Deixaram-me na porta do estabelecimento. Assim que desci do carro nos despedimos calorosamente, os desejei um ótimo filme - por mais que os gêneros de ação não fossem muito do agrado de Suk - esperei até que o carro desaparecesse na rua de baixo para poder seguir meu caminho restaurante adentro. Me surpreendi quando avistei um rosto que a muito não via, o que fez meus olhos brilharem de contentamento, era o senhor Kimura - mais conhecido pelo apelido de Gerente Kim, ou apenas Sr. Kim - que como de costume estava de prontidão guardando as portas de entrada, por mais que sua idade já fosse um pouco avançada e seu físico não parecesse nada avantajado, tratava-se de um homem extremamente habilidoso. Possuinte de um rosto gentil e de curtos cabelos negros, era quase assustador pensar que conseguiria matar alguém usando suas próprias mãos, já que sua face não transpassava a agressividade com que lidava com seus inimigos, executando qualquer que fosse o serviço com extrema maestria. Tornou-se um grande aliado para meu pai, e um amigo fiel para mim, um homem de extrema confiança.
— Srta. Aki, que bom te ver, como está? — Não nos víamos há alguns meses, ele saíra para resolver alguns assuntos a mando de meu pai, assuntos esses que simplesmente desconhecia... E sua chegada repentina me trouxe imensa alegria.
— Muito bem, e o senhor? — Dispunha de um belo sorriso em meus lábios quando o respondi. Parado com os braços cruzados sob as costas, analisava-me alegre, me aproximei rapidamente o abraçando, desconcertado pela maneira que o abordei encolheu os ombros retesando os braços timidamente. — Senti sua falta... — Falei por fim apoiando a cabeça em seu peito, fazendo-o relaxar lentamente. Por conta de seu tamanho e formato esguio aparentava ser frágil, mas encoberto por baixo de seu terno fino em tom escuro, encontravam-se músculos tonificados e uma fibra de aço.
— Também senti a sua... — O tom baixo e suave de sua voz ressoava no topo de minha cabeça, enquanto seus braços me envolviam agora mais tranquilo, abandonando totalmente a postura de segurança altamente bondoso, digo, perigoso. Alguns segundos depois parti rumo a sala dos funcionários a fim de me preparar para o serviço, despedindo-me de Sr. Kim.
Enquanto me envolvia em tarefas de anotar pedidos, servir mesas e recolher pratos e talheres de acentos já desocupados, comecei a recordar lembranças antigas de um passado nem tão distante. A imagem do Sr. Kimura veio a minha mente, quando ainda ofertava seus serviços a mando do Sr. Lee Do Gyu, mais conhecido por Sr. Carpinteiro - homem esse de rosto quadrado, olhos pequenos e longos cabelos jogados para traz, que carrega uma postura imponente, fora o fato de ser monstruosamente musculoso o que me assusta bastante - atualmente comanda a Agência de Serviços Tigre Branco. Esse senhor possui alguma certa relação de respeito por meu pai - adquirida de alguma forma ainda desconhecida para mim - quando chegamos em Seul, esse homem foi seu primeiro contato, tinha apenas sete anos quando os vi pela primeira vez. Alguns meses mais tarde meu pai acabou ganhando um tipo de aposta do Sr. Lee, que como bom perdedor ofereceu a ele um de seus funcionários - já haviam combinado anteriormente o prêmio para a parte vencedora - e nesse momento o Sr. Kimura começou a fazer parte da nossa família. Não perdemos contato com a Agência de Sr. Lee, mas meu pai já não me envolve mais em assuntos relacionados a eles, o que me entristece um pouco.
As horas passaram voando entre uma tarefa e outra, a falta de pessoal já não nos prejudica tanto pois todos os que ficaram estão se esforçando bastante para que tudo volte ao normal. Já havia escurecido quando finalmente consegui encontrar meu pai embrenhado na cozinha do restaurante, entre pilhas enormes de todo o tipo de utensílios de mesa, sujos e desorganizados expostos sobre o balcão imenso da pia, tão imerso em seu serviço esfregando veemente os talheres que nem notou minha chegada, ou ao menos foi o que pensei assim que adentrei as grandes portas vai e vem tentando não fazer ruído algum.
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Lookism - Esbarrando no Destino (Vasco - Eun Tae)
FanfictionQuem poderia imaginar que de um desastre na cafeteria, onde tudo parecia apenas mais um acaso caótico, poderia surgir algo tão inusitado e fascinante? Se foi apenas uma coincidência ou uma bela jogada do destino, nunca saberei ao certo, o que posso...