Estranho

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– O que foi? – Charlie perguntou vendo minha reação. – Não me diga que o conhece?

– Não, bem, sim... – a fitei, que me encarava com ar de deboche. – Só é estranho.

Nitta se aproximou seguimos para casa. Charlie e eu ficamos até o anoitecer conversando, ela realmente fez coisas impressionantes na noite anterior e eu estaria com ela se não fosse por tudo aquilo e o pior era não poder contar a ela. Nunca tive segredos com Charlie e o fazer agora me fazia sentir uma traidora. Mais tarde Nitta se juntou a nós, ela era tão próxima de minha melhor amiga quanto eu, nos conhecíamos a tanto tempo que minhas irmãs eram acostumadas a ela e era fácil perder a hora quando nos juntávamos e foi exatamente o que aconteceu. Meu celular tocou e sem olhar para tela atendi.

– Eu estou te esperando desde as sete na porta da sua casa. – Iro disse sem graça ao telefone.

– Iro? – olhei para o relógio, me dando conta da minha mancada. – Me desculpe, perdi a noção do tempo, me dá quinze minutos que já estou descendo. – desliguei e olhei para Nitta e Charlie, ambas tinham aquele sorriso de quem ouviu uma informação importante. – A festa acabou, tenho quinze minutos para me arrumar e encontrar o Iro e depois conto tudo a vocês.

Não discutiram comigo, apenas continuaram conversando enquanto eu entrei no banheiro. Ao terminar de tirar a roupa, vi no espelho às marcas dos cortes do vidro da noite anterior, estavam quase cicatrizadas, era muito estranho. De qualquer forma, iria com algum casaco para cobrir meus braços, coloquei um vestido básico e o casaco por cima, as duas aprovaram meu visual e corri escada abaixo em direção a porta. Iro estava sentado na varanda, antes de sair, olhei mais uma vez para o relógio, uma hora de atraso.

– Me desculpe! Charlie está aqui, tiramos o dia para conversar...

– Tudo bem! Podemos ir? – ele não estava nada feliz com o meu atraso.

O trajeto até o nosso local preferido foi em silêncio, ele estava zangado, tinha certeza, mas não tentei falar nada, pelo menos não até termos testemunhas de nossos atos. Não que desconfiasse dele, nem que acreditasse que me faria mal, mas a noite anterior me ensinou a não arriscar.

Chegamos à lanchonete do centro e tirei o casaco, a caminhada me deixou com calor, ele segurou a porta para mim e quando passei ele viu as marcas e me segurou.

– O que é isso? – tocou uma marca em meu ombro.

– Ahn! Quebrei o espelho ontem. – ele me fitou incrédulo. – Foi sem querer, bati com um vaso nele porque estava com raiva e os pedaços voaram para cima de mim.

– Podia ter se machucado sério.

– Mas não me machuquei. – começava a ficar irritada. – Não precisamos falar disso, não é?

– Tudo bem! – não olhou para mim. – Senta eu vou pedir alguma coisa para gente.

Ele saiu sério e voltou da mesma forma, me trouxe um suco e um refrigerante para ele. Estava rodando a latinha entre as mãos e vez ou outra olhava para mim. Nossos lanches chegaram e nada dele entrar no assunto, tinha alguma coisa errada, não olhava para mim e não falava nada, era estranho estar assim com Iro.

– E aí, vai me dizer qual é o poderoso assunto a se tratar? – me encarou sem jeito. – Não acredito que me chamou para isso.

– Lembra do verão passado, quando fiquei com a Charlie?

­– Me trouxe aqui para dizer que voltou para Charlie?

– Não! – olhou para mim. – É claro que não, é um outro assunto.

– Que seria, então?

– É que... – respirou fundo. – Eu realmente gosto muito de você, Benna. Pode até achar que sabe como, mas não sabe. É coisa boba, mas é o que eu sinto.

Lullaby - for BennaOnde histórias criam vida. Descubra agora