Minha mãe conferia nossas passagens, era sempre assim quando voltávamos para casa, o final das férias para ela era dramático, pois só podia passar esse tempo comigo e minha irmã. Nós duas morávamos com papai em Fontana Hallow em Utah, e mamãe vivia na ensolarada Flórida, o consenso por nossa estadia com papai foram as sucessivas viagens dela devido ao trabalho como arqueóloga. Ela olhou mais uma vez para o relógio e para o portão de embarque.
– Bem, acho que é isso! – entregou as passagens para mim e Nitta. – Guardaram todas as suas coisas? – nós assentimos e ela suspirou. – Vejo vocês no próximo verão, me liguem assim que chegarem em casa.
– Podia ao menos ir nos ver qualquer dia, mãe. – Nitta choramingou ao abraça-la. – Não seria ruim.
– Vou conversar com seu pai e ver o que posso fazer. – me abraçou. – Benna, cuide das suas notas, você precisa delas para faculdade no próximo ano.
– Tudo bem, mãe! E não se preocupe, minhas notas são excelentes.
– Sei! – ela debochou, eram excelentes para qualquer faculdade, mas não para a que ela queria que eu fizesse. – Vão logo! Não podem perder o voo.
Entramos pelo portão de embarque, enquanto mamãe acenava para nós. Papai e ela se separaram quando Nitta tinha pouco tempo de vida, no início, ficamos com ela, mas quando minha irmã fez dois anos ela pediu que papai ficasse comigo por causa de suas viagens frequentes e quando Nitta precisou ir para a escola, fez o mesmo. Ela sempre foi muito cuidadosa conosco, mas seu trabalho tinha grande importância em sua vida e como papai dispunha de mais tempo, era melhor ficarmos com ele.
A viagem transcorreu bem e em silêncio, eu não gostava de conversar durante os voos, me sentia enjoada e Nitta sempre entendeu. Somos parecidas em alguns sentidos, e mesmo que eu ache difícil conviver às vezes, ter uma irmã de pai e mãe é bom. Não fico sozinha quando vou a casa da minha mãe, o que é um alívio, ao me imaginar tendo de lidar com o seu novo marido. Não que Miguel seja ruim, mas nada me tira da cabeça que ele teve um dedo, para não dizer o corpo inteiro na separação dos meus pais, ele era amigo de minha mãe de longa data e não demorou muito para que a chamasse para sair. Sempre tive minhas dúvidas de quando o namoro começou.
– A mamãe te irrita as vezes com essa coisa da faculdade, não é? – Nitta perguntou quando chegamos ao aeroporto.
– Seria ótimo se ela entendesse que quero ficar em faculdades mais perto de casa. – acenei para Freda ao vê-la. – Não vamos falar sobre isso lá em casa. Vamos!
Este ano seria diferente, por ironia do destino ou não, todas as filhas estariam em casa. Éramos cinco filhas morando com o papai e as outras cinco vinham no verão, normalmente nunca estávamos juntas, já que eu, Nitta, Ella e Donna costumávamos passar o verão com nossas mães.
Freda era a que passava mais tempo com papai, pouco sabíamos sobre sua mãe, mas a nossa a via como uma filha, tanto que pelo menos um mês do verão ela passava conosco na Flórida.
– Ella e Donna chegaram ontem, Zora, Gwen e Mist chegaram hoje pela manhã, faltam apenas Lia e Brida. – olhou para mim no banco do passageiro e revirou os olhos, já sabia que iria falar de Liliana, a mãe das menores. – Não quis que eu as buscasse, disse que as traria de carro, devem chegar hoje à noite.
– Já pararam para pensar que serão dez mulheres dentro da mesma casa? – eu olhei para Nitta e entendia seu espanto. – Nunca estivemos todas juntas ao mesmo tempo e as mais novas tem nove anos, como vai ser?
– Papai vai dar conta de tudo. Não se opôs em cuidar de todas, e sejamos sinceras, as cinco mais velhas não precisam de cuidado constante. – Freda a respondeu, olhando pelo retrovisor. – A vida segue normal, só com cinco pessoas a mais.
– E a faculdade? – olhei para Freda, que balançou a cabeça em negativa.
Minha irmã estava lutando com as possibilidades, ela estudava numa faculdade pública em uma cidade próxima da nossa, ela ia e voltava todos os dias de carro e isso deixava exausta. Antes de viajarmos no verão, ela conseguiu um emprego e pensava na possibilidade de trabalhar por um ano ou mais para juntar dinheiro para morar na cidade da faculdade.
– Acho que não vou voltar nesse semestre.
– Tem certeza?
– Ainda estou pensando, o trabalho é bom e estou conseguindo juntar algum dinheiro, vai me ajudar; e papai está estranho. Não acho seguro o deixarmos sozinho. – ela estacionou o carro. – Chegamos!
Nossa casa é grande, com uma varanda ao redor. Árvores grandes ficavam a frente e nos fundos também era arborizado, ficava no fim da rua, toda feita em madeira. Eu adoro esse lugar! Subi correndo as escadas, abri a porta e corri para a sala, me jogando no sofá onde as minhas irmãs estavam.
– Que bom ver vocês! – as gêmeas me abraçaram, enquanto as outras três e amontoavam em cima de mim.
– Quero ver se darei conta de tantas mulheres juntas! – meu pai entrou na sala e abriu os braços para me receber, corri para ele e me aconcheguei ao seu peito. – Graças a Deus está segura.
O encarei sem entender, ele parecia preocupado e muito aliviado por me ver. Tinha realmente algo errado.
Freda me manteve informada durante o verão que coisas estranhas estavam acontecendo em casa, papai estava nervoso, mantendo a casa fechada e ela longe das ruas. Ou seja, ela passou todo o tempo saindo apenas para ir ao trabalho. Eu já estava preocupada e não via a hora de estar em casa novamente. E toda essa preocupação me deu pesadelos terríveis, coisas tão estranhas que eu acordava desesperada.
– Família! – o grito de Nitta me tirou do devaneio. – Nem acredito que estou vendo vocês de novo. – as meninas a abraçaram e eu acabei por me afastar do meu pai e me aproximar delas.- Um ano com todas vocês, vai ser difícil. – ela bufou enquanto todas a abraçavam, sua sinceridade era absurda. – Mas vai ser uma experiência e tanto. – sorriu, agarrando Misty pelo pescoço.
Era bom ver todo aquele movimento, mas estava cansada, precisava de um banho e descanso, enquanto elas se entretinham umas com as outras, subi as escadas e aliviada, encontrei meu quarto intacto, da mesma forma que o deixei quando viajei. Minhas fotos ficavam na parede em frente a cama junto com o espelho, peguei dentro da bolsa a nova foto com minha mãe e Nitta. Encarei a parede e sorri por um instante. Eram muitas fotos com a família, e muitas com os meus melhores amigos: Iro e Charlie. Peguei o celular na bolsa e disquei o número da última.
– Não diga que já chegou? – ela gritou do outro lado da linha.
–O que acha? Eu te mandei várias mensagens dizendo que chegaria hoje. –me joguei sobre a cama, ficando de ponta cabeça. – Trouxe presentes e quero muito ver você e Iro.
– Em duas semanas começam as aulas, nosso último ano. Já está pensando na faculdade? Quero estudar na mesma que você escolher.
– Um problema de cada vez amiga, vamos primeiro terminar o ano e depois decidimos sobre isso, pode ser?
– Tudo bem! Vou avisar ao Iro que chegou. Nos vemos amanhã?
– Claro! Qualquer coisa te ligo. – desliguei e joguei o celular na cama, fiquei olhando para janela, ainda pensando na reação do meu pai. Ouvi a porta se abrir e levantei a cabeça. – Oi Freda!
– Viu o que eu disse?
– É, ele está estranho. O que pode ser? – Rolei para dar espaço para ela. – Uma namorada...
– Ah! Duvido muito, mas estamos falando do papai. Logo, logo devemos descobrir.
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Lullaby - for Benna
Teen FictionBenna é filha de Sevio com quem vive em uma pequena cidade, sua vida é relativamente perfeita até descobrir que seu pai não é humano e que ela herdou suas características, obrigada a lidar com o povo dele e com um treinamento que não deseja, vê sua...