Recomeço exigente

214 10 1
                                    

Isla

Ouço os passos dentro do nosso apartamento assim que o barulho de um objeto quebrando me desperta. Passo minha mão do seu lado da cama, mas não sinto seu corpo. Vinícius tem saído algumas noites sem ao menos me comunicar, me acordar pra dizer que já vem ou onde vai.

Fico com medo assim que as vozes se misturam próximas a porta do nosso quarto, por instantes me desespero tentando pensar em algo pra sair dali, mas é tarde quando um deles entra.

A roupa preta acompanhada da touca que cobre o rosto me impedem de ver quem está por baixo das vestes. Eu tento pegar meu robe na cor marsala que combina com minha camisola de cetim para me cobrir, mas assim que me movo eu ouço o barulho da arma sendo destravada.

Ele caminha chegando mais perto de mim e passa seu braço pelo meu pescoço, como se fosse me estrangular ali mesmo. Vejo outros entrando e vasculhando o cômodo, eles procuram por alguém e eu não consigo entender.

— podem levar o que quiser — tento negociar com quem me segura pelo pescoço, mas ele se mantém calado.

— ele não tá aqui — um homem, vestido da mesma maneira como esse que me segura, diz.

— fala pra mim, vagabunda — sinto ele pressionar o cano da arma contra minha têmpora — cadê a porra do teu maridinho ? — fico estática, no que Vinicius poderia se meter que trouxesse esses homens até nossa casa ?

— eu não sei — falei com dificuldade sentindo ele apertar mais meu pescoço.

— eu vou deixar um aviso através de tu e espero que ele entenda o recado — sinto o impacto da arma na minha cabeça quando ele termina de dizer as palavras.

Abro os olhos sentindo o suor escorrer pela minha testa, meu corpo sobressalta na cama me fazendo perceber que era mais um pesadelo de muitos que tenho desde que tudo aconteceu. Minha respiração ofegante e meus batimentos acelerados me fazem perceber que por mais que o tempo passe, tudo continuará na memória.

Fecho meus olhos inspirando o ar pelo nariz e expirando pela boca, tentando me manter calma depois do terceiro flashback em minha mente do pior dia da minha vida.

Viro meu rosto e direciono meu olhar pelo corpinho pequeno ao meu lado e um pequeno sorriso brota em meus lábios, percebo que só de olhar pra ela já me sinto mais calma.Vejo como é parecida com ele até no jeito de dormir. Seu cabelo cacheado, a cor de sua pele, até a posição que ela mais gosta de dormir é a mesma que a dele.

Isso só me mostra que por mais que eu tente me esquecer ele sempre fará parte de mim. Meu recomeço tem sido exigente, tem feito eu enfrentar meus problemas da maneira mais difícil.

mamãe — olho pra Anneska e de imediato um sorriso se abre em meus lábios, ela é a melhor parte de nós dois.

oi, amor da mamãe — passo minha mão por seus fios bagunçados fazendo carinho na sua cabeça enquanto ela coça os olhinhos.

— tô preguiça hoje — sua voz doce me tranquiliza ainda mais, ouço ela pronunciar as palavras do jeitinho dela e meu coração fica quentinho.

— hum, é uma pena Anne — faço uma carinha triste pra ela — acho que o Lucca vai precisar fazer amigas novas pra brincar com ele então — assim que digo essas palavras vejo ela se agitar na cama.

— Lucca é amigo meu, mamãe — ela tenta cruzar os bracinhos e logo o bico aparece dando forma a sua expressão de brabeza.

— e agora ? — pergunto e ela da de ombros descendo da cama.

Mentira Letal [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora