disse com a voz firme mas de certo modo morna e calorosa, você engoliu em seco sentindo um nó se formar em sua garganta, entreabriu os lábios, a ansiedade parando nas pontas dos dedos de suas mãos.

— Eu sei.

Foi a única coisa que conseguiu responder com a voz falha, meio embargada, queria chorar, mesmo que soubesse que no fim não conseguiria, desde o dia em que viu a vida deixando os olhos de seu antigo amor, desde aquele dia não conseguiu derramar uma lágrima sequer, nem mesmo em seu enterro, apenas se trancou em seu apartamento e desde aquele dia não conseguiu mais colocar os pés para fora.

Eu amo você, ok? Qualquer coisa me liga, tenho que entrar no escritório agora.

Ela disse por fim, você respirou fundo e forçou um sorriso em lábios mesmo que soubesse que Nobara não conseguiria vê-la.

— Também te amo, No, se precisar me chama.

Murmurou por fim antes de desligar o telefonema, afastou o celular do ouvido devagar, tentou controlar a própria respiração, girou o corpo na cama deitando de lado, fitou o projetor posto na cômoda ao lado da cama, esticou o braço o ligando logo vendo o quarto inteiro ser coberto pelas projeções de estrelas e galáxias, uma música suave escapando do projetor; segurou o celular o levando até a altura de seus olhos e o desbloqueou entrando novamente no link que Nobara havia enviado à dois dias atrás.

𝐎𝐍𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐆𝐈𝐑𝐋𝐒 ; Geto SuguruOnde histórias criam vida. Descubra agora