Me encontrava envolta por um abraço aconchegante de cobertores, num sono tão profundo quanto o oceano, minha mente vagava por terras desconhecidas, desprovida de preocupações e anseios, apenas a bela e doce paz, no entanto, esse tranquilo reino foi abruptamente interrompido pelo som insistente de batidas, que no estado em que me encontrava parecia mais como um eco distante, mas no decorrer de alguns segundos, o som persistente logo se tornou mais nítido e audível, uma série de batidas mais rítmicas e fortes, aquilo estava começando a perturbar de verdade, cobri instintivamente a cabeça com o grosso edredom afim de abafar aquele barulho horrível, um estalar de metal atravessou a barreira de cobertores e logo passos pesados começavam a se aproximar gradativamente.
— Aki, já está na hora de acordar. — Bradou uma voz grave, carregado uma urgência que me forçou a sair daquela letargia — Está atrasada.
As palavras do meu pai eram como um choque elétrico que percorreu meu corpo, dissipando a névoa do sono em um piscar de olhos, e em resposta meu coração pulou repentinamente, de repente todas as responsabilidades e compromissos do mundo real vieram à tona e com um salto, joguei os cobertores de lado e me sentei na beira da cama, tentando reunir meus pensamentos enquanto minha visão ainda estava embaçada. Eu tinha que me apressar, me arrumar, pegar minha mochila e estar pronta para enfrentar o dia, um novo colégio, uma nova turma, ser transferida não era nada fácil, mas em alguns meses tudo iria voltar ao normal, quando o concerto da escola estivesse pronto, ainda não sei ao certo se queria que tudo voltasse a ser como era antes, é que mudanças tão repentinas me assustam um pouco, mas as vezes algumas delas podem ser boas, é nisso que estou tentando acreditar ultimamente, mas seria difícil algo bom sair de um atraso logo no primeiro dia! Tinha que correr, minhas pernas ainda estavam um pouco trêmulas devido à transição abrupta do sono para a realidade, mas eu me forcei a ficar de pé. Enquanto lutava para vestir uma mísera saia, meu pai que estava escorado ao batente da porta do quarto, fez a gentileza de acender a luz antes de se retirar e fechar a porta, a saia em tom pêssego finalmente estava em meu corpo, vesti rapidamente o restante que faltava, me despindo de meu pijama quentinho e confortável que foi substituído por uma blusa branca posta parcialmente para dentro da saia, um tênis qualquer igualmente branco - o primeiro que encontrei pela frente - peguei um casaco jeans um tanto desgastado pelo tempo, caso fizesse frio estaria preparada. Escovei os dentes e os cabelos o mais rápido que pude, recolhi minha mochila que estava pendurada na cadeira da escrivaninha ao lado da cama e corri para a cozinha apressada para pegar uma carona com meu pai até o metrô antes que ele partisse para o restaurante, ao chegar na porta da frente, que já havia escancarado, me dei conta de que uma coisa estava faltando, uma coisa muito, mas muito importante, o sol, cadê a luz do sol? virei meu corpo lentamente para o homem robusto sentado numa cadeira na cozinha bebericando uma xícara enorme de chá, como se não houvesse preocupação no mundo que retirasse sua paz e calmaria naquele momento.
— Levanta Aki... Está atrasada! Que horas exatamente são agora... P-A-I. — Furiosa, porém aliviada balbuciei encarando-o com um olhar mortal, em resposta, um enorme sorriso surgiu por detrás da xicara.
— Está sim, atrasada para o café, vem, senta aqui. — Falou animado, batendo com sua mão no estofado da cadeira ao lado, indicando para me sentar ali. — Fiz panquecas pra você também, pegue aqui. — Entregou-me um prato com as panquecas e passou a tigela com molho de chocolate. — O chá ainda está quentinho, também tem cereal se preferir. — Estava tentando amenizar a situação do melhor jeito possível, me alimentando... Isso era golpe baixo, ainda mais depois de ter quase me feito infartar com a história do "atrasada".
— Ah.. — Suspirei pondo molho sobre as panquecas. — Por que sempre faz isso hem? — Virei o rosto para ele com um olhar tristonho, um biquinho formado nos lábios, ele sabia que odiava ser acordada daquela forma.
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Lookism - Esbarrando no Destino (Vasco - Eun Tae)
FanficQuem poderia imaginar que de um desastre na cafeteria, onde tudo parecia apenas mais um acaso caótico, poderia surgir algo tão inusitado e fascinante? Se foi apenas uma coincidência ou uma bela jogada do destino, nunca saberei ao certo, o que posso...