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Geto sentia que pela primeira vez em anos estava por fim completo, era quase como se uma paz insistisse em se fazer presente eu seu peito, fazendo com que todos os problemas e crises que havia aguentado nos últimos anos por fim fizessem algum sentido.

Aguentou tudo aquilo por ela.

Pensou consigo mesmo enquanto abaixava o olhar para a mulher que descansava de maneira calma nos braços fortes do homem, apoiada em seu peitoral nu onde seu coração insistia em bater rapidamente. Geto estava sentado contra a poltrona bem acolchoada que ficava do outro lado de seu consultório com a mulher sentada sob seu colo com a cabeça repousada em seu ombro, a respiração quente e calma dela se chocando contra a pele do pescoço de Geto fazendo com que os pelos de seu corpo se arrepiassem. Ela vestia apenas o jaleco do homem sobre seu corpo a deixando completamente coberta enquanto o seu próprio vestido estava largado em algum lugar do chão do consultório.

Ela dormia de maneira tão tranquila sob os braços do homem que ele começava a sentir como se fosse uma espécie de nó se formando em sua garganta. Como ela confiava tanto nele ao ponto de simplesmente capotar em seu corpo? Era tão frágil que ele tinha medo de que o menor movimento que ele fizesse a machucasse por completo.

Como ela tinha tanta confiança nele se no fim a culpa dela ter acabado daquele jeito fosse dele?

Se ele não tivesse ido embora daquele jeito.

Se ele tivesse ao menos à escutado.

Se ele tivesse sido menos orgulhoso.

Se ele tivesse a procurado antes.

Se ele tivesse...

Se ele...

Se...

Se...

Se... Se... Se... Se... Se... Se...

Duas letras que insistiam em se fazer presentes em sua mente dia e noite fazendo com que Geto sentisse que a qualquer segundo ele simplesmente enlouqueceria. A apertou levemente em seus braços fazendo com que ela se remexesse ali de maneira sonolenta, quase como se ele tivesse medo que em um piscar de olhos ela desapareceria.

Geto não deixaria que ela escapasse novamente, tudo o que ele havia feito para que ele pudesse chama-lá de "Minha", com toda a certeza não seria em vão. Ele nunca havia de fato se esforçado por alguém que não fosse ele mesmo, Geto nunca teve alguém, cresceu com uma mãe que tinha que vender o próprio corpo para que conseguisse comprar cocaína, quando ela não estava trepando com alguém estava completamente chapada no quarto ao lado; o homem jurou por tudo que estudaria o máximo que conseguiria e iria embora daquele lugar.

Com muito esforço ele se formou no ensino médio, conseguiu uma bolsa de estudos para uma das melhores universidades de Tóquio e foi embora de casa sem nem ao menos dizer adeus. Foi durante o último período que tudo desabou, quando ele recebeu uma ligação de uma clínica psiquiátrica. Diziam que sua mãe estava internada. Aparentemente ela havia tentado tirar a própria vida a mais ou menos um mês com uma quantidade muito maior de substâncias do que seu corpo aguentava e a clínica dizia que ele era o único parente em sua lista telefônica e uma quantia enorme de dinheiro estava aguardando para ser paga.

Geto naquele momento sentiu que a vida inteira que havia construir havia simplesmente se esvaído por entre suas mãos. Por uma fração de segundos ele quis rir, era quase como se Deus o odiasse e estivesse fazendo alguma brincadeira de muito mau gosto consigo. Geto teve que trancar o curso no último período e perdeu sua bolsa, precisou se enfiar em dois empregos para que conseguisse pagar as despesas de sua mãe e nem isso foi o suficiente.

Quando ela tentou se ferir novamente e foi para a emergência Geto não teve saída a não ser pegar um empréstimo tão maior do que provavelmente precisava naquele momento devido ao desespero. Pagou o hospital de sua mãe, as cirurgias, os medicamentos, mas tudo simplesmente pareceu parar depois de uma semana que os médicos o informaram que ela infelizmente não havia aguentado, seus órgãos não haviam aguentado.

Quando o homem se deu por conta ele estava sozinho e com uma divida que aumentava cada dia mais virando uma bola de neve de uma divida milionária.

Depois de um ano ele destrancou a faculdade, se formou e começou a pós graduação para psiquiatra, talvez aquele fosse o modo de se desculpar com sua mãe por ter falhado como filho.

Geto à odiava.

E no fim se viu preso a ela.

No fim virou uma versão dela, tendo que vender o próprio corpo para que pudesse viver.

E mesmo que ele sentisse que era o maior pecador da terra, mesmo que ele se sentisse indigno de tudo, mesmo assim ela continuava ali em seus braços, sendo dele e apenas dele, e ele a protegeria de tudo. Ela se moveu de maneira sonolenta, as pálpebras se abriram devagar, os olhos dela se encontraram com os de Geto e ele sorriu.

— Eu te cansei muito foi?

Ele indagou com a voz baixa, um tom divertido fazendo com que um riso suave escapasse dos lábios da mulher, ela sorriu de maneira fraca apertando mais o jaleco contra o próprio corpo enquanto se aconchegava mais nos braços do homem.

— Sonhei.

Ela murmurou com a voz baixa, ainda meio quebradiça, Geto correu os olhos escuros pelo rosto da mulher.

— Sonhou?

— Sim, fazia muito que eu não sonhava.

— Como assim?

Geto indagou com a voz suave acariciando o braço da mulher de maneira suave.

— Eu só tinha pesadelos antes.

— E seu sonho foi bom?

— Sim, sonhei com você.

Ela murmurou, ás bochechas ficando coradas, Geto sentiu seu coração acelerar, céus, sim, ele a amava, ele certamente a amava, a amava a mais tempo do que ele podia lembrar. Ela sempre havia sido a sua única garota de fato.

Geto curvou o corpo suavemente na direção da mulher, seus lábios se tocaram com cuidado em um beijo delicado, ele afastou o rosto devagar, seus olhos se encontraram.

— (Nome), eu...

Antes que pudesse terminar a frase seu telefone tocou de maneira irritante fazendo com que ele bufasse enquanto levava a mão até uma mesinha ao canto da poltrona onde estava o aparelho, atendeu a ligação sem nem ao menos ver quem era e escutou a voz ofegante de Gojo do outro lado da linha.

— Geto, o Toji pagou a fiança da prisão, ele foi solto durante a tarde.

𝐎𝐍𝐄 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐆𝐈𝐑𝐋𝐒 ; Geto SuguruOnde histórias criam vida. Descubra agora