Acordei com o cheiro de álcool. Misty e Zora se amontoavam no banheiro, tentando me acordar.
– Você está bem? – a mais nova perguntou.
– Sim! O que fazem aqui? – me sentei com a ajuda delas.
– Ouvimos um barulho quando passamos pelo corredor e viemos ver o que aconteceu. – Misty tomou a frente. – Você estava caída aqui, ficamos assustadas.
– E enquanto tentávamos te acordar, Iro já te ligou várias vezes. – Zora completou, me entregando o aparelho. A tela estava trincada, provavelmente caiu quando desmaiei. – Disse que está disposto a conversar se quiser lhe contar a verdade.
– Inferno! – me levantei, ignorando a fala de minha irmã.
Desci para a cozinha, precisava comer alguma coisa, meu pai estava lá. Eu não lhe disse nenhuma palavra, fui em direção a geladeira e peguei a garrafa de leite.
– Suas irmãs me contaram o que aconteceu. Você está bem?
– Estou! Não me machuquei muito. – ele estava inquieto e bem preocupado.
– Não devia deixar que ande com Neioh, é arriscado e perigoso. Olha o que aconteceu hoje.
– Sabemos que a culpa não é dele. – não consegui conter o deboche.
– Você está correndo risco...
Eu ri e bebi um pouco do leite. Era engraçado ele dizer isso agora, depois de esconder a verdade durante toda a minha vida. Neioh não era o perigo para mim, era tudo o que nos cercava, era o povo dele...
– Ele não é o problema. – guardei a garrafa. – Vou precisar de você, para tirá-lo do hospital amanhã. Se me curei tão depressa, ele vai assustar os médicos.
Sai e voltei para o meu quarto, não adiantava muito conversar com ele. Me joguei na cama e tentei dormir, o dia seguinte seria cheio.
Acordei bem cedo, as meninas ainda dormiam, queria sair sem fazer muito alarde, as mais novas queriam ver Neioh e não poderia levá-las. Desci para tomar um café rápido e vi Fredda chegando. Não queria falar com ela, ainda tinha um curativo na mão direita por causa do ataque de Karo. Peguei o cereal e já saia quando ela me chamou e me virei.
– Soube de ontem. Como está? – perguntou sem jeito.
– O que acha? Estou toda machucada, e Neioh no hospital porque Karo acha que pode nos perseguir por aí.
– Neioh vai ficar bem?
– Para o azar do seu namoradinho, sim. E faça um favor para você e as meninas, fique longe delas com aquele louco.
Sai sem dar chance de resposta a ela. Karo logo ficaria sabendo que Neioh estava vivo. Tudo bem, tínhamos que nos livrar dele e íamos fazê-lo. Meu pai me esperava no carro, tiraria Neioh de lá de um jeito ou de outro. Pelo caminho, só pensava em descobrir as razões daquele ódio mortal entre os dois. Teria a ver com o que vi na noite anterior? Chegamos ao hospital e me encontrei com Nitta no quarto, enquanto papai resolvia sobre a alta com os médicos. Neioh estava deitado.
– Como ele está?
– Passou bem a noite. Vou para casa tomar um banho e ir para a escola, papai vai resolver tudo? – assenti e ela me deu um beijo. – Ok! Se cuida e cuide dele também, vejo vocês em casa.
Neioh estava com o pescoço enfaixado e pálido demais, o quarto estava todo fechado, nenhum tipo de luz entrava. "Falta da lua!" foi meu único pensamento.
Passei a mão por seu rosto e ele abriu os olhos devagar, o violeta que o caracterizava estava tão apagado... Ele colocou a mão sobre a minha e suspirou.
– Que horas são?
– De manhã. Como se sente?
– Fraco; preciso de energia!
Abri as persianas e deixei a luz invadir o quarto; não resolveria nada, a lua só apareceria mais tarde. Ele olhou para a janela e tentou sorrir, isso era sinal de que ficaria bem. O motivo de Karo nos pegar desprevenidos, foi porque Neioh não recarregou as energias depois do ataque de Golay. Retirei a faixa de seu pescoço e vi os pontos que tomou, não estavam cicatrizados e pior, pareciam normais; o encarei e percebi sua preocupação.
– O que foi? – ele me olhou tenso.
– Fizeram exames de sangue, temos um leve traço de tipo sanguíneo, mas ele desaparece com as horas...
– Tá querendo dizer...
– Tenho que sair daqui logo.
Os médicos foram resistentes a Neioh deixar o hospital, meu pai precisou de muito jogo de cintura para que ceitassem a ideia de que ele se recuperaria melhor em casa. Mas finalmente o levamos para casa, o colocamos no meu quarto, não era muito confortável que ele dormisse no sofá. Era fim de tarde, logo a noite chegaria e ele poderia se fortalecer.
O deixei dormindo e tomei um banho para relaxar. Desliguei o celular, não queria dar explicações a Charlie e nem a Iro. Conferindo as chamadas, Charlie ligou o dia todo e Iro nem sinal de vida deu. Faziam vinte e quatro horas que não nos falávamos, mas não daria o braço a torcer, qualquer coisa que eu dissesse o colocaria perto da verdade e essa não era uma opção.
Antes de sairmos do hospital a polícia apareceu mais uma vez e fez perguntas a Neioh, como conversamos antes, ele manteve as mesmas palavras que as minhas e os policiais pareciam convencidos desta vez, principalmente depois de falarem com o papai. Por que acho que ele usou alguma habilidade para convencê-los? Pelo menos, tudo estava esclarecido.
Fiz dois sanduiches e voltei para o quarto, o acordei e dei um a ele, comeu devagar e olhou para mim, as sombras da noite começavam a tomar o quarto, e logo ele poderia sair. As meninas entraram saltando para cima da cama, o abraçando, eu sorria vendo-as o mimarem tanto, pelo menos enquanto ele ainda estava fraco.
– Ei meninas, vamos saindo. Neioh precisa descansar.
Elas saíram resmungando e ele sorriu e balançou a cabeça, elas realmente eram a alegria da casa. Quando os primeiros raios da lua entraram pela janela, Neioh pediu ajuda para ir até lá, nos poucos instantes em que ele aspirou o ar da noite, o senti ficando mais forte.
– Venha comigo.
Ele não me deu tempo para responder, me puxando com ele para a porta, descemos as escadas com pressa e assim que chegamos à varanda nos transportou para Louise. Chegando lá, ele olhou para lua por um longo tempo, me sentei em uma pedra e observei as reações dele; a sua palidez diminuiu, e depois de respirar fundo, gritou e eu ri. Ele parecia feliz por estar forte de novo, veio até mim e me puxou para ele, agora sim era Neioh, seus olhos estavam da cor que eu me lembrava, passei a mão por seu rosto com alívio.
Era uma sensação estranha essa proximidade, não conseguia olhar para ele de outra forma que não como propriedade de Charlie, mas parecia que ele não se importava com isso. Rimos ante o desconforto do momento; descontraídos pela primeira vez em muito tempo.
Ele me afastou um pouco e me fez olhar para a lua; aspirei o ar da noite e me enchi de energia... Um beijo repentino acendeu uma faísca apagada há algum tempo, ele se afastou e beijou minha testa, voltando a minha boca e mesmo que fosse errado, eu não estava disposta a parar. Senti o ar nos envolver e nossos corpos voltando para casa, para o meu quarto. Finalmente entendi do que se tratava a atração.
Senti a maciez do colchão sob mim, Neioh puxou minha blusa e retirou a dele, o contato de pele contra pele aumentou a descarga elétrica. Eu queria Neioh e sabia que com ele era do mesmo modo. Ele beijou meu pescoço e desceu um pouco, era tão bom estar com ele, senti-lo perto de mim. Aquela noite foi sem dúvida a mais importante da minha vida e seria na vida de qualquer garota...
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Lullaby - for Benna
Teen FictionBenna é filha de Sevio com quem vive em uma pequena cidade, sua vida é relativamente perfeita até descobrir que seu pai não é humano e que ela herdou suas características, obrigada a lidar com o povo dele e com um treinamento que não deseja, vê sua...