Fuga

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Fugir de sua família, de seu povo e de suas raízes não era nada fácil. Mas Sevio não via sua saída de Scarlate como uma fuga, e sim como uma proteção para o seu futuro com Ana. Queria viver uma vida normal ao lado dela e isso só seria possível longe de suas origens. Freda estava em seu colo, a pequena nunca se adaptou ao lugar, não era como ele e com o tempo, as lembranças sumiriam de sua memória. O amigo caminhava a sua frente, guiando-os no caminho rumo a saída.

Seu irmão não ficaria feliz ao saber de sua partida e por isso o fazia as pressas. Pararam no portal, dali, o amigo não poderia mais acompanha-lo, não seria seguro.

– Tem certeza do que está fazendo, Sevio? – ele assentiu e o amigo suspirou. – Tome cuidado, o mundo lá fora não é como o nosso. Cuidado para não se expor. – pegou em seu braço, assim como ele o fez em um cumprimento cumplice. – Boa sorte! Mantenha Freda e Ana seguras de seu irmão.

Enquanto Sevio sumia na escuridão em direção ao mundo exterior, Dian retornou à cidade. Assim que chegou a sua casa foi surpreendido pelos homens da guarda que acompanhavam a Dannos.

– Onde eles estão? – Dannos parecia preocupado, mas Dian sabia que não se tratava disso. – Onde está meu irmão e a menina?

– Não o vi, estive em casa, estava saindo agora para cumprir minhas obrigações do dia na usina de luz.

Dannos o encarou, ele era amigo de seu irmão e encobriria seu rastro caso ele fugisse, mas não parecia estar mentindo e levando em conta sua posição, não mentiria a ele. Com um menear de cabeça se afastou e seus homens o acompanharam. Dian suspirou aliviado, ao menos por enquanto, o amigo estava seguro.

Sevio manteve o caminho até sair na fenda escolhida para o mundo exterior, era noite do lado de fora e Ana esperava por ele com alguns amigos. Chichén Itzá estava deserta e podiam ouvir o barulho das árvores sendo golpeadas pelo vento.

Ao vê-lo Ana correu em sua direção, mas seus amigos se mantiveram próximos ao carro, pareciam assustados e ele entendia o porquê, seus olhos emitiam um brilho violeta que podia ser visto de longe.

Ana lhe entregou uma mochila, pegou Freda de seu colo e sorriu, já voltando para o carro.

– Foi tudo bem? – ele assentiu. – Não vai precisar voltar, não é?

– Não! Vou ficar com você e nossa filha para sempre. – colocou a mão em sua barriga.

– Não virão atrás de você? – ele podia ver a preocupação em seus olhos.

– Acredito que não! Vamos logo Ana, – abriu a mochila, tirou os óculos escuros e os colocou no rosto. – seus amigos já devem estar impacientes.

Com um último olhar para a pirâmide banhada pela luz da lua, Sevio deixou para trás toda sua história como um navriris. Sabia que não poderia ser um humano, mas tentaria ser como eles.

Viver na superfície era a única forma de ter a vida que desejava. Gostava do contato com os humanos, gostava das mulheres e da cultura.

Não que não amasse seu povo, mas se sentia melhor ali, na superfície. Enquanto Ana entrava no carro com Freda, ele olhou mais uma vez para a pirâmide, esperava nunca mais por olhos sobre nenhuma delas, entrando no carro, fechou a porta e recostou a cabeça. Sua nova vida começava agora!

Lullaby - for BennaOnde histórias criam vida. Descubra agora