11 cap - Coração à Deriva

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     Estava constrangida e isso era um fato, um turbilhão de pensamentos me dominava, especialmente os relacionados a Eun Tae e como encaixei bem em seus braços, como se fosse apenas um acréscimo de seu corpo, ou fora mesmo pelo olhar desesperado vindo dele a mim enquanto vasculhava meu corpo minuciosamente a procura de feridas profundas ocasionadas pela queda recente, a questão era que se ele me encarasse um pouco mais, tenho certeza de que meu coração explodiria. Desesperadamente, eu agarrei a primeira desculpa que me veio à mente, sugerindo que um banho resolveria tudo, enquanto meu rosto ardia em um belo tom carmesim, e isso era a prova viva de meu constrangimento, ele não pareceu acreditar nem mesmo por um segundo, mas eu precisava sair dali e reunir meus pensamentos.

— Então... A-acho que vou me- — Mal consegui terminar a frase, pois Eun Tae segurou delicadamente meu antebraço, virando-o para cima em completa preocupação notando os arranhões profundos e vermelhos em minha pele.

— Se machucou... — Sua voz rouca denotava profunda inquietação. O toque suave e firme de sua mão provocou arrepios em todo o meu corpo, e quando nossos olhares se cruzaram, Eun Tae pareceu perceber a eletricidade no ar, soltando meu braço rapidamente como se tivesse tocado algo proibido... Como se aquilo de certa forma o queimasse. Ele encarou os pés, a face enrubescida, o corpo rijo, deu-me as costas e partiu em direção a árvore onde estávamos a pouco, a passos largos sem dizer uma palavra sequer. Eu fiquei ali, com o coração acelerado e um sorriso nervoso nos lábios enquanto o observava de longe, ele jogava os fios grossos de seu cabelo para trás com certa força enquanto abaixava para pegar os sapatos que deixei ao pé da arvore. Enquanto ele recolhia as maças espalhadas pelo chão, corri para o interior da casa antes que Eun Tae pudesse voltar.

     Meus sentimentos estavam em frangalhos, e eu me encontrava em um turbilhão de confusão. A voz provavelmente não sairia de meus lábios trêmulos para manter uma conversa amigável, já que me encontrava nervosa demais até para agradecer devidamente a sua gentileza. Não conseguia evitar repassar a cena recente na minha mente, uma e outra vez. A imagem daqueles olhos amendoados e intensos parecia gravada no meu coração, como se tivessem desvendado segredos que eu nem mesmo sabia que existiam. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo.

     A voz àquela altura já havia desaparecido, assim como minha coragem. A firmeza em meus tornozelos se perdeu enquanto cambaleava corredor adentro. Logo que passei pela cozinha avistei vovó de relance, mal a olhei, e com o rosto mais vermelho que um tomate segui como um raio até meu quarto.

     Peguei algumas roupas e corri para o banheiro, trancando a porta atrás de mim. Precisava de um momento para acalmar os nervos, e um chuveiro quente parecia ser a melhor opção. Enquanto a água morna me envolvia, minhas mãos traçavam suavemente os arranhões causados pela queda em minha pele, que agora ardiam em protesto como nunca antes. Minha mente estava atolada na cena recente, e o rosto de Eun Tae não saía dos meus pensamentos fazendo com que meu coração martelasse violentamente contra o peito desesperado por espaço, por algum motivo estava impossível acalmá-lo.

     Voltei a face para cima, deixando a corrente morna acariciar minhas bochechas, os olhos fechados e apenas uma imagem em pensamento, aqueles malditos olhos amendoados fitando minha alma intensamente, como se me visse por completo, simplesmente indecifráveis, que provavelmente invadiriam meus sonhos futuros, e que nesse momento, faziam meu rosto arder e a confusão tomar conta de mim - o que diabos foi aquilo!? O que significa... Por que me sinto tão perturbada assim? - a mão grudada em meu peito, tentando me convencer de que tudo isso foi apenas coisa da minha cabeça, antes de desligar o chuveiro para me secar.

     Vesti uma camiseta larga e um short jeans surrado, as únicas peças de roupa disponíveis. Abri a porta do banheiro vagarosamente, espiando o corredor. Respirei fundo e reuni coragem para ir até a cozinha e falar com Eun Tae de maneira normal. No entanto, assim que meus pés tocaram o ruidoso assoalho de madeira, um amontoado de cabelos grisalhos surgiu entre as sombras assustando-me.

Lookism - Esbarrando no Destino (Vasco - Eun Tae)Onde histórias criam vida. Descubra agora