Sexta é dia de baile

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Fagundes

Parceiro, a vida é realmente uma caixinha de surpresa e quanto mais o tempo passa mais coisa sai de dentro da caixinha. Anneska já tava criando uma rotina comigo, enquanto a Isla resolvia as coisas do dia a dia eu buscava ela na escola e passava a tarde com ela, o costume já era certo e agora até de pai ela já me chama. Os moleques caíram em cima dela, a princesa do pai cativa por onde passa isso é certo.

Tava na minha sala com o Braza e o Monteiro resolvendo os problemas que a favela me trazia diariamente, plena sexta feira e o coro comendo. Era barraco de casal, comerciante na minha orelha, mulher brigando por homem e assim vai, a lista tava extensa hoje.

— e a moça de família quer que eu faça o que ? — perguntei com deboche — Sônia, é o seguinte, essa é a terceira briga que tu me arruma em quinze dias. Eu não quero saber quem tu acha que é teu namorado, noivo ou marido, o que eu quero é que tu pare de arrumar caô.

— ela que começou de deboche, Fagundes — apontou pra outra mulher que tava na nossa frente.

— e tu é inocente né não ? — o Braza perguntou.

— exatamente — ela respondeu e nós três rimos.

Monteiro levantou da cadeira, abriu a porta e chamou o Perneta.

— Perneta, pega a visão, cortezinho maneiro na Sônia pra ninguém botar defeito e tu moça, o recado tá dado sem mais confusão e tu só tá livre porque nem tua cara a gente vê por aqui, vaza — apontou pra porta e o Perneta só confirmou e saiu arrastando a Sônia que gritava pelo cabelo.

— caralho, só pica irmão, que que aconteceu com esse povo hoje ? — Braza disse depois de soltar a fumaça do baseado.

— dia de baile é essa porra ai mermo, confusão atrás de confusão e eu cheio de coisa pra resolver.

— elas vem ? — Braza perguntou se referindo a Helena e a Isla.

— e tu já viu Isla em baile ? — perguntei como se fosse óbvio.

— mas se tu chamar ela vem — Monteiro disse e o Braza sorriu irônico.

— e eu quero ela aqui em baile pra que ? Bando de urubu do caralho em cima da minha mulher, acorda porra — levantei da mesa e segui pro lado de fora deixando eles com a gastação.

......

— eu já tô sabendo de tudo Vinicius e isso não me agrada nem um pouco — olho pra minha mãe e observo ela nervosa na sala da casa dela.

Pra resumir bem o ocorrido ela tá sabendo que eu reencontrei a Isla, mas ainda não sabe da Anne e aí o bagulho é mais embaixo. Minha coroa de fato nunca gostou da Isla por ela ser de uma realidade diferente da nossa, na cabeça dela eu me humilho pra caralho pra ter o mínimo de atenção da minha tropical, mas não é bem assim.

— fica aí correndo atrás dessa garota, ela te largou meu filho, tenha honra e dignidade pra deixar essa mulher pra lá — respeitar os mais velhos era lei, e eu me fazia de surdo.

— mãe, vamo almoçar, foi pra isso que a senhora me chamou não foi ? — falei passando pra cozinha afim de fazer meu prato de comida.

— não meu filho, isso foi só pretexto — abri o olhão pra ela que continuou — o que eu queria mesmo era ouvir da tua boca que essa garota metida a rica voltou pra tua vida.

— chega — disse um pouco alterado — mãe, eu amo a Isla e a senhora sabe que nenhuma foi capaz de mudar esse sentimento e quem errou com ela fui eu — apontei pra mim mesmo — então chega desse papo todo, perdi até a fome — deixei o prato em cima da pia e guiei pra porta.

— Vinicius Fagundes, eu não terminei de falar — ela veio me acompanhando.

— mas eu já ouvi o suficiente por hoje, outra hora eu apareço por aí — fechei a porta atrás de mim e passei pelo portão já bolado.

Mas minha mãe como sempre só queria encerrar o assunto na hora dela e abriu a porta ainda falando pra caralho.

— isso, faça o mesmo de anos atrás, corra atrás dela moleque do caralho, troca tua mãe por essa burguesa safada — apontou pra mim e eu me virei na sua direção.

— mãe, na moral eu respeito a senhora, faço teus gostos e sou o filho mais presente que a senhora tem, então não faz eu dá razão pros meus irmãos não — ela arregalou os olhos e veio na minha direção — pode ficar aí mesmo que eu tô metendo o pé, não vou admitir a senhora falando assim da Isla, até porque pra senhora ela nunca fez nada e muito pelo contrário, sempre te respeitou mesmo ouvindo piadinha da tua parte que eu nunca aprovei, agora ela é mãe da minha filha e se continuar assim nem tua neta põe o pé aqui — soltei tudo de uma vez esperando que ela caísse na real de uma vez.

É foda irmão, tua amar uma mulher e querer o bagulho pra vida toda mas parece que tudo conspira contra, eu reencontrei ela e agora tem a minha filha. É uma oportunidade de recomeçar a nossa vida e dessa vez eu não vou deixar que nada e nem ninguém acabe com isso.

Mentira Letal [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora