Home

1.6K 232 147
                                    

 O som das ondas se chocando contra as rochas se fazia presente ao longe, quase como se vários chocalhos tocassem ao mesmo tempo. De certo modo, isso fazia com que você se sentisse minimamente mais calma, dado à falta de retorno de Geto no último mês. Você tentava manter a própria mente tranquila, dizendo para si mesma que aquele tipo de coisa era comum, mas, mesmo assim, se sentia mais inquieta do que gostava de admitir. A luz suave do sol do fim da tarde se infiltrava por entre as frestas das cortinas, refletindo nas janelas e tingindo a sala com uma paleta colorida.


   Você estava sentada à mesa da cozinha, mexendo distraidamente uma xícara de chá enquanto observava Nobara, que estava deitada no sofá, ocupada em se alongar de maneira exagerada. Você franziu o cenho, tentando esconder o riso em seus lábios.

   — Sabe, (Nome), eu acho que minha verdadeira vocação era ser bailarina.

   Nobara disse, esticando a perna em um ângulo improvável e soltando um suspiro dramático, você não conseguiu conter o riso quase explosivo que escapou de seus lábios, recebendo um olhar de reprovação da melhor amiga.

   — Bailarina? — você perguntou, arqueando uma das sobrancelhas — Achei que seu sonho era ser a melhor estilista do Japão.

   — Ah, minha querida, a vida é cheia de reviravoltas — Nobara disse de forma exageradamente dramática, enquanto jogava o próprio corpo de volta no sofá, mas não sem antes fazer uma pirueta teatral que arrancou um riso sincero de seus lábios —, mas quem disse que eu não posso ser as duas coisas? Faço piruetas e pliés com as pernas e desenhos com as mãos.

   — Claro, claro.

    Você concordou com um claro tom de deboche, que fez com que a mulher revirasse os olhos antes de sorrir de maneira sínica.

   — Eu sabia que você iria entender a grandiosidade do meu talento... mas falando sério, quando foi a última vez que você deu um daqueles seus sorrisos de orelha a orelha igual o Coringa?

   — Hmm, deixa eu ver... acho que foi na última vez que você tentou cozinhar e quase incendiou a cozinha.

  Você provocou escondendo o sorriso por trás da xícara e Nobara colocou a mão no peito, fingindo estar ofendida.

   — Isso foi um incidente isolado... Eu tenho um talento para arte moderna também, ou você ainda não percebeu? Aquele bolo estava tão carbonizado que eu provavelmente criei vida nova ali.

   — Arte moderna? Se você tivesse deixado mais alguns segundos, o único lugar onde sua 'obra' seria exibida é no quartel dos bombeiros.

    Você respondeu quase que sem ar mal conseguindo conter o riso, Nobara te xingou de algo que você não conseguiu entender antes que ela te mostrasse o dedo do meio fazendo com que você risse ainda mais.

   — Falando em quartel dos bombeiros... você ficou sabendo que vão demolir aquela casa de ópera velha que nós vimos esses dias quando estávamos fazendo nossa caminhada matinal como duas boas senhoras? Parece que o quartel de bombeiros daqui de Hateruma que cuidavam dela mas faz alguns anos que não vão lá.

   Você piscou devagar olhando Nobara ali, por algum motivo uma sensação ruim em seu peito, como se aquilo não fosse certo, você encolheu os ombros.

   — Mas eles podem fazer isso? Digo... sabe esses nossos vizinhos que moram nessa outra casa de praia enorme aqui? Eu escutei uma mulher falando pra filha dela que aquela casa de ópera era resquício da segunda guerra mundial.

     — Sua fofoqueira — Nobara brincou, você revirou os olhos fazendo com que a mulher risse baixinho antes de encolher os ombros —, mas eu não acho que algo possa ser feito, aquele lugar está aos pedaços, é perigoso.

𝐎𝐍𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐆𝐈𝐑𝐋𝐒 ; Geto SuguruOnde histórias criam vida. Descubra agora